A sanfona de Ilza parou de tocar, mas o som da artista segue vivo
Sanfoneira que dedicou a vida à arte morreu aos 74 anos e deixou um legado de resistência
A sanfona de Ilza Feitosa Nogueira silenciou. Mas o som que ela espalhou em vida não se calou e agora faz parte das lembranças de quem teve a sorte de cruzar o caminho da artista sul-mato-grossense. O som ficou nos filhos, netos, nos alunos que aprenderam com ela e nas pessoas que, por tantos anos, frequentaram o sarau de arte promovido por ela no bairro Estrela do Sul.
RESUMO
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Ilza Feitosa Nogueira, sanfoneira sul-mato-grossense, faleceu aos 74 anos deixando um importante legado cultural. Nascida em Jaraguari, começou a lecionar música aos 13 anos e, ao longo da vida, trabalhou na educação e na saúde, sempre ajudando pessoas necessitadas. Após enfrentar problemas de saúde, encontrou na música sua redenção, criando o projeto Origens e Raízes, que por mais de uma década acolheu músicos idosos. Mãe solo de quatro filhos, Ilza faleceu quando se preparava para retomar as aulas de violão, deixando um legado de resistência e amor pela música.
Aos 74 anos, a mulher que nasceu “dentro de uma sanfona”, como ela mesma dizia, partiu, deixando um legado de afeto, resistência e cultura. Dedilhando a sanfona, Ilza desafiou a solidão, o cansaço e a depressão com o mesmo instrumento que embalou a infância no sítio do Bonfim, em Jaraguari. Lá, o pai tocava viola, o tio era sanfoneiro, e a menina de 13 anos já dava aula de música.
“Minha mãe nunca passou em branco. Onde ela chegava, fazia a diferença”, lembra a filha, Cinthia Vanessa. “Ela foi mãe solo em um tempo em que isso era quase uma sentença. Criou quatro filhos com dificuldade, mas com muita dignidade e ainda ajudava quem precisava, mesmo quando em casa a situação era complicada”, acrescenta.
Durante anos, Ilza trabalhou na área da educação, como inspetora de alunos, depois, na saúde, onde desempenhava papel que ia além do setor administrativo. Sempre disposta a ajudar, era conselheira, acolhedora e esperança de quem precisava de um exame, um remédio ou só de escuta.
“Ela era tão prestativa que as pessoas iam bater no portão de casa pedindo ajuda para marcar consulta e até resolver outros problemas. Ela sempre fazia de tudo para ajudar e sem esperar nada em troca. Ajudava de coração”, recorda a filha.
Mas o corpo, um dia, pediu pausa. O trabalho exaustivo a levou a um colapso físico e emocional. Internada por 20 dias, Ilza precisou se reinventar. Foi quando reencontrou a sanfona e, com ela, o sentido de viver.
Da dor, nasceu o projeto Origens e Raízes, que por mais de uma década acolheu músicos idosos esquecidos pelos palcos e pelas políticas culturais.“Lembro na pandemia quando ela ganhou 11 sanfonas do Tribunal de Justiça. Ela ficou emocionada. Fez aquilo acontecer com muito amor. Organizou feiras, saraus, levava alegria pra todo canto”, destaca Ceila Mendes, amiga e parceira musical.
A cada encontro, o Estrela do Sul ganhava vida. As sanfonas e violões se tornaram extensão das mãos e da alma de Ilza. “Ela amava a sanfona como companhia depois de Deus e dos filhos. Dizia que a sanfona deu uma nova vida a ela”.
E foi justamente quando se preparava para retomar as aulas de violão, com alunos já inscritos e cheia de ansiedade, que Ilza partiu. “Ela estava animada, esperançosa. Conversamos um dia antes”, lembra Cinthia.
A amiga Ceila também trocou mensagens com Ilza na véspera. “Ela me convidou pra aula, disse que ia reabrir o projeto. No outro dia, acordei com a notícia. Foi um baque muito forte,” revela.
Ilza partiu, mas deixou frutos. Foram dois casais de filhos, sete netos, amigos, alunos e músicos que hoje continuam seu legado e tocam por ela. "Nessa caminhada, ela atendeu mais de 200 músicos idosos. De alunos de violão e sanfona, foram cerca de 50 pessoas, entre adultos, crianças e idosos", lembra a filha.
Poema escrito por Silmara Nogueira, filha de Ilza:
À Deus, entregamos, com muita saudade, nossa “cartinha de amor” nossa mãezinha, o nome mais doce, o nome que nos chamou à vida: Ilza.
Ela foi as mãos que a tantos se estenderam, o olhar que tirou muitos da escuridão, e o coração que tanto amou…
Hoje há sobre ela a leveza das manhãs, a ternura dos anjos, as mais belas flores e a paz eterna.
Que cada dia que vivermos seja para honrar sua memória, em gratidão por todo o amor e luz que acendeu na terra.
Te amamos, seus filhos.
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