Após 1ª matéria, casal ergueu "império" com café grátis e lanche a R$ 10

Na mesma rua do Bairro Santo Eugênio onde Juliano estacionava o carro para vender salgados a R$ 2,50 e oferecer café de graça, agora ergueu-se um pequeno império. Quase um ano depois da reportagem do Campo Grande News que mostrou sua luta diária na rua, ele e a esposa, Nauane Rodrigues, transformaram R$ 150 em um ponto físico que abriga três negócios no mesmo endereço: a salgadeira que segue servindo o cafezinho da manhã, a pastelaria com pastéis gigantes fritos na hora e a hamburgueria na brasa que desafia a inflação com lanches a R$ 10.

“A gente tinha cento e poucos reais na conta. Eu estava desempregada e ele tinha saído da fábrica de pão que trabalhava. Foi aí que falei pra usarmos isso para investir e trabalhar para nós mesmos, porque sempre quisemos ser independentes”, lembra Nauane.

Com o pouco que tinham, investiram em farinha, óleo e recheios, e a cozinha de casa virou fábrica improvisada. A rotina mudou de vez: as madrugadas passaram a ser de massa e fornada. “Acordava à meia-noite, passava a noite inteira fazendo os salgados, e às quatro, cinco da manhã já estava na esquina vendendo”, completa Juliano.

O começo, porém, não foi fácil. “Eu vinha com 80 salgados e vendia 15, às vezes nem isso”, lembra o empreendedor. O cenário só começou a virar quando um cliente curioso provou, aprovou e resolveu indicar a história ao Campo Grande News, que publicou a primeira reportagem sobre o salgadeiro da esquina.

“Se não fosse o Campo Grande News, eu não estaria onde estou hoje. Para nós, não foi só uma matéria, foi uma chance que agarrei. De 20 salgados, passei para vender 200, 300, 400 por dia”, destaca Juliano.

Mas a virada não veio sem tropeços. Logo após a repercussão, os donos de um comércio vizinho pediram que ele deixasse a calçada. “Ele chegou a ficar abatido, mas eu falei que a gente não podia desistir. Obstáculo vai vir, mas não é motivo para abaixar a cabeça”, relembra Nauane.

Juliano não recuou. Pelo contrário, transformou a dificuldade em promessa. “Eu falei que dali três meses ia tomar conta daquela esquina e trazer mais melhorias. E foi o que aconteceu”, pontua.

Hoje, a promessa virou realidade. Juliano e Nauane conseguiram alugar duas salas no mesmo cruzamento e transformar a esquina em um ponto de encontro. Pela manhã, o movimento começa cedo, com centenas de salgados acompanhados do cafezinho de cortesia. À tarde, a pastelaria assume o balcão com opções a partir de R$ 16. E, quando a noite cai, a fumaça da churrasqueira anuncia a hamburgueria, que chega a vender 500 lanches na brasa por apenas R$ 10, um preço que parece resistir ao tempo e à inflação.

O crescimento impressiona até quem construiu a história. “O que a gente construiu em sete, oito meses, muita gente não consegue em 30 anos de trabalho”, reflete Juliano.

E para eles, não basta apenas prosperar. A mesma mão que recebeu ajuda agora se estende a outros. O casal passou a fornecer salgados a preço de custo para que outros empreendedores possam revender. “Vendemos na faixa de R$ 1 para que revendam a R$ 2,50. Já fomos ajudados, agora é nossa vez de ajudar”, explica Juliano.

Hoje, o casal emprega oito pessoas e planejam abrir uma fábrica de congelados que deve gerar ainda mais empregos. Para Juliano, cada conquista é uma grande vitória: “Para mim nossa história é de dignidade. Antes a gente não tinha nada, hoje temos comércio, casa e respeito”, avalia.

Juliano completa com um aprendizado. "Toda dificuldade que a gente passa é só estímulo para subir mais um degrau", finaliza.

A Schneider Salgados, Pastelaria e Hamburgueria fica na Avenida Guaicurus, 2933, no cruzamento com a Rua dos Democráticos.

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