Colecionador, José Octávio Guizzo deixou “dossiê” cultural do Estado
Livros, cartas, recortes de jornais, convites para eventos e até o manuscrito da biografia de Glauce Rocha fazem parte do acervo.
Músico, radialista e formado em Direito, José Octávio Guizzo foi narrador da cultura por um bom tempo. Conhecido pela dedicação ao cinema regional, era também um colecionador preocupado com a “verdade histórica”. Ele criou um arquivo repleto de documentos e dossiês metodicamente elaborados e catalogados na tentativa de identificar e preservar os primeiros suspiros da arte sul-mato-grossense.
São recortes de jornais, livros, convites para eventos, fichas técnicas, letras de músicas e registros de um tempo em que a cultura parecia ter outro valor e despertar mais curiosidade. Entre o acervo, um dos trabalhos mais detalhados realizados por Guizzo é o manuscrito de uma biografia cuidadosa da atriz Glauce Rocha.
Desde agosto do ano passado, esse material faz parte do acervo do Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso do Sul, ainda há muito a ser catalogado, mas parte do material já está disponível para consulta.
Na tentativa de preservar a “verdade histórica” da mulher que “escreveu um dos capítulos mais importantes das artes cênicas brasileiras”, como o próprio Guizzo descreve na apresentação do livro “Glauce Rocha, atriz, mulher, guerreira”, foram 17 anos de pesquisa reunindo, inclusive, correspondências trocadas com pessoas próximas à atriz. Ele também vasculhou museus e bibliotecas em busca dos registros deixados pela estrela, até a conclusão da biografia publicada em 1996, por sua esposa Marta Guizzo.
Datilografado, o original do livro está acompanhado de todo o material coletado por Guizzo ao longo do caminho. São pastas com incontáveis documentos. Cada carta escrita e recebida de amigos e familiares de Glauce Rocha e citadas na biografia também estão disponíveis para consulta junto aos recortes de jornais e boletins publicados sobre a atriz.
Outra paixão era a música, demonstrada em documentos dos festivais dos quais participou. Com a lista de participantes em mãos, Guizzo tinha por hábito pesquisar informações sobre cada nome citado e, em um resumo datilografado e organizado por ordem alfabética, guarda o currículo de cada um como prova da contribuição dada à música brasileira.
Letras de músicas também estão arquivadas. Nelas, resquícios da ditadura, quando as canções precisavam passar pelo crivo da censura e só “viam a luz do dia” depois de liberadas com um carimbo e assinatura do fiscal responsável.
“Pela diversidade do material que recebemos, nota-se que Guizzo era um pesquisador, essa era principal característica dele. Ele se envolveu com folclore, música, cinema, artes e capaz de ir além da superficialidade de cada tema, também tinha uma grande facilidade em transitar pelos assuntos”, conta a historiadora Maria Madalena Dib Mereb Greco, responsável pelo acervo.
Quando se trata de literatura e poesia, são mais de duas estantes repletas com a biblioteca pessoal de José Octávio Guizzo, com livros que vão de administração, direito, clássicos nacionais e internacionais. Há também uma pasta com recortes, nela os poemas favoritos escritos por Manoel de Barros acompanhados de reportagens do poeta consideradas importantes por Guizzo.
Entre os volumes, um exemplar da Revista da academia Mato Grossense de Letras de 1944, com nomes como Nilo Covas, Dom Aquino, José Mesquita, Otávio Cunho, Severino de Queiroz. Páginas repletas de poesias e artigos, histórias que preservam a cultura e as letras do Estado.
O Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul fica localizado na Avenida Calógeras, 3000 - Centro, Campo Grande. O horário de atendimento é das 7h às 11h e da 13h às 17h, de segunda a sexta-feira. Para mais informações, o telefone de contato é 3384-1654.