Durante 37 anos, Pedro ensinou aos amigos o poder do tempo e do amor
Jornalista e escritor Pedro Martinez morreu na última segunda-feira (19) em Campo Grande
Pedro Martinez, o Pedroka, se despediu desta vida nesta semana, deixando um vazio difícil de descrever e uma herança de amor e coragem. Figura marcante em Campo Grande, ele ficou conhecido não apenas por sua paixão pela literatura e música, mas por falar sem reservas sobre a doença degenerativa que o acompanhava. Nunca como vítima, sempre como resistência. Pedroka viveu como quem entende que o tempo é sagrado demais para ser desperdiçado com silêncio ou medo. Preferia a canção, o riso, o abraço, a conversa sincera.
Abaixo, a jornalista e amiga Marithê Lopes compartilha no Voz da Experiência sua despedida pessoal, num texto que carrega o que Pedro mais espalhava: presença. Uma crônica sobre amizade, poesia e a urgência de viver com verdade. Porque Pedroka não só existiu, ele ensinou a existir.
"Pedroka nunca chegou. Ele sempre esteve. Sempre esteve com um sorriso aberto, à espera de um abraço, de uma conversa longa, de um carinho espontâneo. Era presença. Daquelas que aquecem, que fazem a gente se sentir em casa mesmo num lugar estranho. Pedroka era o tipo de pessoa que agregava: onde ele estivesse, havia riso, afeto e mais gente por perto. Porque ele era isso, um ponto de encontro.
Na escola, a chegada do aniversário dele era um evento. Não se limitava ao nosso grupo de amigos. Era a escola inteira que cantava parabéns, e não era exagero. A escola inteira, sim. Porque todos conheciam o Pedroka. E mais que conhecer: o amavam. Havia uma alegria coletiva em celebrar a existência dele. Cada novo ano era uma vitória dele, e de todos nós que tínhamos o privilégio de caminhar ao lado.
Pedroka era o cantador. Nas nossas rodas de amigos, nas pausas da rotina, nos encontros da vida, a música se fazia presente através da voz dele. Cantava bem, e cantava com a alma. Cantava como quem sabia que o mundo precisava ser suavizado. E ele fazia isso com maestria.
Depois da escola, foi ele quem virou meu abrigo na faculdade. Veterano gentil, era o rosto amigo nos corredores desconhecidos. Mesmo sem estar na mesma sala, saber que ele estava ali era o suficiente para sentir que tudo daria certo. Nossos encontros, antes da aula, nos intervalos ou depois, tinham o poder de me reabastecer. Conversar com Pedroka engrandecia. Era como tomar um banho de luz.
Ontem, essa luz partiu para outro plano. A cerimônia de despedida foi emocionante, tocante, doída. Uma vela acesa, a vela do Chaves, a mesma que brilhava em cada um dos seus 37 aniversários, continuava ali, firme, como símbolo da chama que ele acendeu em cada um de nós. Fotos, lágrimas e abraços entrelaçaram a saudade de todos que, como eu, sentem que Pedroka não se foi. Ele apenas mudou de plano. Porque gente como ele não morre. Gente como ele se eterniza.
Pedroka era poeta e deixou frases que parecem ter sido escritas para este momento. Uma delas não me sai da cabeça:
A importância do amor resultará numa boa vivência. É na utopia do amor que todos ficam em paz.”
Pedroka acreditava no amor.
Acreditava na potência do tempo compartilhado. E essa, talvez, tenha sido sua maior lição: não deixemos o tempo escapar das mãos sem dizer o que sentimos, sem abraçar mais forte, sem declarar o amor, sem cantar juntos uma canção.
No fim da cerimônia, me lembrei daquela música que costumávamos cantar com todo o ar dos nossos pulmões, com os olhos nos olhos: “Bendito encontro na vida, amigo. É tão forte quanto o vento quando sopra. Tronco forte que não quebra, não entorta. Podes crer, podes crer. Eu tô falando de amizade”.
E eu creio, meu amigo. Creio que você continua soprando, forte, entre nós hoje e sempre".
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