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Comportamento

Mãe volta a estudar para apoiar filho e acaba no mesmo curso que ele

Já formada e inseparáveis, Marília compartilha jornada acadêmica aos 48 com Gustavo, de 22 anos

Por Natália Olliver | 11/05/2025 07:33
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Marília Adélia e Gustavo são inseparáeis e cursam o mesmo curso com 26 anos de diferença (Foto: Henrique Kawaminami)

Quem cruza rapidamente com Marília Adélia e Gustavo andando pela universidade pensa que são apenas melhores amigos, mas aqueles que olham com mais atenção notam a semelhança. O que eles não imaginam é que os sorrisos um para o outro e os olhares de cumplicidade são gestos entre mãe e filho que guardam uma história daquelas improváveis.

Já formada, Marília voltou para a faculdade aos 48 anos para ajudar o filho, de 22, em um projeto pessoal. O que a arquiteta não esperava era que, algum tempo depois, Gustavo entrasse no mesmo curso para ajudar a ela.

Ali, entre os tijolos das salas de aula de Publicidade e Propaganda da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), eles são parceiros e apoiadores um do outro. A coisa toda aconteceu porque Gustavo tem uma loja de roupas, e a mãe queria saber como fazer o negócio dele continuar andando. Para isso, ela quis aprender a raiz de todo o processo criativo do jeito tradicional.

A chegada à sala de aula, após mais de 20 anos fora do ambiente acadêmico, foi um choque para ela, não por conta das matérias, mas pela diferença entre as gerações. Sentados nos banquinhos próximos à sala do bloco B, eles contam como essa aventura em dupla começou.

Mãe volta a estudar para apoiar filho e acaba no mesmo curso que ele
Mãe volta a estudar para apoiar filho e acaba no mesmo curso que ele
Marília entrou no curso de Publicidade e Propaganda, da Universidade Católica Dom Bosco, para ajudar filho em e-comerce (Foto: Henrique Kawaminami)

“Isso está sendo muito impactante. Eu tive muito medo de chegar aqui e ter aquele olhar, sabe? Eu não me sinto velha, mas a linguagem é outra, o comportamento é outro, o foco é outro também. Porém, a minha turma me acolheu muito bem. Eu tinha muito receio porque tenho dois filhos na idade das pessoas que estão no meu curso. Tive muita insegurança.”

Ela conta que chegou em casa após uma aula difícil e pensou em trancar o curso, por se achar incapaz de dar conta. O filho a incentivou a não desistir e, no fim, acabou fazendo uma surpresa.

“Cheguei em casa um pouco desesperada, e aí ele falou para eu ir com calma. Na verdade, ele me fez uma surpresa”, comenta Marília Adélia Propício. O filho já cursava Administração quando a mãe começou Publicidade; após ver o cenário, o jovem resolveu colocar mais uma faculdade no futuro currículo.

“Quando eu vi ela em casa, assim, exatamente apreensiva e tudo mais, ocupada, e querendo trancar o curso, eu falei: não! Fui lá e me matriculei junto para acompanhar ela no dia a dia, ajudar ela no que ela precisar, dar esse apoio para não deixar ela trancar e desistir assim. Comecei em Administração por causa da marca onlinea de roupas que tenho”, explica Gustavo Procópio de Freitas.

Ele conta que ambos acham legal que cada um possa entender um pouco melhor cada setor que a empresa precisa para sobreviver. Até então, a mãe estava mais nos bastidores. A união entre a família - não só com o filho, mas com a filha - é mencionada a todo momento. Marília ressalta que é hábito sentarem à mesa para compartilhar coisas da vida e pedir a opinião uns dos outros.

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Marília se emociona ao falar da parceria do filho (Foto: Henrique Kawaminami)

Volta à faculdade

A estudante faz questão de ajudar os alunos no que ela pode, inclusive dando conselhos quando eles pedem. A tendência que os mais velhos tem de  ocuparem um papel de mãe e pai não importa para ela, que até gosta da ideia quando permitido.

“Olha, tem duas pessoas que eu me sinto como mãe, quero acolher mesmo, porque a história delas é inspiradora. Então, às vezes eu quero, mas eu não sei se posso ultrapassar essa barreira, porque cada um tem a sua. Tem uma matéria que eu acho muito essencial dentro do curso, porque ela fala exatamente sobre a gente estar inserido em um lugar onde a gente é diferente, digamos assim. No caso, eu ali, por ser a mais velha da turma, eu sou a diferente dentro desse padrão.”

Gustavo não mede palavras para agradecer à mãe pela ajuda e se emociona timidamente ao tentar falar dela frente a frente. “Uma palavra que define ela é resiliência. Porque a história dela é de muita superação por tudo que ela já passou. Ela estar aqui hoje é mais um ato de resiliência da parte dela, por todo o histórico de problemas pessoais de saúde".

Marília recebe os elogios com lágrimas e conta que a família sempre a apoiou na decisão de voltar para a sala de aula. Ela acrescenta que eles são o sinônimo da força que o filho descreveu.

“O Gustavo e a irmã são tudo para mim. Desde criança eu tinha o sonho de ser mãe, já tinha o nome escolhido. Estar vendo isso com ele é incrível, não tenho palavras para descrever. Eles são a minha força. Faço tratamento para depressão há muitos anos, luto todos os dias para poder conseguir ajudar eles, e estar fazendo isso é incrível. Sempre que posso, falo deles, que eles me dão suporte, que tenho uma família maravilhosa. Tenho o privilégio de ter isso, sei que é difícil.”

Apesar de se dedicar aos filhos - primeiro à mais velha, acompanhando ela durante sete anos nos jogos de vôlei que viraram profissão posteriormente, e agora com a loja do filho -  Marília diz que não se sente em segundo plano.

Ela conta que a primeira faculdade era um sonho de infância dela e do pai e que chegou a exercer a profissão por um período curto. O pai faleceu e as coisas ficaram diferentes. Após a gravidez, ela decidiu parar 100% a vida profissional para vivenciar a maternidade. Por anos, ela ficou “apenas” sendo mãe.

“Foi uma decisão minha, uma escolha minha. Poder fazer por ele, ter essa oportunidade é incrível porque o amor de mãe é o amor que transcende tudo, então não tem uma coisa que me brecaria de fazer. Eu não me sinto em segundo plano, pelo contrário, eu me sinto feliz. Ser mãe no mundo que a gente está hoje, poder proporcionar isso.  A empresa é dele, mas a felicidade dele é a minha, então eu sei que vai agregar para mim também.”

Mãe volta a estudar para apoiar filho e acaba no mesmo curso que ele
Gustavo gosta de ter a mãe na sala e se esforça para ajuda-la (Foto: Henrique Kawaminami)

Festas universitárias?

Todo mundo sabe que universitário não dispensa uma festa, quer dizer, grande parte deles. Mas, Marília não faz parte da maioria. Ela se descreve como tímida e mais tranquila nesse sentido. Os famosos “piseirinhos” não são a praia da estudante.

Gustavo também comenta que as festas não fazem o tipo de rolê que ele curte. Sobre a vida universitária ao lado da mãe, ele conta que a presença dela ali não o inibe de nada e que se sente feliz em compartilhar esse momento.

“É um sentimento muito bom ter a minha mãe ali comigo, de conseguir retribuir uma parte de tudo que ela já fez por mim. Então, ela tá aqui por mim, mas eu também tô aqui por ela. Ela entrou por mim, mas eu entrei junto por ela também. Então, poder estar aqui ajudando ela a continuar, a não desistir... Para mim, é uma coisa muito boa mesmo, estar aqui junto com a minha mãe, que é a minha base, um suporte para tudo na vida”

Marília acrescenta que, se pudesse mandar um recado para as mães que estão desmotivadas ou passando por situações difíceis, falaria para elas nunca desistirem.

Loja

A loja, chamada Sago, nasceu em 2021, quando Gustavo também enfrentava a depressão e precisava focar em algo bom. Ela é uma marca de roupa voltada ao estilo Streetwear e transmite uma mensagem de superação, resiliência e boas vibrações.

Eu transformei a minha dor em algo com o qual eu consigo passar uma boa mensagem para outra pessoa. Aquela pessoa que está num dia difícil pode vestir uma peça em que consiga transmitir boas vibrações e se expressar através do que está vestindo”, explica Gustavo.

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