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Comportamento

Maria faz 30 máscaras por dia e deixa no portão para moradores de rua

Presidente de escola de samba, Maria também torce para que não haja Carnaval em meio a pandemia

Thailla Torres | 26/06/2020 07:18
Maria passou a costurar e doar o item de proteção na porta de casa. (Foto: Marcos Maluf)
Maria passou a costurar e doar o item de proteção na porta de casa. (Foto: Marcos Maluf)

Desde as primeiras orientações do Ministério da Saúde para que todos usem máscaras para se proteger da covid-19 e os decretos municipais que exigem o uso do acessório, a carnavalesca Maria de Fátima da Luz, de 66 anos, passou a costurar e doar o item de proteção na porta de casa, principalmente para ajudar moradores em situação de rua na região central de Campo Grande.

Na Rua dos Ferroviários, todos os dias, ela coloca cerca de 30 máscaras feitas durante a manhã. “É o que eu consigo fazer”, diz Maria, que adaptou a rotina para continuar cuidando da casa, dos netos e agora da costura.

“Eu comecei produzindo máscaras pensando nos coletores de lixo. Eles sempre passavam aqui na frente sem máscaras. Mas a produção foi crescendo e hoje eu faço 30 unidades diariamente”.

As máscaras são penduradas no portão dentro de pacotinhos higienizados, diz. “E quem pega são os invisíveis”, se refere aos moradores que possuem pouco ou nada de acesso a higienização e cuidados contra a doença. “É a forma simples que eu encontrei de ajudar”.

Maria diz que o investimento vem do próprio bolso. “Eu tinha material e fui usando. Daí tentei uma vaquinha, mas não deu certo. Hoje eu economizo o dinheiro e compro o tecido, faço uma máscara dupla, com duas camadas”.

São quase 30 máscaras doadas por dia na Rua dos Ferroviários. (Foto: Marcos Maluf)
São quase 30 máscaras doadas por dia na Rua dos Ferroviários. (Foto: Marcos Maluf)

No grupo de risco, Maria tem artrite e fibromialgia, e está há mais de três meses sem sair de casa. “Eu fico aqui na casa da minha filha, ela é quem vai para rua fazer tudo, inclusive, ela quem que me ajuda com a compra do tecido”, diz.

Conhecida no meio carnavalesco, Maria é presidente da escola de samba mirim Herdeiros do Samba. Mas nem o amor pelo Carnaval sobressai o desejo de saúde, por isso, ela teme que o Carnaval aconteça em meio a pandemia. “Eu espero que ele não ocorra se tudo não estiver bem até lá, espero que todos tenham consciência do que estamos vivendo. É um medo invisível e cabe a nós ajudar da melhor maneira”.

No Carnaval deste ano, a presidente desabafou sobre o que a mantém à frente da escola de samba, mesmo com tantas dificuldades. “Todo ano eu penso em acabar com a escola devido à falta de recursos para mantê-la, mas a cada desfile de abertura e sorriso de cada criança eu me sinto renovada e começo a pensar do desfile do ano que vem. Eu sei que são eles que a mantém”, disse após o desfile.

Em meio a pandemia, o recado se mantém, mas não para 2021. “É pensando nas nossas crianças e em todas as famílias que eu espero que haja consciência. Eu torço para que o Carnaval ocorra só quanto tivermos segurança. A gente ainda não sabe como tudo vai estar no início do próximo ano”, finaliza.

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