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Comportamento

Ninguém suporta mais mimo de fim de ano que só serve para gaveta

Calendários, canecas e mouse pad lideram a lista do que ninguém aguenta mais

Por Clayton Neves | 21/12/2025 08:13
Ninguém suporta mais mimo de fim de ano que só serve para gaveta
O clássico bombom Sonho de Valsa é um dos rejeitados como presente de fim de ano.

Quando o fim de ano chega, o panetone aparece nas prateleiras e, dentro da maioria das empresas, o ritual da entrega dos brindes de Natal se repete com pontualidade quase britânica. O problema é que, para muitos trabalhadores, o presente vem sempre com a mesma cara. Ou melhor: com o mesmo calendário, o mesmo bombom solitário que já virou quase um símbolo de frustração coletiva. São os brindes que o proletariado não aguenta mais receber.

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O fim de ano traz à tona uma questão recorrente no ambiente corporativo: os brindes natalinos que frustram os funcionários. Chocolates solitários, calendários e panetones de baixa qualidade são frequentemente citados como presentes que demonstram falta de consideração, segundo relatos de diversos profissionais. Para especialistas em marketing, o problema vai além da falta de criatividade, refletindo ausência de propósito. A sugestão é optar por brindes úteis, como cestas natalinas, que podem fazer diferença real na vida dos trabalhadores, especialmente para aqueles que recebem até dois salários mínimos.

Há ainda aquelas empresas de fora que resolvem presentear outras com mimos que não são nada úteis,  e muitos deles acabam esquecidos em alguma gaveta ao longo do ano seguinte. E, nesse caso, não é ingratidão. É dúvida mesmo. Fica a pergunta: será que essas empresas estão pensando estrategicamente na hora de presentear?

Afinal, dar um mouse pad com uma logomarca enorme para um lugar onde todo mundo já tem mouse pad dificilmente resolve alguma coisa. Recentemente, só dentro de uma redação, dos 18 mouse pads recebidos, mais de 10 nunca foram utilizados. Uma dentista também enviou uma leva generosa de brindes: saquinhos de lixo para carro com a logo da clínica. Resultado parecido. Ninguém usou. Uma sacola inteira ficou ali, esquecida na gaveta.

Fora o turbilhão de papéis com “boas festas” que é recebido todo ano de autoridades públicas, que ainda acham uma boa ideia gastar com impressão quando, na prática, tudo acaba indo direto para o lixo. É gastação de dinheiro mesmo.

E, claro, o assunto corre solto nas ruas. Inclusive entre aqueles que vestem a camisa da empresa o ano inteiro, a sensação é de que o presente até vem, mas a empolgação ficou em algum Natal passado.

A técnica de enfermagem Mayara Lopes, de 28 anos, resume bem esse sentimento. Atuando na área da enfermagem, ela diz que já perdeu a conta de quantas vezes recebeu um chocolate como “agradecimento”.

“Olha, eu acho que ninguém mais aguenta ganhar chocolate. Aquele bombom, sabe? Você trabalha o ano inteiro e, quando chega numa data comemorativa, ganha um bombom. Parece pouco, sabe?”, conta.

Para ela, brindes repetidos e que não são usáveis, também passam uma mensagem. “A gente se sente desvalorizado. Você veste a camisa da empresa, faz o que pode, trabalha da melhor forma, e no fim do ano tudo que você espera é ser lembrado com empatia. Nem sempre é o que acontece no mercado de trabalho”, desabafa.

O presente ideal seria simples e direto.  Dinheiro. “Uma gratificação. Mesmo que não seja algo absurdo. Uns 500 reais já ajudariam muito. Dá para comprar o peru de Natal, organizar as coisas de casa”, avalia.

Ninguém suporta mais mimo de fim de ano que só serve para gaveta
Leonam lembra com saudade dos tempos em que cesta de Natal era turbinada. (Foto: Juçiano Almeida)

A atendente Mariléia Alvarenga, de 51 anos, tem uma longa trajetória no mercado de trabalho. Começou cedo, ainda adolescente, passou anos dedicada à casa e aos filhos e depois voltou a trabalhar, inclusive como agente de limpeza.

Ela conta que, embora nem sempre tenha recebido brindes ruins, já viu de tudo, inclusive o famoso panetone “inferior”. “Minha filha trabalha em atendimento e comentou que as colegas estavam reclamando dos brindes. Panetone de marca inferior, aquele mais barato, bem seco mesmo”, relata.

Mas ela diz que já viveu experiências bem diferentes. “Teve empresa que dava cesta ótima, com peru, panetone das melhores marcas, caixa de bombom. Mas isso é raro”, observa. Para ela, entre ganhar algo ruim e não ganhar nada, a escolha é difícil.

E se existe um brinde que aparece como unanimidade entre os trabalhadores, ele atende pelo nome de calendário. O profissional da construção civil Leonan Dias, de 27 anos, não esconde a frustração. “Calendário tem em qualquer lugar. Tem no celular, tem no posto, tem no gás. Quem gosta de calendário hoje em dia?”, questiona.

Ele conta que já recebeu um desses brindes e o destino foi rápido. “Cheguei em casa, meu filho pegou pra brincar. Acabou ali”, pontua.

Leonan lembra com nostalgia de outros tempos que já viveu no meio corporativo. “Antigamente vinha a cesta com coisas boas, panetone, peru, bebida. Aquilo fazia diferença. Hoje isso cortou”, afirma.

No entanto, para alguns trabalhadores, o problema nem é o presente ruim. É simplesmente não receber nada. A panfleteira Maria Alice, de 31 anos, diz que até hoje nunca ganhou um brinde de fim de ano das empresas onde trabalhou.

Ninguém suporta mais mimo de fim de ano que só serve para gaveta
Canecas são presentes comuns no meio corporativo. (Foto: Freepik)

“Nada. Nem panetone, nem caneta, nem calendário. Nem um chocotone Balducco”,  brinca.Apesar do tom leve, ela admite que a ausência pesa. “A gente se sente meio nada. Trabalha, dá o melhor, e quer ser reconhecido de alguma forma. Presente não substitui  atitude, mas faz o funcionário se sentir valorizado”, avalia. Para ela, o mínimo seria uma cesta básica. “Isso ajuda de verdade”, finaliza.

A auxiliar de limpeza Ester da Cruz, de 25 anos, resume outro clássico dos brindes corporativos. O panetone ruim. Veja bem, estamos falando daquele panetone seco que mal dá para engolir. “Todo ano é a mesma coisa. Panetone seco, sem gosto. Aquele bem baratinho”, conta.

Apesar de agradecer, ela diz que a repetição cansa. “Todo ano a mesma coisa não desce mais. Deveria mudar pelo menos alguma coisinha”, afirma.

Mas por que as empresas insistem no óbvio?

Para o consultor de marketing Josué Sanches, o problema não é só criatividade, é falta de propósito. “As empresas continuam dando agenda, caneca, coisas que não têm utilidade. É igual festa de criança, que você volta para casa com uma caneca com a foto do filho dos outros e tem que usar aquilo”, brinca.

Segundo ele, o erro está em não pensar nas pessoas. “Não é sobre negócios, é sobre gente. Valor é aquilo que faz sentido para quem recebe”, explica. Segundo ele, brindes de consumo e com significado são uma boa aposta.

“Comida funciona. Não vira lixo, não fica acumulando em gaveta. Pode ser simples, mas tem uso”, sugere.

Ninguém suporta mais mimo de fim de ano que só serve para gaveta
Para quem trabalhou o ano inteiro, o desejo é receber uma bela cesta de Natal

Para fugir do óbvio e ainda fortalecer a economia local, o consultor de marketing conta que, na própria empresa, opta por presentear os funcionários e clientes com produtos feitos por pequenos empreendedores da cidade.

“Eu sempre procurei dar coisas que têm a ver com os valores da empresa. No ano passado, por exemplo, comprei doces de compota caseiros de um artesão local para presentear clientes e colaboradores. É uma forma de incentivar quem está empreendendo aqui, quem está começando”, explica.

De acordo com ele, esse tipo de brinde costuma ter retorno positivo. “Quando você compra de um comerciante local, você gera impacto em mais de uma ponta. O colaborador recebe algo diferente, que não é mais uma caneca ou agenda, e o empreendedor também é fortalecido. Todo mundo ganha”, destaca.

Josué lembra que, para trabalhadores que vivem com um ou dois salários mínimos, uma cesta natalina faz muito mais diferença do que um mimo simbólico. “Uma cesta garante o Natal da família. Isso é valo. As pessoas não estão esperando luxo. Estão esperando ser lembradas”, finaliza.

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