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Comportamento

Pai sem dinheiro fez o que pôde e inspirou a profissão dos filhos

Tudo começou por falta de dinheiro e hoje a profissão do pai é o orgulho da família

Por Clayton Neves | 03/06/2025 06:48
Pai sem dinheiro fez o que pôde e inspirou a profissão dos filhos
Fernando na barbearia ao lado dos filhos, Victor e Fernandinho. (Foto: Juliano Almeida)

Nem todo filho quer seguir os passos do pai, mas na barbearia do Fernando Duarte a história é outra. Por lá, a tesoura e a navalha são herança que atravessaram gerações.

Aos 45 anos, Fernando virou barbeiro na marra, cortando o cabelo dos filhos porque não tinha dinheiro, nem alternativa. Mas foi do improviso que serviu de experiência e teste de resiliência,  nasceu a profissão que virou tradição na família.

Com orgulho, o pai conta que a barbearia no Bairro Guanandi II virou ponto de encontro e escola de vida para os filhos, Victor Duarte, de 28 anos, e o caçula,  Fernando Duarte, de 21 anos, o Fernandinho.

Pai sem dinheiro fez o que pôde e inspirou a profissão dos filhos
Alem dos filhos, Barbearia Mister Duarte emprega e forma outros jovens. (Foto: Juliano Almeida)

O pai lembra que a história do negócio começou no início dos anos 2000, quase por acaso. “Eu tinha uns 20 anos e fazia parte de um grupo de Pagode. Fui com a banda para o Paraguai e acabamos morando lá uns cinco meses. A galera precisava cortar o cabelo e não tinha quem fizesse. Aí fui eu mesmo, no instinto”, relembra Fernando.

Sem formação, sem ferramentas profissionais, ele passou a cuidar do visual dos colegas. Fazia barba, cortava, até pintava cabelo. Mas o gosto pela coisa não veio de imediato. “Não despertou nada. Quando voltamos para Campo Grande, continuei cortando só os amigos mais próximos”, lembra.

Pai sem dinheiro fez o que pôde e inspirou a profissão dos filhos
Empresa começou com espaço simples, no fundo da casa de Fernando. (Foto: Arquivo Pessoal)

A ideia começou a germinar quando um dos colegas fazia questão de atravessar a cidade, do Coronel Antonino até o Bairro Aero Rancho, só para fazer a barba com Fernando. Ainda assim, a barbearia parecia distante.

Depois de ser pai de três meninos e uma menina, e enfrentar dificuldades financeiras, Fernando encontrou no corte de cabelo uma necessidade doméstica. “Não tinha como pagar para cortar o cabelo dos meninos. Comprei uma maquininha barata e comecei a cortar em casa. Só pra manter", relata.

A virada veio por volta de 2012. Ao chegar do antigo trabalho, ele encontrou vários garotos esperando na frente de casa para cortar cabelo com ele. A irmã, Ana, lançou a ideia. “Ela me perguntou por que eu não monta um salão. Na hora não imaginei como alfo concreto, mas decidi fazer o curso”, detalha.

Pai sem dinheiro fez o que pôde e inspirou a profissão dos filhos
Fernando tem 45 anos e além de administrar a barbearia é cantor de pagode. (Foto: Juliano Almeida)

E foi na sala de aula que a confirmação veio da própria professora, que notou o talento e disse que ele estava pronto para seguir na profissão.

O primeiro salão era uma peça pequena, nos fundos de casa. No ano seguinte, o filho mais velho, Victor, começou a ajudar, varrendo o chão e atendendo os clientes mais “de boa”. Logo virou barbeiro. Depois veio Matheus, sobrinho de Fernando. Daí em diante, o negócio só cresceu.

Foram aumentando as cadeiras, contratando mais gente e atendendo cada vez mais clientes, muitos trazidos pela fama que Fernando já tinha como músico.

Pai sem dinheiro fez o que pôde e inspirou a profissão dos filhos
Fernandinho é o filho mais novo e começou com 13 anos. (Foto: Juliano Almeida)

“A música me abriu portas. Muita gente vinha cortar comigo por amizade. E quando vi, o salão não comportava mais. Fomos para um espaço maior”, conta. O negócio prosperou, virou referência no bairro, e mais membros da família entraram no time.

Hoje, a barbearia opera por sistema de assinatura e está sob o comando dos filhos. Fernando, que não pega mais na tesoura há dois anos, agora se dedica à parte administrativa e ensina adolescentes que querem aprender a profissão.

O mais novo dos filhos Barbeiros,  Fernando, lembra que começou aos 13, levado pela mãe para fugir das más companhias. “Eu estava aprontando e minha mãe ficou preocupada e pediu pra o meu pai me colocar para trabalhar. No começo, só varria, ajudava no caixa, mas fui aprendendo”, pontua.

Pai sem dinheiro fez o que pôde e inspirou a profissão dos filhos
Equipe da Barbearia Mister Duarte, no Bairro Guanandi II. (Foto: Juliano Almeida).

Apesar da resistência inicial, hoje ele não se vê em outro lugar. “No início eu não queria, parecia castigo. Mas hoje eu agradeço. Meu pai me ensinou a ser homem, a ter um emprego. Se não fosse por ele, não sei onde estaria. A barbearia é onde eu me achei. Amo o que faço, conheço gente nova todo dia. É meu lugar", avalia.

Victor Duarte, o mais velho, seguiu o mesmo caminho, mas por uma encruzilhada diferente. Em 2014, aos 17 anos, estava na UFMS, cursando Artes Visuais. Uma greve da universidade e a dúvida sobre o futuro o fizeram aceitar o convite do pai. “Ele estava começando na barbearia e me chamou. Entrei no mesmo curso que ele fez e fui aprendendo com ele, na prática”, lembra.

Pai sem dinheiro fez o que pôde e inspirou a profissão dos filhos
Victor tem 28 anos e há 11 virou barbeiro inspirado pelo pai. (Foto: Juliano Almeida)

Mais do que profissão, a barbearia virou projeto de vida. Victor já tem dois filhos, um menino de 6 anos e uma menina de 8. Hoje, acredita que o legado pode chegar até a terceira geração. “Meu filho já pede pra cortar cabelo”, Revela Victo.

“Eu acredito que daqui a pouco meu neto vai estar aqui também, com a gente”, diz Fernando.

Para quem começou cortando cabelo por necessidade, o barbeiro veterano agora enxerga na profissão um elo de amor, disciplina e transformação. “O maior presente da minha vida é ver meus filhos seguirem esse caminho. Saber que dei a eles um futuro e que eles aceitaram isso", finaliza o pai.

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