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Comportamento

Paixão que começou há oito anos vai levar Clarice para fora do Brasil

Clarice Sobreira descobriu amor pela bocha e, agora, jogará no Cali 2024 World Boccia Challenger

Por Mylena Fraiha | 23/09/2024 07:15
Clarice durante treino de bocha no pátio da Escola Estadual Professora Flavina Maria da Silva (Foto: Henrique Kawaminami)
Clarice durante treino de bocha no pátio da Escola Estadual Professora Flavina Maria da Silva (Foto: Henrique Kawaminami)

Há oito anos, a estudante Clarice Farias Sobreira, de 19 anos, descobriu sua paixão pela bocha e, hoje, está prestes a representar o Brasil no Cali 2024 World Boccia Challenger, na Colômbia. Ela é uma das dez atletas que foi convocada para fazer parte da Seleção Brasileira de Jovens de Bocha Paralímpica. Refletindo sobre todos os desafios, a jovem nunca imaginou que a bocha a levaria para fora do País.

Com um sorriso no rosto e cheia de animação, a jovem atleta compartilha com o Lado B sua ansiedade e emoção após ser convocada, pela primeira vez, para competir fora do país. Inclusive, além de representar o Brasil, Clarice é também a única atleta selecionada de Mato Grosso do Sul neste ano. A competição está prevista para acontecer nos dias 4 a 13 de outubro deste ano.

Fiquei muito emocionada, porque nunca esperei isso. Nunca imaginei que representaria o Brasil. E quando me falaram que eu iria para a Colômbia, foi emocionante, a primeira vez indo para fora, com uma missão tão grande. É uma responsabilidade enorme, mas estou dedicando muito", explica Clarice.

Ela mostra bola utilizada em partida de bocha (Foto: Henrique Kawaminami)
Ela mostra bola utilizada em partida de bocha (Foto: Henrique Kawaminami)

Clarice nasceu com paraparesia crural,  uma condição que se caracteriza pela perda parcial da capacidade de movimentar os membros inferiores. Desde os seis anos de idade, ela usa cadeira de rodas para se locomover.

Mas isso nunca foi um impedimento para Clarice experimentar o esporte, fazer amizades e se dedicar aos estudos. Foi na Escola Estadual Professora Flavina Maria da Silva, localizada no Jardim Morenão, que ela se descobriu na bocha. "O interesse começou na escola. Me chamaram para participar e ver se eu gostava, aí eu gostei e quis continuar", explica Clarice.

Segundo Adriana Bringel, técnica de bocha e assistente esportiva de Clarice, o talento da jovem foi percebido desde cedo, aos 11 anos. "Ela sempre teve muito potencial, mesmo quando criança. Apesar de algumas dificuldades no início, aos 11 anos já se destacava. Eu percebi que ela tinha talento para ingressar na seleção brasileira".

Treinadora Adriana explica que Clarice sempre teve potencial para ser selecionada (Foto: Henrique Kawaminami)
Treinadora Adriana explica que Clarice sempre teve potencial para ser selecionada (Foto: Henrique Kawaminami)

A jovem chegou a participar dos Jogos Escolares Paralímpicos. Entretanto, aos 17 anos, Clarice fez uma pausa no esporte. Nesse período, Adriana explica que ficou “arrasada” por perder uma atleta talentosa.

“Depois que ela parou, a gente se afastou um pouco, mas eu via que ela ainda curtia algumas coisas da bocha. Aí, um dia, falei com ela e perguntei se ela queria voltar. Ela disse que sim, que queria tentar de novo. Falei com a mãe dela, que disse que se ela quisesse voltar, estava tudo bem, ninguém ia forçar. Então, ela voltou, e foi aí que as coisas começaram a acontecer de novo”, explica Adriana.

O retorno aconteceu em abril deste ano, quando Clarice participou de um campeonato em Curitiba. "Notaram o potencial dela e a convidaram para a fase de treinamento em São Paulo. Ela passou pela primeira e segunda fases e foi convocada para a Colômbia."

Segundo Clarice, o retorno ao esporte foi inesperado, mas surpreendentemente positivo. "Eu pensei: 'Vou voltar', mas não esperava ir tão longe. Conquistei o segundo lugar em Curitiba, e depois veio a convocação para a fase de treinamento da seleção de jovens. Foi mais do que eu esperava, coisas muito boas aconteceram comigo”.

Apoio é a base - A escola onde Clarice estuda também desempenha um papel fundamental em seu sucesso. O diretor, Dilmar Ricardo Ribeiro, ressalta que, além do esforço de Clarice, essa convocação para jogar na Colômbia também é resultado de um esforço coletivo.

"O trabalho que fazemos para apoiar a Clarice envolve toda a escola, desde o pessoal da portaria até a secretaria, que ajuda com os documentos para suas viagens. Todos estão envolvidos, e isso é muito bacana", explica Dilmar.

Rosana [à esquerda], Dilmar [centro] e Adriana [à direita] posam com Clarice e ressaltam o papel do esforço coletivo (Foto: Henrique Kawaminami).
Rosana [à esquerda], Dilmar [centro] e Adriana [à direita] posam com Clarice e ressaltam o papel do esforço coletivo (Foto: Henrique Kawaminami).

Os professores, em conjunto com a professora de apoio, Rosana de Almeida Campos, garantem que Clarice não fique para trás nos estudos. "O esporte ajuda bastante. Mesmo com as ausências, por causa das viagens, ela é uma excelente aluna, tira boas notas. Ela sempre se esforça para colocar tudo em dia quando retorna das competições."

Já a mãe de Clarice, a dona de casa Verônica Pereira Farias, explica que o crescimento e a responsabilidade da filha são motivos de orgulho. "Ela mudou muito, ficou mais responsável, se preocupa em fazer as coisas certas e sempre dá o melhor de si. O esporte ajudou muito com essa disciplina. Agora, saber que ela vai representar o nosso país é incrível. Parece que ela cresceu tão rápido", disse Verônica.

Sobre o futuro, Clarice explica que já tem planos de continuar treinando bocha profissionalmente. Agora no terceiro ano do ensino médio, ela conta que levará consigo boas lembranças do período escolar, especialmente das amizades. "Eu pretendo levar um pouquinho deles comigo. E também vou levar a escola no coração!".

Clarice posa com seus colegas de sala do terceiro ano do ensino médio (Foto: Henrique Kawaminami).
Clarice posa com seus colegas de sala do terceiro ano do ensino médio (Foto: Henrique Kawaminami).

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