Trio resgata tradição e aposta em chorinho com um toque de MS
Trio é resultado do Coletivo Vibrações, lançado em 2019 e que reuniu diversos artistas locais
Em uma cidade onde o sertanejo reina e a fronteira sonora se mistura com o rasqueado, chamamé e a polca paraguaia, o ‘Trio Vibrações’ aposta em uma tradição musical bem brasileira, mas pouco presente nas rodas do sul-mato-grossense. O chorinho.
Formado pelos músicos Lucas Rosa, Júlio Borba e Brenner Rozales, o grupo tem feito apresentações regulares na 14 de Julho. Para eles, o objetivo é resgatar e manter a beleza e o improviso do choro, aproximando cada vez mais o gênero dos campo-grandenses.
Natural de Glória de Dourados, Lucas Rosa, de 30 anos, foi iniciado na música pelo coral da igreja e pela fanfarra da cidade. Ao chegar em Campo Grande para cursar música, aos 16 anos, descobriu o chorinho e nunca mais largou.
“Eu conheci o choro aqui, por volta de 2014, com o grupo Opus Trio. Depois disso, fui tocando em vários projetos até me envolver com o Coletivo Vibrações em 2019”, relembra. Na época, o Coletivo era uma roda aberta. Chegava quem quisesse tocar. Em uma mistura viva e espontânea, o grupo chegou a ter oito músicos dividindo a roda.
Mas foi em 2024 que o nome Vibrações renasceu com nova cara e nova proposta. O trio fixo formado por Lucas no pandeiro e voz, Júlio no violão de sete cordas e Brenner na viola sinfônica e violino.
Júlio Borba, de 35 anos, entrou na música tocando guitarra e ouvindo heavy metal. Mas foi aos 16 que encontrou o violão clássico no projeto Musicalizando, em Campo Grande. A partir daí, mergulhou na música erudita, estudou na UFMS, fez mestrado e doutorado em Etnomusicologia e retornou às raízes sul-mato-grossenses com olhos de pesquisador e ouvidos de artista.
“O violão de sete cordas tem tudo a ver com a nossa cultura, com a mistura entre o choro, o rasqueado e a polca. Tem uma força própria, é um instrumento que caminha entre a música regional e a erudita com naturalidade”, explica.
Para Júlio, o choro é mais que um estilo musical. “Ele é ao mesmo tempo improviso, erudição, festa, técnica. E dentro dele cabem o samba, o maxixe, a valsa, o xote. É múltiplo como nosso País”, pontua.
O mais jovem dos três, Brenner Rozales, de 27 anos, começou a tocar no projeto social da Fundação Barbosa Rodrigues e não parou mais. Em 2015, foi aprovado na Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo. Depois, recebeu bolsa para estudar em Israel.
No entanto, o destino o trouxe de volta em 2023, em meio ao início do conflito entre Israel e Palestina. De férias em Campo Grande, o músico optou por não retornar ao País. “Decidi ficar. Aqui sempre foi minha base, e foi o momento certo para retomar algo especial”, conta.
Esse “algo” era o chorinho tocado com alma sul-mato-grossense. “O choro nunca foi muito popular por aqui, mas isso não quer dizer que não tenha público. É só mostrar. Tem gente que diz que não gosta, mas nunca ouviu de verdade”, diz.
A nova fase do grupo tem foco na simplicidade e na autenticidade. “Nossa formação é rara. Um pandeirista que canta, um violonista de sete cordas e um violinista. É diferente, mas funciona”, explica Júlio.
O repertório traz nomes clássicos do choro, como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo, entre outros. Mas também abre espaço para composições próprias e adaptações com influência regional. “A gente pega a base do choro e deixa ela beber do rasqueado, do chamamé. É o choro com sotaque sul-mato-grossense”, define Lucas.
As apresentações acontecem aos domingos, a partir das 16h30, na 14 de Julho, no bar Prosa, e o objetivo do trio é criar tradição. “Queremos que as pessoas saibam que domingo tem chorinho na cidade. É uma forma de ocupar o espaço público com cultura e música de qualidade”, diz Brenner.
Na avaliação dos músicos, o Trio Vibrações não quer só tocar, quer fazer história, formar público, incentivar novos músicos e consolidar um repertório regional de choro. “São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba já têm uma cena autoral forte de choro. Campo Grande também pode ter. Nós temos bons instrumentistas, história e mistura cultural”, afirma Júlio.
Por enquanto, o grupo segue com shows locais, mas o sonho é levar o som adiante. “A gente quer mostrar que o choro é vivo, é atual, e que em Mato Grosso do Sul ele tem uma voz própria”, finaliza Lucas.
Siga o Lado B no WhatsApp, um canal para quebrar a rotina do jornalismo de MS! Clique aqui para acessar o canal do Lado B e siga nossas redes sociais.