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Lado Rural

Estado prepara série de ações para ajudar a recuperar pecuária do Pantanal

Entre elas, retenção de matrizes, crédito para cercas, compra de equipamentos, insumos e reforma de pastagens

Por José Roberto dos Santos | 19/08/2024 13:30
Comitiva conduz boiada no Pantanal; regime de seca e cheias mudou e bioma sofre também os efeitos das mudanças climáticas. (Fotos: Arquivo/Governo MS)
Comitiva conduz boiada no Pantanal; regime de seca e cheias mudou e bioma sofre também os efeitos das mudanças climáticas. (Fotos: Arquivo/Governo MS)

Com um rebanho bovino estimado em 3,8 milhões de cabeças, o Pantanal é uma área estratégica para a pecuária de cria e recria para o Mato Grosso do Sul. O município de Corumbá é o principal fornecedor de animais de zero a 12 meses dentro de MS. A importância deste celeiro de bezerros não é apenas restrito ao MS, outros estados recebem bezerros gerados em Corumbá, como São Paulo e Mato Grosso.

"Os incêndios florestais afetaram cerca de 1,2 milhão de hectares, entre florestas, áreas particulares e áreas de preservação permanente", estima Jaime Verruck, titular da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) em entrevista à coluna Lado Rural.

Não há como estimar o prejuízo causado pelo fogo e pela seca, mas o fato é que hoje para reconstruir um quilômetro de cerca, por exemplo, o produtor irá gastar cerca de R$ 12 mil, "e tem produtor que perdeu de 30% a 40% do cercamento de suas propriedades", calcula o secretário.

Jaime Verruck destaca o fato de que o Pantanal é afetado pelas mudanças climáticas. "O Pantanal tem um ciclo de seca e enchentes de 5 em 5 anos, houve uma alteração substancial desse período e não temos mecanismos capazes de prever essas alterações de forma a avaliar melhor essa condição climática".

Algumas ações o governo garante estar adotando, como a manutenção de dragagem dos rios utilizados para transporte do gado e já prepara o lançamento de um programa que prevê a instalações de estações meteorológicas em todo o Pantanal. Hoje só tem uma. "Estamos investindo em energia elétrica através do Programa Ilumina Pantanal e também construindo estradas para melhorar o escoamento da produção", afirma Verruck.

Na análise do secretário, quando se olha os efeitos dessas mudança climática em termos de seca, significa imediatamente a redução de disponibilidade de pastagens e de água para a pecuária da região, "então precisamos de novas possibilidades para aquisição de alimentação e de fornecimento de água para os rebanhos afetados". Isso, ainda, sem falar dos prejuízos ao turismo e à mineração na região.

O impacto é significativo para os produtores. Em curto prazo temos o risco de o pecuarista, não tendo como alimentar o gado, optar pela venda das matrizes, assim evita a perda de peso e a mortalidade. Por outro lado, isso cria um problema de longo prazo para a pecuária pantaneira por reduzir no futuro a produção de bezerros, seu principal produto.

Retenção de matrizes

O governo está preparando o lançamento de um programa emergencial de financiamento ao pecuarista pantaneiro, com o principal foco na retenção de matrizes, que consiste na formação de crédito de capital de giro ao pecuarista, para que ele não precise vender sua matriz e possa comprar suplemento alimentar e recuperar suas pastagens.

"Estamos tratando disso junto com a Sudeco [Superintendência do Desenvolvimento do Centro Oeste] juntamente com o Mato Grosso, temos uma minuta pronta para daqui duas semanas levar numa reunião e reivindicar a aprovação de uma linha de financiamento com juros reduzidos e para, não somente financiar a retenção de matrizes, mas também a recuperação de pastagens, recomposição de cerca, compra de máquinas e equipamentos que esse produtor necessita no âmbito do Pantanal", garante Jaime Verruck.

Além disso, o Estado tem o Programa de Pecuária Orgânica e Sustentável do Pantanal, focado na intensificação da pecuária orgânica. "A ideia é colocar 100% dos produtores no futuro dentro do conceito da pecuária sustentável. O Estado tem programa de incentivo direto ao produtor que paga um prêmio na média de R$ 150 por cabeça", conclui o secretário.

Segundo o Boletim Casa Rural, da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), de fevereiro deste ano, no Pantanal os índices produtivos são mais baixos que no restante de MS, em função das características intrínsecas do bioma, resultando em margens brutas menores nas propriedades rurais, e as oscilações negativas no valor do bezerro causam prejuízos aos produtores.

A pecuária de cria – considera o boletim – é uma atividade de ciclo longo, onde desde a prenhez das matrizes até a desmama dos bezerros são aproximadamente 18 meses. Por estes motivos, criar soluções, ferramentas e condições para que o produtor rural permaneça nessa atividade são fundamentais para a sustentabilidade da economia no Pantanal.

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