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Lado Rural

Irrigação no ponto certo reduz em 41% a emissão de gases do trigo no Cerrado

Pesquisa da Embrapa mostra que repor água quando 40% da umidade do solo é usada aumenta a produtividade

Por José Cruz | 02/12/2025 09:55
Irrigação no ponto certo reduz em 41% a emissão de gases do trigo no Cerrado
Com a reposição da água após o uso de 40% da capacidade da água disponível (CAD) do solo, o trigo alcançou a maior produtividade. Foto: Jorge Chagas.

Um ajuste simples no calendário de irrigação do trigo pode reduzir pela metade a emissão de gases de efeito estufa no Cerrado sem prejudicar a produtividade. Pesquisa inédita da Embrapa Cerrados, realizada entre 2022 e 2024, identificou que o momento ideal para irrigar é quando as plantas já utilizaram 40% da água disponível no solo.

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A pesquisa da Embrapa Cerrados revelou que ajustar o momento da irrigação do trigo pode reduzir em 41,3% a emissão de gases de efeito estufa no Cerrado. O estudo identificou que o ponto ideal para irrigação é quando as plantas consumiram 40% da água disponível no solo, resultando em produtividade de 6,8 toneladas por hectare.O experimento, conduzido em Planaltina (DF), demonstrou que manter uma umidade intermediária no solo proporciona melhor equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade ambiental. Surpreendentemente, em condições ideais de irrigação, o solo do Cerrado atuou como absorvedor de metano, fenômeno raramente observado em sistemas irrigados.

O estudo avaliou quatro estratégias de reposição hídrica — com o solo usando 20%, 40%, 60% e 80% da água armazenada — e concluiu que a reposição após 40% do uso da capacidade de água disponível (CAD) é o ponto de equilíbrio entre rendimento, economia de água e impacto ambiental.

Com esse manejo, o trigo alcançou produtividade de 6,8 toneladas por hectare e registrou o menor índice de emissão de óxido nitroso, gás quase 300 vezes mais potente que o CO₂. Em comparação ao controle feito com irrigação tardia, quando 60% da água do solo já havia sido consumida, as emissões caíram 41,3%, enquanto a produção aumentou em 19%.

Segundo a pesquisadora Alexsandra Oliveira, responsável pelo estudo, a mudança no momento da irrigação altera diretamente a dinâmica de gases no solo. “Manter uma umidade intermediária, em torno de 40%, proporcionou o melhor equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade ambiental. É uma estratégia climaticamente inteligente”, afirma.

O comportamento do metano também surpreendeu. Em condições ideais de irrigação, em vez de emitir o gás, o solo do Cerrado atuou como dreno, absorvendo CH₄ da atmosfera — um efeito pouco observado em sistemas irrigados.

O experimento foi conduzido em Planaltina (DF), em lavouras de trigo cultivadas no inverno após a colheita da soja, sob sistema de plantio direto. Para monitorar a umidade, sondas foram instaladas a 70 centímetros, profundidade onde se concentram as raízes. As emissões foram medidas com câmaras estáticas, método reconhecido pelo IPCC.

De acordo com os pesquisadores, o estresse hídrico causado por longos períodos de solo seco, seguido de irrigação intensa, estimula microrganismos responsáveis pela liberação de óxido nitroso. Já a irrigação precisa, sem excesso e no momento adequado, mantém o solo estável e reduz o impacto climático.

A pesquisa aponta que o uso inteligente da água não só mantém altos níveis de produtividade como também ajuda o Cerrado a operar no limite mais sustentável possível para a produção do trigo. “Não se trata de irrigar mais ou menos, mas de irrigar na hora certa”, resume o pesquisador Jorge Antonini.