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Lado Rural

Sucesso da colheita de soja em MS agora depende de São Pedro

Sob impacto do El Niño, safra de soja apresenta perdas irreversíveis em praticamente todos os estados

Por José Roberto dos Santos | 19/01/2024 11:35
Equipe do Rally da Safra avalia lavoura de soja em propriedade rural. (Foto: Divulgação)
Equipe do Rally da Safra avalia lavoura de soja em propriedade rural. (Foto: Divulgação)

A colheita da soja avança e consolida o cenário de quebra da safra brasileira de forma irreversível, em razão do El Niño de forte intensidade. Com o clima irregular ao longo do plantio e durante o desenvolvimento das lavouras nas diferentes regiões – com falta de chuvas e altas temperaturas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste e excesso de chuvas no Sul do país – a safra apresenta quebra que já supera 15,3 milhões de toneladas em todos os estados. Os números são do Rally da Safra, que está a campo em todo o País desde o dia 12 de janeiro para fazer um diagnóstico da cultura da soja.

Em Mato Grosso do Sul, conforme boletim do Siga-MS (Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio), publicado no dia 16 de janeiro, foram replantadas 230,8 mil hectares de soja, 5,4% do total da área plantada, quando o normal seria de até 2,5%, segundo agricultores ouvidos pela coluna Lado Rural. A estiagem e as fortes temperaturas que assolam a agricultura no Estado afetaram 11,9% da área plantada de soja, em torno de 508,5 mil hectares. A área plantada prevista no Estado é de 4,265 milhões  de hectares.

“O replantio acaba gerando prejuízo não apenas à safra de soja, pois incorre em novos custos e parte de um potencial produtivo menor, como também à segunda safra de milho, pois compromete a janela ideal para a semeadura”, explica o coordenador do Rally da Safra, André Debastiani”.

As regiões que iniciaram a colheita em MS foram a norte, que está com a colheita mais avançada, com uma média de 0,4%, e a sul, com 0,3%. A região central ainda não iniciou a colheita. Até a data de 12 de janeiro, a área colhida, conforme a estimativa do Projeto Siga-MS, é de aproximadamente 12.795 hectares.

Colheita da soja no município de Itaporã, região sul de Mato Grosso do Sul. (Foto: Divulgação/Sindicato Rural de Douradina)
Colheita da soja no município de Itaporã, região sul de Mato Grosso do Sul. (Foto: Divulgação/Sindicato Rural de Douradina)

Início da colheita pouco promissor

De acordo com o diagnóstico da colheita, as primeiras áreas que foram colhidas na região nordeste indicam uma diminuição do potencial produtivo, variando entre 10 a 15 sacas por hectare.

Com base na média de sacas de soja por hectare dentro do potencial produtivo das últimas 5 safras do Estado, a produtividade estimada é de 54 sacas/ha. A previsão é de uma colheita de 13,8 milhões de toneladas, abaixo das 15 milhões de toneladas no ciclo passado.

O volume de chuvas, especialmente no período que se estende do final de janeiro até o final de fevereiro, será o principal fator determinante da produtividade em Mato Grosso do Sul.

Pelas avaliações da Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, em Mato Grosso do Sul agora é a vez da região norte apresentar quebras, diferente do que aconteceu na safra 2021/22, quando o Sul do Estado puxou a produtividade média para baixo. A produtividade estimada pelo Rally da Safra é de 59 sacas por hectare, contra 64 na safra passada. Já o Projeto Siga-MS fala em 54 sacas por hectare.

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Condições das lavouras

Até a data de 12 de janeiro, 18,9% das lavoura plantada apresentavam condições consideradas "regular" e "ruim". Isso significa que das 4,265 milhões de hectares, o Mato Grosso do Sul tem 804,6 mil hectares em condições que inspiram maiores cuidados e atenção.

Para uma lavoura ser classificada como "ruim", ela deve apresentar diversos critérios negativos, tais como alta infestação de pragas (plantas daninhas, pragas e doenças) ou falhas no estande de plantas, desfolhamento excessivo, enrolamento de folhas, amarelamento precoce das plantas, entre outros defeitos que causem perdas significativas de produtividade. Uma classificação "regular" é atribuída a lavouras que apresentam poucos problemas relacionados a pragas, estande de plantas razoável e pequeno amarelamento das plantas em desenvolvimento.

Pior em Mato Grosso

As lavouras que estão sendo colhidas agora em Mato Grosso são as piores e as mais afetadas pela seca. As áreas com variedades de ciclo médio e tardio, apesar de também terem sofrido, apresentam melhores condições, pois receberam chuvas após a segunda quinzena de dezembro. O receio agora recai sobre o possível excesso de chuvas durante a colheita nas próximas semanas. O estado tem uma produtividade média pré-rally, estimada pela Agroconsult, em 52,5 sacas por hectare (contra 63,8 sacas por hectare na safra passada.

Segundo reportagem do Canal Rural no dia 18 de janeiro, em Campo Novo do Parecis (MT), por exemplo, áreas que antes colhiam entre 50 e 70 sacas de média, estão registrando médias entre 4 e 30 sacas apenas. A colheita da soja em Mato Grosso chegou a 6,46% dos 12,131 milhões de hectares estimados para o ciclo 2023/24.

Números nacionais

A Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, aponta para uma safra 2023/24 de 153,8 milhões de toneladas – 3,7% inferior à temporada passada, com uma produtividade média de 56,1 sacas por hectare (60 na safra 2022/23). A área plantada cresceu 2,9% para 45,7 milhões de hectares. Com levantamentos quinzenais de safra, a consultoria começou a revisar seus números em outubro e desde então alterou suas estimativas a cada levantamento, em função da piora do quadro climático.

 “Essa safra tinha potencial para ultrapassar 169 milhões de toneladas diante do aumento de área, do bom nível tecnológico utilizado no campo e provável cenário de recuperação do Rio Grande do Sul que, na temporada anterior, deixou de produzir 8 milhões de toneladas”, diz Debastiani.

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