Após ano crítico, 2025 limpa a barra do ar: zero dias ruins contra 51 de 2024
Projeto faz o monitoramento da qualidade do ar da Capital desde 2021 e registrou dado histórico no ano passado

Dias de poluição intensa, céu esbranquiçado e dificuldade para respirar marcaram a rotina do campo-grandense em 2024. Foram períodos críticos quando a baixa visibilidade e o acúmulo de fumaça das queimadas transformaram o ar em ameaça à saúde e fizeram o dia se transformar em penumbra. Um ano depois, a realidade é bem diferente: até agora, todos os dias de 2025 registraram qualidade do ar classificada como “boa”.
RESUMO
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Em 2025, Campo Grande registra melhora significativa na qualidade do ar em comparação com 2024, quando a cidade enfrentou períodos críticos de poluição. Segundo o projeto QualiAr da UFMS, todos os dias deste ano apresentaram índices considerados "bons", contrastando com o ano anterior, que teve 51 dias fora dessa condição. O cenário positivo é atribuído ao aumento das chuvas, com acumulado de 1.342,8 milímetros até setembro de 2025, superando os 970 milímetros de todo 2024. Além disso, houve redução de 92,8% nas áreas destruídas por queimadas. Contudo, especialistas alertam para a chegada do período crítico de seca, que pode impactar negativamente esses índices.
“Não tivemos nenhum registro de ar moderado, ruim ou péssimo neste ano. Todos os dias ficaram na faixa considerada boa, o que mostra um cenário muito mais favorável que o do ano passado”, afirma o professor Widinei Alves Fernandes, doutor em geofísica espacial, coordenador do projeto QualiAr da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
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Pior índice da história
O projeto faz o monitoramento da qualidade do ar da Capital desde 2021 e registrou um dado histórico no ano passado, quando, no dia 8 de outubro, Campo Grande atingiu o pior índice desde o início do monitoramento do QualiAr, com índice de 208 pontos, classificado como “péssimo”.

Setembro foi o mais crítico
No total, o ano passado teve 51 dias fora da condição boa, sendo setembro o mês mais crítico, com 24 dias de ar moderado a muito ruim.
“O primeiro sinal foi a visibilidade prejudicada. Já no início de setembro, o céu estava esbranquiçado e o pôr do sol apresentava cores muito intensas, típicas da presença de partículas na atmosfera”, lembra o professor.
O Estado passava por dias intensos de incêndios florestais e era atingido por fumaças vindas do Pantanal, da Bolívia e também da Amazônia.
Chuva fez a diferença
Além disso, o coordenador do QualiAr afirma que, em 2024, choveu pouco. Foram 970 milímetros no acumulado do ano inteiro. Em 2025, a situação está totalmente oposta. Até o dia 2 de setembro, o acumulado já está em 1.342,8 milímetros, superando todo o volume do ano anterior.
“A chuva é o principal fator que remove partículas da atmosfera. Por isso, o cenário de 2025 é tão diferente. Tivemos muito mais precipitação, e isso garantiu um ar mais limpo até agora”, explica o professor Widinei.
A queda no índice de queimadas também contribuiu. Neste ano, houve redução de 92,8% na área destruída pelo fogo em relação a 2024. Segundo o Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima), somente no primeiro semestre de 2025, foram queimados 42,8 mil hectares, contra 595,7 mil no mesmo período do ano passado. Os focos de calor despencaram 98,2%, de 2.753 para 50. No Cerrado, a queda foi de 51,3% na área atingida e 47,3% nos focos.
Partículas que afetam a saúde
Segundo o professor Widinei Alves Fernandes, a principal ameaça à saúde está no material particulado, especialmente as partículas chamadas PM2,5, até 30 vezes menores que a espessura de um fio de cabelo. Quando inaladas, podem provocar irritação no sistema respiratório e, a longo prazo, aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
“Não existe nível seguro de exposição a esse poluente, mesmo quando o índice está dentro da faixa boa. Somado à baixa umidade, comum nesta época do ano, o impacto pode ser ainda maior, principalmente em crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias”, alerta o coordenador.
Situação nesta semana
Nesta terça-feira (2 de setembro), o índice de qualidade do ar em Campo Grande estava em 23 pontos, dentro da faixa “boa”, que vai de 0 a 40. Acima disso, as condições são classificadas como moderadas (41–80), ruins (81–120), muito ruins (121–200) e péssimas (201–400).
Apesar dos bons indicadores em 2025, o alerta continua. “Estamos entrando agora no período mais crítico, em que a seca e as queimadas podem impactar a qualidade do ar”, afirma o professor ao alertar que o monitoramento é essencial.