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Meio Ambiente

Escola estadual é a primeira de MS a quase "zerar" o descarte de lixo

Escola Padre Franco Delpiano recicla 95,4% do lixo em um mês e recebe o selo de certificação “Lixo Zero”

Por Mylena Fraiha | 19/09/2024 19:42
Estudante faz descarte de garrafa plástica em "residuário" de escola na Capital (Foto: Paulo Francis)
Estudante faz descarte de garrafa plástica em "residuário" de escola na Capital (Foto: Paulo Francis)

Imagine uma comunidade de 400 pessoas conseguir reciclar 95,4% de todo o lixo que produz em um mês. Foi isso que a Escola Estadual Padre Franco Delpiano, localizada no bairro Nova Lima, em Campo Grande, fez e se tornou a primeira escola de Mato Grosso do Sul a alcançar essa meta.

Para conseguir isso, o trabalho envolveu mudanças significativas no dia a dia dos estudantes, professores e funcionários. Lixeiras foram retiradas das salas de aula e substituídas por recipientes específicos para papel e aparas de lápis. Dois pontos de coleta foram instalados nos pátios, onde todo o resíduo é depositado e posteriormente encaminhado para reciclagem.

A supervisora do itinerário de Meio Ambiente e embaixadora Lixo Zero, Bruna Gonçalves, explica que o conceito “Lixo Zero” é um estilo de vida, que envolve repensar o que você consome, o que você produz e para onde isso vai. Inclusive, o conceito pode ser aplicado em empresas, comunidades religiosas e até mesmo condomínios.

Na escola, por exemplo, ninguém usa copos descartáveis, e todos tentam sempre separar o lixo no momento do descarte. Inclusive, trocar a palavra “lixo” por “resíduos” é uma das mudanças que a comunidade escolar aplicou no cotidiano.

A ideia de usar a palavra resíduo é justamente para quebrar o conceito de 'lixo'. Não existe mais 'lixeira', agora falamos de 'residual', porque não jogamos mais fora, encaminhamos para a reciclagem”, explica Bruna.

Hoje, apenas 5% dos resíduos, como papel higiênico e materiais não compostáveis, continuam sendo destinados ao aterro sanitário.

Um dos residuários da Escola Estadual Padre Franco Delpiano, localizada dentro do Hospital São Julião, em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Um dos residuários da Escola Estadual Padre Franco Delpiano, localizada dentro do Hospital São Julião, em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

A escola está dentro do complexo do Hospital São Julião e, inclusive, foi influenciada pelo projeto que o hospital iniciou em 2021. Segundo Tatiana Moura, coordenadora pedagógica da escola, o envolvimento da instituição com o conceito Lixo Zero é uma extensão das práticas adotadas pelo hospital, que também foi certificado com o mesmo selo.

“Tudo o que a escola gera é direcionado para o residuário do Hospital São Julião. Na verdade, essa iniciativa surgiu no hospital, que é o primeiro da América Latina a receber essa certificação de rumo ao lixo zero. Como estamos dentro do hospital, a escola sempre seguiu esse mesmo caminho", explica Tatiana.

Hoje, o Projeto Lixo Zero faz parte do Projeto Político-Pedagógico da escola, orientando suas ações e cultura. Além das práticas cotidianas, a escola promove campanhas e ações de conscientização, como a Semana Lixo Zero e a participação no Dia Mundial da Limpeza.

Estudantes do 7° ano fazem exposição de bonecos feitos com materiais recicláveis (Foto: Paulo Francis)
Estudantes do 7° ano fazem exposição de bonecos feitos com materiais recicláveis (Foto: Paulo Francis)

Mudança de pensamento – A implementação do projeto não foi isenta de desafios. Bruna conta que, no início, houve resistência de alguns alunos, professores e pais. Segundo ela, o nome "Lixo Zero" gerou desconforto e até mal-entendidos, com alguns pais questionando o foco do ensino.

“O nome Lixo Zero causa um impacto, e as pessoas não entendiam o conceito. Houve reclamações de pais dizendo que seus filhos não estavam estudando para virar garis. Foi um processo de conscientização gradual, desde 2021 até agora", relata Bruna.

No entanto, ela aponta que a nova geração já mostra maior consciência ambiental. Bruna explica que os alunos da escola, em sua maioria, já têm pensamento crítico e percebem as questões ambientais com mais clareza. “Recentemente tivemos problemas com queimadas, e o céu ficou cinza por uma semana. Os alunos já entendem que isso é consequência das queimadas, questionam de quem cobrar, onde denunciar e o que fazer para mudar. Essa consciência crítica é um grande avanço”.

Lara faz descarte de papel em residuário colocado dentro de sala de aula (Foto: Paulo Francis)
Lara faz descarte de papel em residuário colocado dentro de sala de aula (Foto: Paulo Francis)

Uma das estudantes é Lara Carvalho Leal de Paula, de 14 anos, do nono ano. Para ela, as mudanças no início foram complicadas, mas acabou se apaixonando pelo conceito de "Lixo Zero". Hoje, ela percebe que os colegas já estão bem mais habituados a essa prática.

“Foi muito difícil, muita gente errava e a gente tentava consertar. Agora, o pessoal já sabe onde colocar cada coisa. Alguns até fazem isso em casa; eu mesma, quando tem casca de ovo, separo em casa, mas também faço aqui na escola. O pessoal já está bem familiarizado com isso, cada um consegue colocar os resíduos no lugar certo. Quando um colega erra, a gente chama a atenção”, explica Lara.

Após entender conceito de "Lixo Zero", Gyovanna faz descarte correto de garrafa de plástico em residuário da escola (Foto: Paulo Francis)
Após entender conceito de "Lixo Zero", Gyovanna faz descarte correto de garrafa de plástico em residuário da escola (Foto: Paulo Francis)

Já a estudante Gyovanna Radassa Nascimento de Alencar Angelo, de 13 anos, do nono ano, explica que foi a primeira vez que conheceu o conceito “Lixo Zero” e que, inicialmente, teve dificuldades de se adaptar. “Na minha antiga escola não havia separação; era apenas lixeira, então não havia a necessidade de separar. No começo, foi complicado me adaptar, mas com o tempo e a orientação das coordenadoras e do diretor, fui conseguindo acompanhar e melhorar”.

Para Gyovanna, o conceito do “Lixo Zero” é também uma chance de ajudar o meio ambiente e o trabalho de quem vive da reciclagem. “É muito importante por conta da separação. Além de ser boa para a natureza, é também importante para os catadores, porque fica bem mais fácil para eles. Assim, conseguem separar de forma mais eficiente. Quando tudo se mistura, pode se tornar lixo, e não resíduo, o que muitas vezes impede o reaproveitamento”.

O que é o lixo zero? – O conceito Lixo Zero é uma meta ética, econômica, eficiente e visionária, que orienta as pessoas a mudar seus estilos de vida e práticas, incentivando ciclos naturais sustentáveis. De acordo com Bruna, o conceito pode ser aplicado para condomínios, empresas e comunidades religiosas.

Este conceito propõe que todos os materiais sejam projetados para permitir sua recuperação e reutilização, eliminando a necessidade de descarte em aterros sanitários ou incineração.

A Certificação Lixo Zero é emitida após uma rigorosa auditoria que avalia o desvio de resíduos de aterros sanitários e incineração. Os estabelecimentos são classificados em três níveis, conforme o percentual de desvio de resíduos: Compromisso Lixo Zero (desvio menor que 50%), Selo Rumo ao Lixo Zero (desvio entre 50% e 89%) e Certificado Lixo Zero (desvio igual ou superior a 90%).

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