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Meio Ambiente

Hospital São Julião pode ser primeiro do País com selo "Rumo ao Lixo Zero"

Instituição tem 57% dos resíduos que deixam de ir para o aterro sanitário e aposta na compostagem

Natália Olliver | 29/04/2023 14:40
Bruno Maddalena no residuário feito em 2019 no Hospital São Julião (Foto: Natália Olliver)
Bruno Maddalena no residuário feito em 2019 no Hospital São Julião (Foto: Natália Olliver)

“Tudo o que produzimos são resíduos, lixo é fruto de uma atitude errada e inconsequente. Resíduo é tudo aquilo que se transforma”.

Essa é uma das frases ditas por quem viu de perto o Hospital São Julião, em Campo Grande, abraçar a natureza e implementar políticas de preservação ao meio ambiente.

Há 35 anos no local, Bruno Maddalena, gerente de políticas públicas, se orgulha da possibilidade de certificação, concedida pelo Instituto Nacional Lixo Zero. O selo pode tornar a instituição a primeira do Brasil a receber o título “Rumo ao Lixo Zero”, um reconhecimento honroso para quem se dedica à causa ambiental.

O italiano de 58 anos nos convida a um 'tour' pelas dependências do hospital e explica que o lugar produz 15 toneladas de resíduos sólidos por mês. A quantidade inclui os materiais infectantes, produzidos em centros cirúrgicos e enfermarias, também conhecidos como hospitalares; os resíduos comuns, recolhidos nos banheiros; os orgânicos, alimentos e as embalagens, como caixas de medicamentos, por exemplo.

De acordo com a gravimetria, que analisa a constituição do que é descartado, o hospital deixa de enviar ao aterro sanitário da Capital 57% dos resíduos produzidos, isso significa que 8.700 toneladas de material são tratados e separados na própria instituição. O índice é motivo de orgulho para Bruno, que desconhece qualquer outro hospital no País que tenha alcançado o feito. Diante de tantos números a pergunta que fica é, mas afinal, pra onde vai cada resíduo?

Compostagem feita com os resíduos orgânicos vindo do Hospital (Foto: Natália Olliver)
Compostagem feita com os resíduos orgânicos vindo do Hospital (Foto: Natália Olliver)

Orgânicos - Bruno ressaltou que os resíduos orgânicos são destinados à compostagem. Ao todo são 200 quilogramas produzidos diariamente no hospital. “Desse valor, 42% nem chega a ser enviado ao aterro sanitário. Aqui eles possuem outro fim. Se transformam em adubo e servem  para horte e para o reflorestamento”.

Em meio ao barro, ele aponta o local onde a “mágica acontece”. São quase dois canteiros destinados à compostagem. Segundo o gerente, a fração orgânica é a maior parte do que seria descartado caso o hospital não possuísse o sistema.

“Criamos a compostagem em 2019, então comprova que é possível, mas depende muito do apoio administrativo e da educação ambiental continuada com os colaboradores. Uma vez que o reciclável é separado aquilo é útil, se alguém joga uma fralda junto não tem como recuperar. Então aquilo vira lixo”.

Reciclagem - A coleta seletiva na instituição começou em 2015. Desde então o local tem conseguido controlar a forma que o material reciclado é separado e, posteriormente, vendido. Bruno explica que o rejeito, ou seja, tudo o que não é reaproveitado, vai parar direto para o aterro.

O material infectante é desinfetado, as agulhas e bisturis são incineradas e depois todos vão para o aterro. “Então quanto menos conseguimos mandar pra lá é mais economia pro hospital e melhor pro aterro, porque é menos volume, além de diminuir o impacto ambiental”, disse.

Lonas e embalagens plásticas são pesadas, assim como todos os resíduos (Foto: Natália Olliver)
Lonas e embalagens plásticas são pesadas, assim como todos os resíduos (Foto: Natália Olliver)

O gerente explicou que a reciclagem está prevista na legislação, que isso não é mérito, apenas o correto a ser feito. Entretanto, a vontade em melhorar os processos despertou em Bruno a ânsia em ajudar mais o meio ambiente e desperdiçar menos.

Em 2022 ele descobriu o Instituto Nacional Lixo Zero e viu que era possível aplicar o método no hospital. “Fiz um curso com eles de 6 meses, me tornei consultor de lixo zero. A certificação do hospital de Rumo ao lixo Zero vem após uma auditoria, que certifique que estamos dentro dos parâmetros. Não vamos conseguir ser Lixo Zero porque é praticamente impossível, mas isso é significativo, já chegamos a ter 62% dos resíduos desviados do aterro. Isso é muito importante”.

Ainda sobre os reciclados, em dezembro de 2022 o São Julião ganhou um prêmio “Amigos do Meio Ambiente”,  reconhecimento entregue pela Secretaria de Saúde de São Paulo. O projeto contemplou 15 projetos entre 150 propostas no País.

Alunos jogam lixo nos residuários, caixas que substituem as lixeiras (Foto: Natália Olliver)
Alunos jogam lixo nos residuários, caixas que substituem as lixeiras (Foto: Natália Olliver)

Exemplo -  Ainda em dezembro, os estudantes da Escola Estadual Padre Franco Delpiano, no Nova Lima, em Campo Grande, participaram de reunião com equipe do Hospital São Julião, para projeto de tornar a região referência em "Lixo Zero" de todo Centro-Oeste.

A reportagem também esteve no local e viu de perto os chamados “residuários”, locais onde os materiais são separados. “Aqui eles tiraram as lixeiras da sala de aula e criaram um residual, que é a metodologia aplicada”, disse Bruno.

Além da atitude, a escola também aposta na educação ambiental, com a promoção de palestras e projetos para que os alunos estejam envoltos e abertos ao tema sustentabilidade e educação.

Embalagens de marmitex viram alumínio no hospital e já renderam até R$ 3 mil (Foto: Natália Olliver)
Embalagens de marmitex viram alumínio no hospital e já renderam até R$ 3 mil (Foto: Natália Olliver)

Residuário -  A separação do que é coletado e reciclado no hospital vai para o residuário "geral", um antigo galpão onde eram criados suínos, que foi adaptado para a nova utilização. São caixas de papelão, vidros, garrafas, cadeiras de roda quebradas, plásticos, lonas. Tudo devidamente separado em suas baias.

Até as marmitas utilizadas nas refeições dos pacientes são recicladas. Bruno mostra que o material é limpo e prensado, após esse processo ele é fundido. “Conseguimos um percentual de 75% de alumínio de boa qualidade, ou seja, próprio para venda”.

Para chegar ao tamanho da pedra mostrada pelo profissional foram necessárias 80 marmitas. Segundo Bruno, o hospital produz por mês dois blocos do material, item que seria destinado ao aterro. Em anos anteriores o São Julião reaproveitou 650 kg de embalagens de marmitas. O resultado da venda rendeu R$ 3.000,00 à instituição.

Na semana Mundial do Meio Ambiente, comemorada a partir do dia 5 de junho, Bruno  adiantou ao Campo Grande News que deve se reunir com o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) para apresentar os resultados percebidos até o momento. O objetivo é que o método seja aplicado em outros hospitais do Estado.

“Acredito muito em boas práticas, gostei dessa palavra, as pessoas não usam mais, porém é isso mesmo. Queremos ser referência”, diz Bruno.

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