Grupo de pescadores testemunha escassez de peixes no rio Paraguai
Cinco dias e cerca de 300 quilômetros rio acima, paisagem de encher os olhos, mas uma constatação preocupante: está faltando peixe na imensidão de água do Paraguai onde, para muitos, se concretizam os sonhos de todo pescador. É o que revela um grupo de 18 pessoas, a maioria de Campo Grande, acostumadas se reunir para pescarias no Pantanal e que, da última experiência, no Carnaval, trouxe na bagagem apenas 24 exemplares dentro das medidas permitidas- menos do que a cota legal - e a certeza de que, a cada ano, está mais complicado se sair bem em uma pescaria na região.
“Você fazer uma viagem dessas para pegar um 1 peixe?”, questiona Ronaldo Ribeiro, comerciante, que subiu o rio junto com 17 amigos, até a região de Porto Índio, na divisa de Mato Grosso do Sul com o Mato Grosso. “Se a Piracema acabou de terminar e pesca ser liberada e está assim”, emenda.
“Foi muito ruim”, resume outro integrante do grupo, o economista Fernando Abrahão, de 34 anos. “Andamos uns 300 quilômetros rio acima e ainda assim tivemos dificuldades”, completa o publicitário Pascual Sanz Mondragon.
Outro que participou da pescaria frustrada, o advogado Luiz Cláudio Hugueney, 60 anos, diz que o que valeu foi o passeio, porque pesca mesmo, foi “bem fraquinha”.
Mais do que reclamar da dificuldade de fisgar peixes, todos são unânimes em apontar que esta não é uma situação recente.
“Brinco de bescar há 20 anos e há mais de 10 percebo que cada vez está mais difícil”,afirma Pascual. “O que a gente vê é muito pouco peixe e ainda fora de medida”, diz Fernando Abrahão.
O juiz e dono de uma propriedade à beira do rio Aquidauana Marcelo Raslan afirma que essa realidade vem sendo percebida também na localidade e já há alguns anos. “Quem vai para a beira do rio hoje, vai pensando apenas em passeio”.
Desrespeito e falta de fiscalização- Mesmo reclamando de não ter encontrado com facilidade o que mais gratifica o investimento na ida ao rio, o peixe, os pescadores amadores revelaram indignação com o que testemunharam ao longo do trajeto feito em pequenos barcos.
“Não vimos qualquer tipo de fiscalização”, comenta Fernando Abrahão.
Isso facilita, segundo afirmam os integrantes do grupo, a ação de pessoas que, em vez de pescadores nas horas vagas, acabam se transformando em predadores da natureza, pois pescam em reservas onde retirar peixes é proibido durante o ano todo.
Essa cena foi vista, por exemplo, na reserva conhecida como Cará-Cará, já na divisa com o MT.
Segundo o testemunhos dos integrantes do grupo, os barcos turísticos param em locais permitidos e os turistas seguem em voadeiras(pequenas embarcações) para os locais onde não poderiam entrar para pescar.
Mesmo com a legislação estabelecendo tamanhos mínimos permitidos, os pescadores amadores dizem que a fiscalização deficiente também provoca outro tipo de comportamento predatório, que é o pescador que come os peixes fora de tamanho no local onde retira os exemplares e transporta os que estão dentro da medida, passando incólume onde há fiscalização.
“O desrespeito é muito grande com a legislação”, define o juiz Marcelo Raslan.
Precisa mudar-Ele e os companheiros de pescaria defendem alterações na lei e a utilização de estratégias já usadas em outros países, como a Argentina, para mudar esse quadro.
Os argentinos criaram regras mais rígidas que impedem, por exemplo, a retirada do dourado dos rios.
“O turista já está indo para outros estados e outras regiões”, diz Pascual Mondragon, ao defender que sejam feitas mudanças para proteger o estoque pesqueiro.
“Se hoje já está assim, imagina daqui dez anos”, reflete.