Guigui usa fotojornalismo para ‘ampliar a voz do Pantanal’ nas redes sociais
Corumbaense viraliza com imagens que retratam abundância nas cheias, ou delatam a tragédia dos incêndios
Filho do Pantanal, o corumbaense Guilherme Provenzano Giovanni, 51 anos, tem registrado o desastre ambiental dos incêndios como ninguém. O fotógrafo conhecido por todos na cidade como “Guigui”, sabe de tudo sobre o bioma e aproveita para chegar em lugares inacessíveis da grande mídia para retratar cenas únicas.
Até o momento são mais de sei mil fotos vendidas, em uma carreira que deslanchou após a tragédia de 2020. Apesar de já ter iniciado há 15 anos, os primeiros registros como um cidadão que ama fotografar a natureza, foi a partir das imagens que conseguiu fazer, no maior incêndio da história, que ganhou credibilidade e repercussão entre os fotojornalistas.
Desde então tem usado o talento para promover campanhas solidárias em prol do Pantanal, e deixou a carreira de professor de jiu-jitsu em segundo plano. “Depois do incêndio, eu fiz uma parceira com uma atris e a Ong Ampara Animal. Eu vendi as minhas fotos por um preço acessível, ela divulgava isso e a gente vendeu a causa do Pantanal. As fotos eram do pantanal na sua exuberância, não a queimada. Conseguimos arrecadar R$ 18 mil para ações no bioma”, relembrou.
Ele destaca que apesar de fazer outros tipos de fotos, faz do Pantanal seu carro chefe. “É algo que me importo. O Pantanal me fez fotógrafo. Houve uma interação com animais que mexeu muito comigo. Ver algumas cenas que até me emocionava. Cansei de filmar ninho a longa distância, ver o crescimento dos filhotes, parece que eles são mais humanos que a gente. Em alguns momentos você chega muito perto de um animal desses e é algo de energia, eles sabem que não vou fazer mal e eles não saem de perto”.
Guigui afirma que deve muito ao bioma e por isso sempre que algo acontece envolvendo a maior planície alagável do mundo, ele faz de tudo para ajudar. Repassa pontos para equipes internacionais, faz campanhas solidárias para brigadistas do Prevfogo e usa as redes sociais para ‘ampliar a voz do Pantanal’ pedindo socorro, durante os incêndios.
Acompanhando a chegada da comitiva ministerial no Aeroporto de Corumbá, o fotojornalista aproveitou para desabafar sobre o fogo do último mês. “A gente sabe que é uma cultura queimar, é secular. Mas nunca foi na proporção que está hoje. É um incêndio criminoso, é. Mas pode ser junto com a crise climática, ou também pode não ser”, acrescentou.
Ele fez a primeira foto de um foco de incêndio neste ano na região da bacia do Tamengo, perto da cidade. “O fogo não sessava. Depois de uns cinco dias veio um avião, só que esse fogo já estava começando a se espalhar para outras regiões e Ladário. Aí já se via a cortina de fogo, o que hoje chegou [refoço de aeronaves e KC 390] era para ter vindo no começo do mês. O avião sumiu uns quatro dias fora. Aí começou aquela cobrança de todo mundo. Eu estou postando fogo todo dia. Por que esse avião nunca veio antes?”, cobrou.
O fotojornalista ressaltou, no entanto, que a presença das ministras Marina Silva [Meio Ambiente] e Simone Tebet [Planejamento e Orçamento] é algo relevante. “O que aconteceu hoje [sexta-feira] é inédito. Acredito que pela pressão social e o que falaram nas redes mobilizou uma operação maior. Precisamos de aeronave e combater no início, com brigadas prontas para agir no primeiro momento”.
Para ele existem dois lados sobre os autores dos incêndios. “Tem gente boa e ruim. Não temos como saber quem ateou fogo. Acusam os fazendeiros, mas eu vi muitos proprietários rurais ajudando brigadistas a apagar”. Guigui também afirmou que conhece de perto o amor dos brigadistas do Prevfogo, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais). “Eles fazem ações voluntárias, até quando não estão contratos. Dão aula de educação ambiental, fazem limpezas antes do fogo. Poderiam ser permanentes”.
Foi um várias dessas ações que se aproximou dos brigadistas e consegue acompanhar o combate ao fogo. Nesses momentos, ouviu o que eles ouvem. “Já escutei bichos uivando, morrendo, não tem como. O fogo é muito maior que você, parece um túnel quente. Até os brigadistas passam mal. Eles fazem o que fazem, porque amam o Pantanal”.
Outro trabalho de destaque é do Gretap (Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal), que auxilia no resgate, reabilitação e soltura dos animais. “Registrei o resgate de uma das onças-pintadas de 2023, que estavam em Ladário. Ela atravessou o rio nadando até a cidade com seu filhote. Quando parei para perceber a situação toda, vi que eu estava ao lado dela, anestesiada, sendo transportada soltura. A pata era maior que a minha mão. Depois disso, consegui encontrá-la novamente no Pantanal. Foi uma emoção de saber que ela está bem, segura e livre”.
Campanha – Está perto de completar um ano a campanha de mobilização pela instalação de redutores de velocidade na BR-262, no ninho artificial de tuiuiús, encabeçada por Guigui. Ele conta que chegou a ficar cinco horas ‘plantado’ em frente ao local, monitorando a ave para fazer um registro único.
“É um perigo para a fauna, porque a ave quando está aprendendo a voar, acaba indo ao chão. Ali é muito perigoso para os filhotes. Consegui registrar o momento em que ele vai para a pista e um caminhão se aproxima”.
Com a imagem única, ele cobrou as autoridades competentes. “Entrei em contato com todos os órgãos, para implantar uma sinalização no solo, ajustasse o acostamento, para quem para e tira foto. O Dnit disse o ninho foi construído sem autorização e não podiam fazer nada. Secretaria disse era mentira. Em novembro vai fazer um ano que eu fiz esse alerta. Faço isso como um cuidado, uma prevenção”.
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