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Meio Ambiente

Onças se afastaram da área urbana de Corumbá, mas monitoramento continua

Órgãos ambientais se reúnem semanalmente com os moradores das encostas

Por Silvio de Andrade | 11/09/2025 14:01
Onças se afastaram da área urbana de Corumbá, mas monitoramento continua
Onça-pintada circulando em frente ao posto da PRF, próximo à fronteira, em maio. (Foto: Divulgação)

As onças-pintadas não deram mais o “ar da graça” na região de encostas de Corumbá, área ribeirinha urbana que margeia o Rio Paraguai e o Canal do Tamengo (fronteira com a Bolívia). Depois de frequentes aparições nas comunidades da Cacimba e do Mirante da Capivara, nos bairros das Cervejaria e Generoso, levando pânico aos moradores e depredando animais domésticos, os felinos não foram mais avistados nas últimas semanas.

RESUMO

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Onças-pintadas não são mais avistadas em área urbana de Corumbá, MS. Força-tarefa com órgãos públicos, instituições ambientais e ONGs implementou plano de contingência após aparições frequentes dos felinos em bairros ribeirinhos, causando pânico e atacando animais domésticos. Reuniões semanais com moradores confirmam a ausência dos animais. A última ocorrência foi em 2 de setembro, com o resgate de uma jaguatirica ferida em bairro distante do rio. A presença das onças começou em 24 de março, atraídas por fatores como cheia do rio, áreas queimadas no Pantanal, lixo acumulado, escuridão e animais domésticos soltos. A força-tarefa realizou rondas noturnas, instalou câmeras e luminosos, além de orientar moradores sobre cuidados. A cidade, situada próxima ao Pantanal, já registrou onças em outras ocasiões. Especialistas defendem a criação de refúgios de fauna na orla para minimizar conflitos entre humanos e animais selvagens.

Ao que tudo indica, o plano de contingência colocado em prática por uma força-tarefa (formado pelo poder público, instituições ambientais e de segurança e organizações não governamentais) deu certo. A operação integrada pelo Ibama, Polícia Militar Ambiental (Pma), prefeitura e IHP (Instituto Homem Pantaneiro) continua e reuniões semanais com moradores confirmam o não registro da presença dos animais.

“Na cidade não teve mais avistamento delas. Continuamos visitando os moradores e mantendo as ações de prevenção e de orientação”, informou a veterinária Arleni Mesquita, da Fundação de Meio Ambiente do Pantanal, órgão da prefeitura.

A última situação de conflito ocorreu no dia 2 de setembro, mas em outra região, na parte alta da cidade, distante do rio. Uma Jaguatirica ferida foi capturada pelos bombeiros em depósito de uma residência situada próxima a uma morraria, no bairro Jatobazinho, e levada para o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Selvagens), em Campo Grande.

Onças se afastaram da área urbana de Corumbá, mas monitoramento continua
Convivência: população recebeu orientações com a presença constantes dos animais. (Reprodução)

Ambiente favorável - A presença frequente de uma ou duas onças entre o Canal do Tamengo (afluente do Rio Paraguai) e a encosta foi registrada a partir de 24 de março. Além da subida das águas e da área devastada pelos incêndios no Pantanal, o lixo acumulado, a escuridão do lugar e os animais domésticos soltos foram determinantes para atrair os animais para a cidade, segundo especialistas.

Com relatos de avistamentos pelos moradores e pegadas registradas pelos técnicos da força-tarefa, as onças circulavam num raio de dois quilômetros e foram filmadas passeando em frente ao posto da Polícia Rodoviária Federal, na BR-262, próximo à fronteira com a Bolívia. No dia 7 de agosto, um homem ferido, Valdinei da Silva Pereira, 57, morador do Mirante da Capivara, foi internado no Pronto Socorro com suspeita de ataque, caso desmentido.

As estratégias para afastar os felinos levaram alguns benefícios às comunidades, como iluminação pública, que era precária, e coleta regular do lixo, descartado ao lado da mata. Os moradores receberam buzina de ar comprimido para espantar os animais, em caso de contato, e foram orientados a prender os animais domésticos e não circular à noite. Foram instalados câmeras e luminosos.

As iniciativas, que incluíram rondas noturnas realizadas pelo Ibama e Pma, foram fundamentais para evitar a aproximação dos felinos e promover uma convivência (relativamente) segura entre a população e a fauna silvestre, na avaliação dos órgãos da força-tarefa.

Onças se afastaram da área urbana de Corumbá, mas monitoramento continua
Técnicos do IHP instalaram repelentes luminosos, que emitem várias cores ao se aproximar. (Foto: Silvio de Andrade)

Capital das Onças – A presença das onças-pintadas na área urbana de Corumbá não é algo tão incomum. Às alterações ambientais se acrescenta o fato de a cidade estar localizada sobre um platô calcário, de cerca de 30 metros de altura acima do nível do Rio Paraguai e ao lado da planície pantaneira, citou o pesquisador Walfrido Tomas, referência em ecologia da Embrapa Pantanal, em um artigo publicado no site O Eco, em 2014.

O animal foi visto em várias localidades, como ao lado da Avenida Rio Branco, região também de encosta, em direção a Ladário (cidade vizinha a Corumbá, também lindeira do rio), onde foi filmado circulando pelas ruas e residências. Tomas observa que são as únicas cidades localizadas no meio de uma das maiores e mais importantes concentrações de populações de onças das Américas. “Corumbá merece o título de Capital das Onças”, sugeriu, à época.

“A cidade (Corumbá) está aprendendo a conviver com as onças, e não há outro caminho a seguir, já que fatos assim vão continuar acontecendo ano após ano, sempre que houver uma cheia acima da média. O caminho é esclarecer a população e transformar áreas da orla mais utilizadas pelas onças em refúgios de fauna, com alambrados na interface com a cidade”, escreveu.