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Meio Ambiente

Ondas de calor estão mais fortes e duram mais tempo, alerta climatólogo

Pesquisador explica como aquecimento e perda de vegetação ampliam os fenômenos extremos no Brasil

Por Viviane Oliveira | 20/09/2025 10:59
Ondas de calor estão mais fortes e duram mais tempo, alerta climatólogo
Professor João Lima falou com o Campo Grande News durante vista ao Bioparque Pantanal  (Foto: Henrique Kawaminami)

“As ondas de calor que atingem o Brasil estão mais fortes e duram mais tempo por causa do aquecimento global.” A afirmação é do climatólogo João Lima Sant’Anna Neto, que explicou ao Campo Grande News como o aquecimento dos oceanos, a perda de vegetação e a ação humana têm intensificado os extremos climáticos. Mestre e doutor em Geografia, com mais de 30 anos de pesquisa sobre o clima, ele esteve em Campo Grande para participar da Semana de Geografia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e, após a palestra, visitou o Bioparque Pantanal.

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O climatologista João Lima Sant'Anna Neto alerta sobre a intensificação das ondas de calor no Brasil devido ao aquecimento global. Durante visita ao Bioparque Pantanal, o pesquisador explicou que o fenômeno ocorre quando grandes massas de ar quente bloqueiam a entrada de ar frio, situação agravada pela elevação da temperatura dos oceanos e redução da cobertura vegetal. O especialista ressalta que vivemos uma fase de transição climática, com mudanças mais agudas devido à ação humana. Ele alerta sobre os riscos ao Pantanal e critica a tendência de responsabilizar apenas o clima por tragédias urbanas, destacando que o planeta continuará existindo independentemente da humanidade, mas há uma responsabilidade ética com as futuras gerações.

Segundo João Lima, o fenômeno ocorre quando massas de ar quente, muito volumosas, bloqueiam a entrada de ar frio, mantendo as temperaturas elevadas por vários dias consecutivos. “Mesmo o ar frio sendo mais pesado que o ar quente, o volume do ar quente é muito maior e consegue barrar a passagem. Enquanto uma nova frente fria não chega, a temperatura só aumenta. O problema é que, com o aquecimento global, essas ondas estão ficando mais intensas e durando mais tempo”, afirma.

O pesquisador aponta que a elevação da temperatura dos oceanos tem agravado a situação, levando calor para o continente e alterando a dinâmica climática. A redução da cobertura vegetal também contribui. “Quanto mais você diminui o tamanho da floresta, mais aumenta a temperatura. Uma árvore retira calor da atmosfera. Tirar uma árvore para colocar uma casa já muda o microclima. No Cerrado, no Pantanal e no sul da Amazônia, cada vez que o calor chega, ele permanece mais tempo justamente pela perda de vegetação”, destaca.

Para ele, vivemos uma fase de transição climática, em que padrões conhecidos deixam de existir. “Estamos numa fase de grandes modificações. As estações já não têm os mesmos padrões que conhecíamos. Podemos ter frio em janeiro e calor insuportável em julho. O clima sempre mudou e vai continuar mudando, mas agora a ação humana tem tornado essas mudanças mais agudas e violentas”, ressalta.

Ao comentar a fala da ministra Marina Silva sobre o risco de desaparecimento do Pantanal até o fim do século, caso o ritmo atual de exploração e queimadas continue, o professor citou o geógrafo Aziz Ab'Saber, que mapeou áreas da Amazônia consideradas intocáveis por sua importância para a reprodução do ecossistema. “O mesmo vale para o Pantanal. Já existem áreas mapeadas que não podem ser tocadas. Se for ocupar, você coloca todo o sistema em risco. O problema é que interesses políticos e econômicos têm avançado sobre essas regiões”, lamenta.

Ondas de calor estão mais fortes e duram mais tempo, alerta climatólogo
Imagem exuberante mostra parte do Rio Paraguai em Corumbá (Foto: Henrique Kawaminami)

O climatólogo também critica a tendência de responsabilizar apenas o clima por enchentes e tragédias urbanas. “A magnitude de uma enchente urbana está muito mais ligada ao planejamento das cidades, à impermeabilização do solo e ao manejo inadequado de córregos e áreas verdes do que apenas à intensidade da chuva. É preciso separar o que é fenômeno climático do que é consequência da forma como ocupamos o espaço”, explica.

Apesar do cenário preocupante, o professor lembra que a sociedade tem uma responsabilidade ética e moral com o futuro. “O planeta não perdoa, o planeta não precisa da gente. Já eliminou muitas espécies que se julgavam donas dele. Nós vamos passar e o planeta continuará. Nossa obrigação é deixá-lo minimamente vivível para as próximas gerações. Não podemos tirar delas o direito ao futuro”, afirma.

Ele ressalta que a atenção deve estar voltada tanto para as questões ambientais e climáticas quanto para a justiça social. “Não adianta resolver o problema da cidade e deixar a periferia sem esgoto, no lixo. Tudo isso faz parte de um mesmo pacote, que é a nossa sobrevivência no planeta”, alerta.

Além de falar sobre os riscos ambientais, o professor também destacou as diferenças entre meteorologia e climatologia, áreas que muitas vezes são confundidas. A meteorologia, segundo ele, está voltada para a previsão do tempo imediato, enquanto a climatologia analisa períodos mais longos, identifica padrões e anomalias e busca compreender as transformações do clima.

Ondas de calor estão mais fortes e duram mais tempo, alerta climatólogo
Carcaças de animais mortos durante o incêndio ocorrido no ano passado no Pantanal de Corumbá (Foto: Henrique Kawaminami)

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