Pantanal de MS sofre pressão de obras e agronegócio, aponta estudo internacional
Rota Bioceânica e atividade agropecuária são elencadas como fatores que colocam o bioma em risco.
O Pantanal, formado pelos rios Paraguai e Paraná, tem posição central no maior sistema de áreas úmidas do planeta. Um estudo internacional aponta que essa rede – que se estende por mais de 3.400 quilômetros entre Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina – cumpre funções ecológicas vitais, mas sofre ameaças crescentes de megaprojetos e da expansão agropecuária.
RESUMO
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O Pantanal, maior planície alagável do planeta, enfrenta crescentes ameaças devido à expansão do agronegócio e megaprojetos de infraestrutura. Localizado no coração do sistema Paraguai-Paraná, o bioma conecta importantes ecossistemas como Amazônia, Cerrado e Chaco, sendo vital para a biodiversidade regional. Um estudo internacional alerta sobre os impactos da Hidrovia Paraguai-Paraná e da Rota Bioceânica na região. A conversão de áreas naturais em pastagens e lavouras tem causado problemas ambientais significativos, como erosão e contaminação da água, afetando também comunidades tradicionais e a pesca local.
O Paraguai é o único grande rio do mundo que nasce em áreas tropicais úmidas e deságua em regiões temperadas. Essa característica o torna um elo biogeográfico entre ecossistemas distantes. “Todos os bosques em galeria do sistema fluvial Paraguai-Paraná têm origem amazônica”, destaca o estudo, que aponta a influência da floresta até os “montes brancos” no Delta do Paraná, na Argentina.
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No coração desse corredor está o Pantanal sul-mato-grossense, considerado a maior planície alagável contínua do planeta. Sua localização estratégica conecta Amazônia, Cerrado e Chaco, o que explica a diversidade de fauna e flora registrada na região.
“As áreas úmidas são consideradas entre os ambientes mais produtivos do mundo… berços de diversidade biológica e fontes de água e produtividade primária”, aponta o relatório. Nessas áreas, os pulsos de inundação controlam secas e enchentes, filtram poluentes e sustentam espécies migratórias, como peixes e aves que dependem da livre circulação pelos rios.
Obras de infraestrutura em debate - Os pesquisadores chamam atenção para o impacto de megaprojetos. Entre eles, a Hidrovia Paraguai-Paraná, discutida há mais de duas décadas, mas ainda alvo de forte resistência de ambientalistas e comunidades locais.
“A segmentação da bacia com barragens impõe barreiras à distribuição dos organismos e interfere com as funções migratórias de grande número de espécies, especialmente de peixes, gerando uma ampla gama de distúrbios ambientais”, adverte o estudo.
Outro ponto crítico é a construção da ponte internacional entre Carmelo Peralta (Paraguai) e Porto Murtinho, parte da Rota Bioceânica. O documento destaca “impactos severos sobre territórios de comunidades indígenas” do lado paraguaio e boliviano, mas que também atingem diretamente o Pantanal brasileiro.
Pressão do agronegócio - O relatório afirma que a expansão agropecuária é um dos principais fatores de ameaça na região. “A intensificação da agricultura e a expansão da fronteira agropecuária também têm sido fonte de inúmeras ações de resistência”, descreve.
Em Mato Grosso do Sul, áreas de Cerrado e Pantanal têm sido convertidas em pastagens e lavouras de soja e cana. Para os especialistas, esses processos geram “uma imensa cadeia de consequências negativas”, como compactação do solo, erosão, assoreamento dos rios e contaminação da água por fertilizantes e agrotóxicos.
Pesca e modo de vida - Outro ponto de destaque é a pressão sobre a pesca, atividade econômica e cultural para comunidades ribeirinhas. Só no Pantanal brasileiro, há 3.500 pescadores profissionais e cerca de 60 mil turistas por ano em busca da pesca esportiva.
“Existe uma considerável diversidade de técnicas e artes de pesca em toda a região, o que se deve às tradições de cada comunidade, assim como às condições ecológicas e legais”, cita o estudo.
O documento alerta que espécies como o sábalo e o surubim estão em risco por causa da sobrepesca e da perda de áreas de reprodução. O debate recente sobre a “cota zero” em Mato Grosso do Sul se insere nesse cenário.
Conservação x desenvolvimento - Apesar de todos os países da Bacia do Prata serem signatários de acordos como o Convenio de Diversidad Biológica (1992) e a Convenção de Ramsar, o estudo aponta que a aplicação prática ainda é frágil.
“O problema da biodiversidade não faz parte de maneira efetiva das políticas e do planejamento do desenvolvimento econômico da região”, afirma o texto. O diagnóstico reforça que projetos de infraestrutura, mineração e agricultura continuam sendo priorizados em detrimento da conservação.
Caminhos possíveis - Entre as soluções, o relatório defende a valorização do sistema Paraguai-Paraná em uma perspectiva histórica e cultural. “O sistema merece ser revalorizado em um contexto histórico e sociocultural que permita hierarquizar outros atributos além dos meramente econômicos”, sugere.
Também recomenda maior participação de comunidades tradicionais e indígenas na gestão, além de ampliar investimentos em pesquisa científica, hoje concentrados em grandes centros urbanos.
MS no centro da disputa - O estudo deixa claro que Mato Grosso do Sul é um dos pontos mais sensíveis desse debate. Ao mesmo tempo em que o Estado busca se consolidar como corredor logístico para o agronegócio, abriga uma das áreas mais importantes de biodiversidade do planeta.
De Corumbá a Porto Murtinho, passando por reservas como o Parque Nacional do Pantanal e a Serra da Bodoquena, o Estado enfrenta o desafio de conciliar conservação e desenvolvimento.
Para os pesquisadores, essa escolha terá impacto global. “As áreas úmidas da Bacia do Prata são um patrimônio natural de importância mundial. A sua preservação é essencial não apenas para os países da região, mas para toda a humanidade.”
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