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Meio Ambiente

Peixes jardineiros: saiba quais espécies são verdadeiros plantadores do Pantanal

Rios funcionam como verdadeiras estradas florestais, onde indivíduos podem percorrer até 100 km com sementes

Por Gabriela Couto | 11/06/2025 18:28
Peixes jardineiros: saiba quais espécies são verdadeiros plantadores do Pantanal
Piraputanga é uma das espécies responsáveis por dispersar sementes (Foto: Diego Zoccal)

Você sabia que alguns dos principais responsáveis por manter vivas as florestas do Pantanal vivem dentro dos rios? São os chamados peixes frugívoros, conhecidos pelos cientistas como “peixes jardineiros”, verdadeiros agentes da natureza que comem frutos das árvores da mata ciliar e espalham sementes por onde passam.

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Peixes atuam como jardineiros no Pantanal, dispersando sementes e mantendo a biodiversidade. Estudo publicado na Nature Reviews Biodiversity alerta para a importância desses peixes frugívoros, como pacu, piraputanga e piau, que se alimentam de frutos e espalham sementes por longas distâncias, conectando florestas e regenerando áreas degradadas. A pesquisa destaca o papel crucial dos animais dispersores de sementes, como peixes, aves e mamíferos, para a saúde dos ecossistemas, o armazenamento de carbono e a resiliência florestal. Ações humanas, como construção de barragens e pesca predatória, ameaçam esses peixes, comprometendo a regeneração natural das florestas. Cientistas defendem a inclusão da preservação dos dispersores de sementes em estratégias de restauração e combate às mudanças climáticas.

Essa relação invisível aos olhos, mas essencial para o equilíbrio ambiental, está no centro de um alerta publicado na revista Nature Reviews Biodiversity. O estudo, feito por pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Europa, aponta que o desaparecimento dos animais dispersores de sementes, como tucanos, antas, macacos e peixes, ameaça diretamente a biodiversidade, o armazenamento de carbono e a resiliência das florestas diante das mudanças climáticas.

“O papel dos animais frugívoros é tão central na manutenção da biodiversidade das plantas que os esforços de restauração e proteção de ecossistemas correm o risco de fracassar se o declínio dos dispersores de sementes não for enfrentado”, afirmou o ecólogo Mauro Galetti à Agência FAPESP. Ele é um dos autores do artigo e diretor do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima), sediado na Unesp de Rio Claro.

Quem são os jardineiros do rio?

No caso do Pantanal, a maior planície alagável do planeta, os rios funcionam como verdadeiras estradas florestais. Neles, peixes frugívoros percorrem grandes distâncias e levam sementes em seus estômagos, excretando-as depois em locais distantes, muitas vezes onde essas espécies de plantas ainda não existiam.

Entre os principais peixes jardineiros do Pantanal estão: pacu, pacu-peva,  piraputanga, sardinha-de-água-doce (ou sardela), piau-três-pintas, piauvuçu e sauá.

Peixes jardineiros: saiba quais espécies são verdadeiros plantadores do Pantanal
Exemplar de pacu em aquário também é considerado 'jardineiro' (Foto: Diego Zoccal)

Esses peixes são chamados “frugívoros” porque comem frutos das árvores da mata ciliar. “Eles funcionam como jardineiros naturais”, explica o biólogo Diego Zoccal Garcia, doutor em Ciências Biológicas. “Comem o fruto em um lugar, migram, e excretam a semente em outro. Muitas vezes a distâncias de mais de 100 km. Isso mantém as florestas conectadas e ajuda a regenerar áreas degradadas.”

Algumas plantas desenvolveram uma relação tão estreita com os peixes que até receberam nomes populares baseados neles, como melancia-de-pacu, laranjinha-de-pacu, sardinheira e ingá, esta última muito conhecida por quem vive nas margens dos rios pantaneiros.

Serviço ecológico essencial - Mauro Galetti reforça que o processo de dispersão por animais é fundamental não só para a biodiversidade, mas também para o armazenamento de carbono nas florestas. “Muito se fala sobre créditos de carbono e restauração da floresta, mas quem planta esse carbono? É o tucano, a cutia, a anta, a jacutinga... ou os peixes como o pacu. Se não houver esses animais, a floresta não se sustenta sozinha”, afirmou à FAPESP.

Ele destaca, por exemplo, que uma árvore como a copaíba só se reproduz se houver tucanos e macacos para espalhar suas sementes. “O mesmo vale para as florestas do Pantanal, onde os peixes fazem esse trabalho de jardinagem aquática. Eles são tão importantes quanto as abelhas na polinização.”

Peixes jardineiros: saiba quais espécies são verdadeiros plantadores do Pantanal
Dois indivíduos da espécie piau-três-pintas (Foto: Diego Zoccal)

Risco silencioso - Apesar de ainda possuírem populações estáveis, algumas espécies de peixes jardineiros estão ameaçadas por ações humanas, como a construção de barragens, que bloqueiam suas rotas migratórias, e a pesca predatória, especialmente de peixes muito valorizados como o pacu e o piau-três-pintas.

Galetti também chama atenção para o fato de que o declínio dos dispersores de sementes ainda é pouco considerado nas estratégias de restauração e combate às mudanças climáticas.

“A restauração não consiste apenas em plantar árvores. É preciso garantir quem vai manter o futuro dessa floresta, e são os animais que fazem isso. Antigamente acreditava-se que, ao plantar a floresta, os animais voltariam. Mas não é assim. É muito mais complexo.”

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