Bumlai diz que tratou com Marisa e Marcelo Odebrecht sobre Instituto Lula
Pecuarista de Mato Grosso do Sul prestou depoimento ao juiz Sergio Moro na manhã desta terça-feira
Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o pecuarista sul-mato-grossense José Carlos Bumlai afirmou em juízo que a ideia de criar o Instituto Lula surgiu de uma conversa com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, além de confirmar que tratou da instalação da entidade com o empreiteiro Marcelo Odebrecht. O produtor rural foi ouvido pelo juiz federal Sergio Moro na manhã desta terça-feira (9).
Ele e outras três testemunhas foram chamadas pelo MPF (Ministério Público Federal) para depor no processo que investiga se o ex-presidente recebeu como propina o terreno na zona sul de São Paulo, onde seria construída a nova sede do Instituto Lula e um apartamento vizinho ao que ele onde morava, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Conforme apurou o Paraná Portal, site vinculado ao Uol, na audiência, Bumlai contou que conheceu o ex-presidente na Copa da Mundo de 2002 – realizada entre maio e junho daquele ano – e que foi apresentado a Lula pelo então governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT.
Ele continuou dizendo que desde então manteve amizade com o ex-presidente e a família. “Nunca tive negócios com ele”, destacou, apesar de ser acusado de atuar em favor de Lula, para facilitar a chegada da propina paga pela Odebrecht nas mãos de Lula e Marisa.
Ainda em depoimento, Bumlai disse que a ex-primeira-dama o procurou em 2010 para falar sobre o novo Instituto Lula. Ela queria ajuda para procurar empresários que pudessem ajudar na implantação da entidade.
“Eu não sabia como funcionava isso aí. A não ser aquilo que foi feito pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso. Constituía dez empresários que participassem do processo que levantasse o Instituto Lula, onde guardaria os presentes e as coisas… Um museu que queriam levantar”, declarou.
Odebrecht – Segundo a Folha de S. Paulo, o pecuarista fez questão de afirmar também que, na ocasião, Marisa pediu que ele não falasse com Lula sobre este assunto.
Na mesma audiência, Bumlai contou que recebeu recado de Marcelo Odebrecht avisando que algum representante da construtora iria procurá-lo para tratar do assunto e que chegou a visitar o terreno na zona sul.
Com o relato, o pecuarista, que é também testemunha de defesa de Marcelo, confirma a versão dada pelo empreiteiro na delação premiada. O empresário disse que a Odebrecht aceitou realizar a compra do terreno no valor de R$ 10 milhões, mas descontou o montante de um débito que a empresa tinha com o Partido dos Trabalhadores.
Denúncia – O Ministério Público Federal acusa o ex-presidente de receber o terreno e o apartamento antes citados como propina no valor de R$ 12 milhões. Em troca, a Odebrecht garantiria contratos com a Petrobras.
Lula responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mais sete pessoas são rés nesse processo.
Bumlai já foi condenado por corrupção passiva e gestão fraudulenta a nove anos e dez meses de prisão. O pecuarista foi preso em novembro de 2015, mas hoje cumpre pena em regime domiciliar.
Outro lado – À Folha, a defesa do ex-presidente afirmou que o depoimento de Bumlai só mostra que “a ideia da construção de um memorial para abrigar o acervo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não guarda qualquer relação com os oito contratos firmados entre a Odebrecht e a Petrobras, como diz a acusação do Ministério Público Federal”.
“Ao depor, o empresário José Carlos Bumlai deixou claro que Lula jamais solicitou qualquer intervenção sua objetivando a aquisição do imóvel na Rua Haberbeck Brandão, 178, em São Paulo. Mais ainda, Bumlai informou que lhe foi pedido que não comentasse o assunto com Lula”, completou a nota.