Condenação de Bolsonaro redesenha forças políticas também em Mato Grosso do Sul
Decisão do STF acelera reconfiguração de alianças, abre espaço para Tarcísio e fortalece Azambuja
A condenação de Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal) a 27,3 meses de prisão, à perda de direitos políticos e à cassação da patente de capitão da reserva produziu um terremoto político no país e em Mato Grosso do Sul, um dos redutos históricos do bolsonarismo. A decisão abre espaço para novos arranjos partidários, desloca forças e impõe a reconfiguração de lideranças locais.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
A condenação de Jair Bolsonaro pelo STF a 27,3 meses de prisão e perda de direitos políticos provoca uma reconfiguração das forças políticas em Mato Grosso do Sul. O ex-governador Reinaldo Azambuja assume o comando do PL no estado, enquanto o Capitão Contar emerge como figura-chave nas articulações para a direita local. No cenário nacional, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, desponta como principal herdeiro do eleitorado conservador. A ministra Simone Tebet ganha projeção e pode ser candidata ao Senado por São Paulo, enquanto o PT rompe com o governo Riedel em MS e articula candidatura própria ao governo estadual.
Ao mesmo tempo, projeta no plano nacional um novo polo: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que desponta como herdeiro natural do eleitorado de direita, já se colocando como oponente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao articular a anistia, no Congresso, para os condenados.
- Leia Também
- Excluídos de conversas, deputados e vereadores do PSDB em MS criticam cúpula
- Mesmo sem Riedel e Azambuja, PSDB tem a meta de aumentar bancada de MS em 2026
Azambuja assume o PL e Contar vira peça-chave
Em MS, o movimento mais simbólico é a filiação de Reinaldo Azambuja ao PL, partido de Bolsonaro, no dia 21 de setembro, em processo que lhe dará o comando da sigla no Estado. O ex-governador, líder do grupo político dominante, costura para preservar a unidade da direita e evitar fissuras que compliquem a reeleição de Eduardo Riedel (UP) e a sua própria candidatura ao Senado.
O governador, por sua vez, já fortaleceu sua base ao se filiar ao PP, ampliando o peso da sigla na federação com o União Brasil. O resultado é uma reorganização pragmática: sem Bolsonaro, a direita busca se manter competitiva sob novas bandeiras, mas mantendo cerrada oposição a Lula e às esquerdas.
Nesse cenário, o Capitão Contar (PRTB), ex-deputado estadual e candidato ao governo em 2022, tornou-se o fiel da balança. Pré-candidato ao Senado, ele é cortejado por diferentes legendas, inclusive o PL.
“Eu torço pra que ele (Azambuja) consiga reorganizar o partido do Bolsonaro e os bolsonaristas todos ali. Eu vou sempre ser a favor de a direita se unir. Havendo alinhamento de Brasília, com o Tarcísio, com o Bolsonaro, com o Valdemar, eu posso considerar um convite do PL”, afirmou ao Campo Grande News.
Contar insiste na lógica da unidade: “Se a direita se divide, fica 30, 30, e a esquerda continua com os 40. Então, não é inteligente dividir.” Apesar da gratidão ao ex-presidente — “Ele me ajudou a ser deputado estadual, me ajudou a ir para o segundo turno do governo. A gratidão é eterna” —, Contar admite que o futuro de Bolsonaro é restrito ao papel de fiador. “Se ele indicar alguém, esse alguém nós vamos erguer.”
Reações dividem a classe política
As reações à condenação dividiram a classe política. A senadora Tereza Cristina (PP) disse que Bolsonaro foi vítima de “grande injustiça” e prometeu lutar para reverter a decisão. O deputado Rodolfo Nogueira (PL) classificou o julgamento como “o maior golpe de todos os tempos” e atacou o STF. Já Geraldo Resende (PSDB) adotou tom mais institucional: “O fundamental é que prevaleçam a segurança jurídica, a confiança nas instituições e a proteção da democracia.”
A direita sul-mato-grossense jura que não abandonará Bolsonaro e promete estar com o ex-presidente na luta que se travará no Congresso, já na próxima semana, pela anistia. Em linha com o voto do ministro Luiz Fux, o senador Nelsinho Trad (PSD) acha que o STF não é o foro adequado para julgar Bolsonaro e diz ter estranhado a forma acelerada como o processo transcorreu.
Ele colocou a anistia na pauta: “É papel do Congresso Nacional, como Casa do povo, assumir protagonismo neste momento, discutindo com serenidade e responsabilidade propostas que possam pacificar o país. O debate sobre a anistia precisa ocorrer em ambiente institucional, respeitando divergências, mas buscando um objetivo comum: preservar a unidade da nação e restabelecer a confiança dos brasileiros em suas instituições.”
Tebet se fortalece e Tarcísio herda a direita
Enquanto a direita se reorganiza, o PT rompeu com o governo Riedel e se move para lançar candidato próprio. O nome preferido da direção estadual é o ex-deputado federal Fábio Trad, recém-filiado, mas o Planalto pressiona pelo deputado estadual Zeca do PT, ex-governador e maior liderança do partido no Estado, que resiste a aceitar o papel de candidato ao governo.
A aposta é que, sem a hegemonia do bolsonarismo, uma candidatura progressista pode ser mais competitiva. Trad, que só quer voltar à Câmara, poderia ser opção ao Senado na provável hipótese de Lula emplacar Simone como candidata ao Senado por São Paulo.
No outro campo, cresce a especulação sobre o futuro de figuras da política tradicional. Marcos Pollon, expoente da ala armamentista, cogita deixar o PL para construir candidatura própria, reforçando a fragmentação do bloco conservador. É provável que se mude para o Novo.
Simone Tebet, ministra do Planejamento, também ganhou projeção. No plano nacional, foi assediada por empresários e juristas em um jantar que reuniu 200 convidados do setor produtivo, na casa do empresário Sérgio Zimerman, dono da Petz-Cobasi, em São Paulo, no mesmo momento em que o STF condenava Bolsonaro. Tebet defendeu protagonismo privado nas reformas, exortou o empresariado a participar mais dos debates que definem as decisões do Congresso e saiu fortalecida.
Embora seja cotada para disputar o Senado por São Paulo em 2026, permanece como trunfo de Lula também em seu Estado natal. Para aliados do Planalto, ela pode ser a carta de maior valor na disputa de MS, seja para o Senado ou até para o governo. Simone não diz sim nem não, mas aceita o flerte com o PT paulista.
No plano nacional, Tarcísio de Freitas se projeta como o maior beneficiado da tragédia política de Bolsonaro. Ao herdar a condição de principal líder da direita, pode articular um campo de centro-direita em torno de sua candidatura presidencial. O desafio é dobrado: disputar a Presidência contra um Lula fortalecido e, ao mesmo tempo, manter o controle de São Paulo, alvo preferencial do PT.
Ele também terá de enfrentar a rebeldia de Eduardo Bolsonaro, que, mesmo com permanência indefinida nos Estados Unidos, dá sinais de que não aceitará uma chapa presidencial sem um nome da família. Eduardo representa uma ala descontente no partido, na qual Pollon se insere, e pode repetir o movimento que levou o clã a trocar o PSL pelo PL no início do governo de seu pai.
Como se vê, com as mudanças em curso, a política sul-mato-grossense deixa de ser plebiscitária para se tornar pragmática e Tarcísio emerge como herdeiro da direita, mas terá que lidar com a disputa interna e a sombra permanente do bolsonarismo.