Conversas no Whatsapp envolvem Tenente Portela em plano de golpe, aponta PF
Suplente de senador, Portela trocou mensagens com Mauro Cid e visitou Bolsonaro 13 vezes em dezembro de 2022
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, retirou o sigilo do inquérito de quase 900 páginas da Polícia Federal que investiga tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito por parte de militares e civis ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre os personagens agora sob investigação, está Aparecido Andrade Portela, conhecido como Tenente Portela (PL), suplente da senadora Tereza Cristina (PP) e presidente estadual do PL em Mato Grosso do Sul, cuja atuação revela vínculos estreitos com os fatos ocorridos em 8 de janeiro, em Brasília, bem como aparece em diálogos com fortes indícios de tentativa de ruptura democrática nos meses finais de 2022.
RESUMO
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O inquérito da Polícia Federal, que investiga uma tentativa de golpe de Estado relacionada a eventos de 8 de janeiro de 2023, revela que o Tenente Portela, suplente da senadora Tereza Cristina e presidente do PL em Mato Grosso do Sul, atuou como intermediário entre o governo de Jair Bolsonaro e financiadores de manifestações antidemocráticas. Conversas interceptadas indicam que Portela usou códigos para se referir ao golpe, como a expressão "realização de um churrasco". A investigação também destaca a preocupação de Portela em ser identificado como organizador dos atos criminosos, refletindo um clima de desespero e a necessidade de comunicação segura com aliados, como Mauro Cid.
A investigação apontou que "os elementos de prova indicam que Portela atuou como um dos intermediários entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e financiadores das manifestações antidemocráticas residentes no estado de Mato Grosso do Sul".
Diálogos e ações - Os diálogos interceptados entre Portela e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, revelaram o uso de códigos para se referirem ao golpe, como quando Portela mencionou, em conversas pelo WhatsApp, a "realização de um churrasco" – uma alusão a um possível golpe de Estado.
O inquérito descreve que, em um desses diálogos, no dia 26 de dezembro de 2022, "Mauro Cid é cobrado pelo Tenente Portela sobre a ‘realização de um churrasco’" e "Portela diz: 'O pessoal que colaborou com a carne, estão me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco'". Esse trecho, segundo a investigação, evidencia que Portela estava se referindo ao golpe de forma codificada, como um "churrasco", e estava pressionando Cid para que o ato de ruptura institucional fosse consumado.
A mensagem de Cid em resposta, dizendo "Vai sim. Ponto de honra. Nada está acabado ainda da nossa parte", reflete a continuidade do plano golpista, conforme mencionado no inquérito: "Os diálogos, realizados através de mensagens cifradas, demonstram que os interlocutores ainda tinham esperança de concretizar o plano que estava em ação desde o fim do 2° turno das eleições presidenciais de 2022".
A investigação ainda diz que Portela, com uma longa amizade com Bolsonaro desde os anos 1970, manteve uma relação próxima com o então presidente, realizando diversas visitas ao Palácio do Alvorada. De acordo com os registros de entrada e saída no Palácio, "o investigado Tenente Portela realizou ao menos 13 (treze) visitas no mês de dezembro de 2022 ao então presidente Jair Bolsonaro.
Investigação e repercussões - A investigação se aprofundou na identificação dos financiadores das manifestações antidemocráticas, com destaque para o papel de Portela como intermediário. A Polícia Federal observou que "os investigados tinham confiança de que os atos antidemocráticos ocorridos no 08/01/2023 desencadeariam ações concretas das Forças Armadas para executar um golpe de Estado".
Em dado momento, Portela se mostrou preocupado com sua identificação nas redes sociais como um dos organizadores dos atos criminosos. O inquérito relata que "Portela envia mensagens com prints para Mauro Cid sobre posts da rede social X, com usuários questionando sobre 'golpistas' e pedindo informações sobre os envolvidos no ataque de 8 de janeiro".
No dia 12 de janeiro de 2023, Portela enviou uma mensagem, que a PF caracteriza como de “desespero”, dizendo que "pessoal está em cima de mim aqui, infelizmente vou ter que devolver a parte desse pessoal, minha vida está um inferno", o que demonstra sua preocupação em ser identificado e responsabilizado pelos atos.
Em resposta, Cid indicou que enviaria informações por meio de um aplicativo mais seguro, o Signal, como uma forma de proteger sua comunicação: "Mauro Cid então informa que enviou a resposta no aplicativo Signal, o que indica o cuidado que ambos teriam para não serem descobertos".
Alexandre de Moraes ainda determinou o encaminhamento do relatório final da Polícia Federal à Procuradoria-Geral da República (PGR).
O Campo Grande News entrou em contato com Tenente Portela. Ele disse que, até o momento, desconhece o conteúdo do inquérito. "Vou verificar e após entro em contato. Até o momento desconheço".
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