Deputados do PSDB se dividem e calculam rota partidária rumo a 2026
Parlamentares avaliam fusão com Podemos e esperam posicionamento de Riedel e Azambuja antes de decidir futuro

Enquanto o PSDB caminha para uma possível fusão com o Podemos, e negocia também uma federação com o Republicanos, o clima entre os deputados estaduais tucanos de Mato Grosso do Sul é de incerteza, cálculo político e articulações antecipadas de olho em 2026. Em conversas nesta quarta-feira (23) com o Campo Grande News, os deputados estaduais Zé Teixeira, Lia Nogueira e Pedro Caravina revelaram os bastidores da movimentação interna do grupo, que hoje representa a maior força estadual do PSDB no país, mas vive um dilema diante do iminente redesenho da sigla.
RESUMO
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O PSDB de Mato Grosso do Sul enfrenta incertezas com a possível fusão com o Podemos e federação com o Republicanos. Deputados estaduais como Zé Teixeira, Lia Nogueira e Pedro Caravina discutem seus futuros políticos, considerando a decisão do governador Eduardo Riedel, que pode deixar o partido se não houver definição até abril. Zé Teixeira critica a fusão e cogita filiação ao PL, enquanto Caravina e Nogueira aguardam a decisão de Riedel e Reinaldo Azambuja. O PSDB busca manter relevância nacional, mas enfrenta fragmentação interna, com foco nas eleições de 2026.
A conversa ocorreu após a sessão da Assembleia Legislativa, onde os parlamentares, ao final dos trabalhos, se reuniram informalmente para discutir os rumos do partido. A troca de impressões foi motivada diretamente pela fala do governador Eduardo Riedel (PSDB), que declarou publicamente que dará um prazo até o fim de abril para que o partido defina seu futuro. Caso isso não ocorra, tomará uma decisão individual sobre sua permanência ou não na legenda.
A afirmação do governador, que ainda é o único dos três eleitos pelo PSDB em 2022 que permanece no partido (após a filiação de Raquel Lyra ao PSD e a sinalização de Eduardo Leite em seguir o mesmo caminho), repercutiu fortemente entre os deputados. Os parlamentares admitem que a escolha de Riedel e do ex-governador Reinaldo Azambuja será determinante para os próximos passos de cada um, mas também deixam claro que já estão fazendo suas próprias contas políticas.
O deputado estadual Zé Teixeira foi o mais enfático na crítica ao partido. Para ele, o PSDB já não existe mais como força nacional, e a fusão com o Podemos não representa uma solução. "O PSDB acabou. Um partido que só existe em Mato Grosso do Sul não tem como sobreviver. E fazer fusão com o Podemos não adianta nada", disparou.

Segundo Teixeira, sua única possibilidade real de filiação seria ao PL, mas não por influência direta do ex-presidente Jair Bolsonaro ou de lideranças nacionais da legenda. "Eu só entraria no PL se for com a anuência dos meus colegas da bancada estadual. O que pesa pra mim são os nomes do Coronel Davi, João Henrique e Neno Razuk. Se eles não quiserem, não vou. O aval deles é mais importante do que convite de qualquer liderança nacional."
O parlamentar também já admite a possibilidade de ficar sem partido após a oficialização da fusão, aguardando a janela partidária de 2026 para tomar uma decisão mais alinhada com o cenário eleitoral. "Se não for assim, vou pra casa. Ou fico sem partido até abril do ano que vem", afirmou.
Além disso, Zé Teixeira disse que não aceita estar em nenhuma legenda que tenha possibilidade de apoio à esquerda, com o é o caso do PSD, que a nível nacional tem um alinhamento com o governo petista. "Nenhum partido que tenha qualquer possibilidade de se aliar ao PT ou a esquerda. Nenhum partido."
O deputado Pedro Caravina adotou postura mais conciliadora, mas reforçou que sua permanência ou não no novo PSDB dependerá diretamente da decisão das duas principais lideranças estaduais. “Tem duas realidades: se o Riedel e o Reinaldo permanecerem na fusão, existe uma possibilidade concreta de eu também ficar. Mas, se eles saírem, vamos ter que avaliar se esse novo PSDB-Podemos estará na coligação de reeleição do governador. Todos nós aqui estamos comprometidos com esse projeto”, afirmou.
Nos bastidores, Caravina é visto como o mais propenso a assumir protagonismo na nova formação partidária, caso a fusão se concretize e tenha a participação de Riedel e Azambuja. Ele também ressaltou que o cálculo político envolve hoje o entendimento de que uma coligação competitiva deve ter, no máximo, quatro partidos. “Hoje não dá mais para fazer eleição com dez partidos como antes. O cálculo é que até quatro legendas componham uma coligação viável”, avaliou.
A deputada Lia Nogueira também afirmou que irá aguardar a decisão das lideranças tucanas antes de definir sua própria rota. “Eu gostaria muito de ir com o Reinaldo. Vou esperar até o fim do mês para ver o que vai ser decidido. Já recebi convite para o PL, por que não? Não está descartado. Mas o PSDB-Podemos também pode ser uma possibilidade, dependendo de como for estruturado”, declarou.
Para Lia, o cenário ainda é de indefinição, mas o convite do PL é visto com bons olhos, especialmente se houver uma fragmentação interna no PSDB local após a decisão de Riedel.
Debandada do ninho - Desde as eleições de 2018, o PSDB tem sofrido um esvaziamento em nível nacional. Dos três governadores eleitos pela legenda em 2022, dois já romperam ou sinalizaram ruptura com o partido. Com isso, Mato Grosso do Sul passou a ser o último reduto expressivo dos tucanos, com 44 das 79 prefeituras sob comando da sigla, além de uma bancada sólida na Assembleia Legislativa, que ainda conta com os deputados Jamilson Name, Mara Caseiro e Paulo Corrêa.
A fusão com o Podemos e a possibilidade de uma federação com o Republicanos são tentativas da Executiva Nacional de salvar o projeto político e manter alguma competitividade nas eleições de 2026. Mas, como destacou Zé Teixeira, muitos filiados consideram essas articulações guiadas por interesses regionais e pouco conectadas à realidade do partido em Mato Grosso do Sul.
A expectativa é de que até o dia 30 de abril a direção nacional do PSDB anuncie oficialmente a fusão com o Podemos. A partir disso, as decisões individuais dos deputados devem começar a ser tomadas.
O cenário que se desenha é de fragmentação e de realinhamento político com foco em 2026, principalmente com a intenção de garantir a reeleição do governador Riedel e posicionar os parlamentares nas disputas proporcionais. Resta saber se o novo partido, seja ele o PSDB reformulado ou uma nova legenda resultante da fusão, terá força suficiente para manter unido o grupo político que hoje ainda segura o que restou do legado tucano no país.