Para ministro, novo laboratório em MS restabelece confiança na carne
Blairo Maggi disse que a PF jogou credibilidade dos produtos pecuários brasileiros na lata de lixo com a Operação Carne Fraca
Durante a inauguração do Laboratório de Biossegurança Pecuária, na sede da Embrapa Gado de Corte, na tarde desta quinta-feira (30), em Campo Grande, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, disse que a Polícia Federal jogou a credibilidade dos produtos pecuários brasileiros na lata de lixo com a operação Carne Fraca, deflagrada dia 17 de março, e que a instalação será decisiva para restabelecer a confiança do mercado internacional nos produtos brasileiros.
Com início das atividades previsto já para o mês de abril, o Biopec, que promete ser o mais bem estruturado laboratório na área de biossegurança sobre bovinos, aves e suínos do Brasil, segundo a Embrapa, é um mecanismo a mais na garantia da qualidade sanitária do rebanho brasileiro.
Instalado em um espaço de 1.000 metros quadrados com infraestrutura de contenção em biossegurança nível 2 e nível 3, além de uma inédita estrutura para biotério de manutenção e experimentação animal nível 3, o Biopec está pronto para trabalhar com patógenos de animais e micro-organismos agrícolas.
Para o ministro, a estrutura não poderia ter surgido em momento mais oportuno. “Com esse novo laboratório, os negócios da pecuária ganham reforço gigante, um certificado que estamos fazendo o correto com ciência, tecnologia e transparência”, comentou.
Blairo Maggi se refere ao descrédito causado pela Operação Carne Fraca, que levou ao embargo de produtos brasileiros provenientes das unidades dos frigoríficos onde ficou constatado o uso de ácidos para maquiar carnes com validade vencida, com participação de técnicos do próprio ministério.
“Temos bons produtos, somos eficientes, temos uma agricultura e pecuária sustentáveis. Nenhum país no mundo exige 20% de reserva ambiental, como exige Mato Grosso do Sul e 35% como no meu estado, Mato Grosso. Portanto o Brasil não é devedor, é credor. Devedor é argentino, indiano e chinês que não cuidam... e não estou aqui reclamando. Veio essa operação da PF e jogou tudo isso na lata do lixo”, disparou Maggi.
Com base na estimativa do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, que indica queda de 19% na média diária da exportação de carnes pelo Brasil, ou seja, de US$ 62,2 milhões para US$ 50,5 milhões, antes e depois da Operação Carne Fraca, o prejuízo do setor em Mato Grosso do Sul é de US$ 12,6 milhões (cerca de R$ 40 milhões). Isso, levando em conta a média mensal das exportações de carnes de Mato Grosso do Sul em 2016, que totalizaram US$ 783 milhões, o que representaria queda de US$ 65,25 milhões para US$ 54 milhões em março de 2017.
Dos onze países chegaram a suspender temerariamente suas importações de carnes do Brasil, sete deles compraram de Mato Grosso do Sul em 2016. Na lista, os maiores compradores de carne bovina sul-mato-grossense: China (22%), Chile (11%), Arabia Saudita (11%), Rússia (9%), União Europeia (7%) e Estados Unidos (3%).
Segundo a Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul), o volume em dólares nas importações de carne sul-mato-grossense pelo mercado exterior em 2016 é liderado pela China com US$ 170 milhões, seguida pelo Chile, US$ 97 milhões, Arabia Saudita, US$ 86 milhões, Rússia, US$ 69 milhões, União Européia, US$ 75 milhões, e Estados Unidos, US$ 3,7 milhões.
“Vamos ter que começar tudo de novo pra reconquistar a confiança internacional. O laboratório vem ao encontro de tudo que estou dizendo, o Brasil é um país sério que se preocupa com qualidade de seu produto, ciência, tecnologia, meio ambiente e legislação. Hoje temos que fazer a coisa correta e suportar auditoria de quem quer que seja”, finalizou o ministro.
O governador, Reinaldo Azambuja (PSDB), também lembrou da operação da PF durante a inauguração. “Vivemos um momento de incertezas, mas não se pode generalizar, como fez essa operação que gerou dúvida sobre o setor que é orgulho brasileiro. Criminalizou a carne brasileira. Temos qualidade, sanidade animal e vegetal de excelência e não podemos criminalizar a produção brasileira”, defendeu.
A Embrapa enfatiza que, com o Biopec, o Brasil muda de estágio no desenvolvimento de um conjunto significativo de pesquisas em pecuária. Agora será possível fazer, em um mesmo local, pesquisas relacionadas a agentes de alto risco como vírus da febre aftosa, da influenza aviária, da influenza suína, raiva, brucelose, tuberculose”, disse o diretor-chefe da Embrapa Gado de Corte, Cleber Soares.
Segundo ele, com o laboratório será possível estudar bactérias causadoras de tuberculose bovina, botulismo, antrax, salmonelose e de intoxicações alimentares em um mesmo local, além de desenvolver testes e vacinas para doenças como a brucelose e trabalhos de pesquisa com príons (proteínas) causadores de encefalopatias espongiformes (vaca-louca e scrapie), sempre de acordo com as mais avançadas normas de biossegurança do mundo.
A instalação do laboratório teve investimento de R$ 10 milhões, oriundo do orçamento da própria empresa estatal e do Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).