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Política

Primeira mulher negra a dirigir Fetems, Deumeires quer ampliar diálogo e luta

Eleita com mais de 80% dos votos, Deumeires Morais diz que irá lutar por novo concurso público no Estado

Por Mylena Fraiha | 04/06/2025 11:35
Primeira mulher negra a dirigir Fetems, Deumeires quer ampliar diálogo e luta
Deumeires fala sobre sua trajetória sindical e profissional, além das pautas mais urgentes para a categoria (Foto: Lennon Almeida).

“Muito nos orgulha liderar um grupo tão forte”, é o que compartilha a nova presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), Deumeires Morais, de 59 anos, a primeira mulher negra a conquistar o cargo no Estado.

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Deumeires Morais, de 59 anos, é a primeira mulher negra a presidir a Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul). Eleita com mais de 70% dos votos, a professora natural de Tupi Paulista (SP) construiu sua carreira no magistério sul-mato-grossense desde a década de 80. Sua trajetória inclui a conquista judicial da licença-maternidade quando ainda era professora contratada, abrindo precedente para outras profissionais. A nova presidente da Fetems assume o cargo com a missão de fortalecer a luta da categoria, que conta com 23 mil filiados. Entre as pautas prioritárias estão o fim do desconto de 14% dos aposentados, a aprovação do piso salarial dos administrativos, a realização de concurso público com equiparação salarial e a oposição à privatização de escolas públicas. Deumeires defende o diálogo com o governo estadual, mas sem abrir mão das mobilizações caso as demandas da categoria não sejam atendidas.

Deumeires foi eleita com mais de 80% dos votos dos trabalhadores da Educação, tanto professores quanto funcionários administrativos, em eleições realizadas em todo o Estado na última segunda-feira (2). Em conversa com o Campo Grande News, a professora e líder sindical falou sobre sua trajetória sindical e profissional, além das pautas mais urgentes para a categoria, que tem cerca de 23 mil profissionais filiados à federação.

Nascida em Tupi Paulista (SP), ela explica que chegou a Dourados no final da década de 80, aos 21 anos, recém-casada, cheia de sonhos e iniciando a vida no magistério público. Formada em Ciências e Matemática, com pós-graduação em Gestão Escolar, começou a lecionar em 1987.

Ela comenta que, no começo, foi difícil se adaptar. “Eu era uma menina do interior paulista que poucas vezes tinha saído da minha cidade. Naquela época, para mim, Dourados já era a cidade grande.” Hoje, ela afirma que MS é seu lar. “Foi a cidade que me acolheu, onde pude construir minha família, minha carreira e minha história no movimento sindical”.

Devido à idade e ao contexto educacional do Estado, ela lembra que chegou a ser confundida com alguns estudantes. “Eu era da idade dos meus alunos, praticamente. Tive que ter uma carteirinha da diretora atestando que eu era professora”, relembra.

A trajetória de Deumeires também é marcada por “primeiras vezes”. Ainda como professora contratada, foi a primeira professora convocada de MS a conseguir judicialmente o direito à licença-maternidade — uma vitória contra um sistema que não garantia esse direito às mulheres.

Primeira mulher negra a dirigir Fetems, Deumeires quer ampliar diálogo e luta
Deumeires relembra que foi a primeira convocada de MS a conseguir judicialmente o direito à licença-maternidade (Foto: Henrique Kawaminami).

Falaram para mim que eu ia ter que pedir exoneração, porque não tinha direito à licença. E eu não me dei por vencida. Procurei o meu sindicato, e o presidente entrou com o mandado de segurança que me garantiu o direito”, conta a professora.

Com perfil participativo e próximo ao movimento sindical, em 2005 ela recebeu o primeiro convite para se aproximar da Fetems. “Eles foram até a escola onde eu era diretora e se apresentaram. A gente não se conhecia. Foi a partir dali que começou nossa relação dentro do movimento sindical — e que acabou dando muito certo".

Desde então, ela segue na direção do sindicato. Hoje, eleita presidenta, será a 4ª mulher a presidir a maior entidade sindical do Estado, cuja base é composta por 85% de mulheres. As outras presidentes foram Elza Jorge (ex-secretária estadual de Educação), Fátima Silva (atual secretária-geral da CNTE) e Mara Carrara.

Como mulher negra, ela pontua que a vitória torna-se ainda mais significativa. “É importante que as mulheres se sintam valorizadas e emancipadas”, aponta. “E o fato de eu ser negra, eu acredito que traz uma visibilidade muito positiva para a nossa raça. Muitas vezes, pessoas negras não ocupam os espaços de destaque — normalmente estão em posições secundárias, em empregos menos valorizados".

Primeira mulher negra a dirigir Fetems, Deumeires quer ampliar diálogo e luta
Deumeires e o antigo presidente da Fetems, Jaime Teixeira, em entrevista para o Campo Grande News (Foto: Lennon Almeida).

Diálogos para o futuro - Sobre as principais demandas para a gestão, ela reitera que as pautas debatidas nas eleições serão prioridade. Entre elas: o fim do desconto de 14% dos aposentados, a aprovação do piso salarial dos administrativos e a realização de concurso público, com foco na equiparação salarial entre professores efetivos e convocados.

Ela também afirmou que pretende se opor à privatização de escolas públicas no Estado. “Nós já temos uma campanha prevista para o início do segundo semestre, contra a privatização da escola pública. Isso já aconteceu no Paraná, está sendo ampliado no estado de São Paulo, e queremos começar a pautar para mostrar ao governo do Estado que nós, da Fetems, somos contrários a esse projeto.”

Questionada sobre a relação com o governo estadual, ela aponta que pretende manter uma posição de “diálogo”, mas sempre em favor dos professores. “A gente quer manter esse posicionamento de dialogar. Claro que, se esse diálogo não alcançar o que foi aprovado em assembleia pela categoria, isso não quer dizer que não possamos ter mobilizações".

Primeira mulher negra a dirigir Fetems, Deumeires quer ampliar diálogo e luta
Deumeires discursa em ato pela educação, realizado no centro da Capital (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo).

Deumeires também reforça que a política sindical se faz nas ruas. Ela dá como exemplo o ato por valorização da escola pública, realizado em 23 de abril deste ano, durante a 26ª Semana Nacional de Promoção e Defesa da Educação Pública. Na data, milhares de professores e trabalhadores da educação de Mato Grosso do Sul lotaram a Avenida Afonso Pena, em Campo Grande, para reivindicar concursos e denunciar a precarização do ensino.

“Mato Grosso do Sul foi a maior mobilização do Brasil. A gente tem as redes municipais filiadas nos municípios, bem como as redes estaduais, e essa capacidade de mobilização com os nossos sindicatos municipais”, explica. “Eu credencio essa nossa força à forma de organização que a federação tem”, conclui Deumeires.

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Professores e funcionários da educação lotam a Avenida Afonso Pena, em ato realizado em abril (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo).

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