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Cidades

Mortes de dentista e de médico em 24h alertam sobre saúde mental de quem cuida

Burnout, estresse, sobrecarga emocional e muita pressão afetam profissionais da linha de frente da saúde

Por Jéssica Fernandes | 05/06/2025 16:45
Mortes de dentista e de médico em 24h alertam sobre saúde mental de quem cuida
Unidade de urgência da Santa Casa, em Campo Grande. (Foto: Arquivo)

O fato de que as pessoas que estão tratando pessoas estão tirando a própria vida acende essa luz de alerta de como está o mundo, como está a saúde mental”, afirma a psiquiatra Graziela Michelan.

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A saúde mental dos profissionais da saúde, especialmente aqueles que atuam em hospitais, está em alerta devido ao aumento de casos de suicídio e burnout. A psiquiatra Graziela Michelan destaca a pressão constante e a sobrecarga emocional enfrentadas por esses trabalhadores, que lidam com estresse, frustração e remuneração inadequada. Além disso, a violência, tanto física quanto virtual, agrava a situação. Dados do Conselho Federal de Medicina indicam que, em média, 12 médicos são vítimas de violência diariamente no Brasil. A advogada Stephanie Canale ressalta a importância de registrar ocorrências e buscar apoio emocional, com serviços disponíveis em Campo Grande para ajudar profissionais em crise.

Dois suicídios, em menos de 24 horas, assustaram os profissionais de saúde em Campo Grande. Ontem, cirurgião-dentista que atuava na Santa Casa, morreu após queda do 6º andar. Hoje, médico também foi encontrado morto em casa.

Sempre que algo assim ocorre, o caminho é voltar a falar sobre a pressão que leva esses profissionais ao extremo da dor. Graziela é uma das diretoras da ASMP (Associação Sul-Mato-Grossense de Psiquiatria) e lembra que quem vive nessa rotina de pressão tem de buscar ajuda, diante da sobrecarga de cobranças externas e internas.

“O profissional da saúde sofre algo que é o burnout. Ele tem a sobrecarga do estresse, a pressão de não poder errar. É colocado que nós que atendemos pessoas precisamos passar essa imagem de que estamos bem e isso vai evoluindo para uma depressão, ansiedade e burnout”, explica.

Mortes de dentista e de médico em 24h alertam sobre saúde mental de quem cuida
Médica psiquiatra, Graziela Michelan, da diretoria da ASMP. (Foto: Arquivo pessoal)

Outro fator que influencia na saúde emocional desses profissionais é o contato constante com mortes, doenças e outras situações semelhantes. Apesar de tudo isso fazer parte do trabalho, quem atua na área da saúde não está imune. “Isso acaba interferindo sim, gera esse estresse, uma certa frustração”, completa a médica psiquiatra.

Nesse cenário, a remuneração é mais uma questão importante apontada pela diretora. “A remuneração do profissional da saúde não é compatível com o tamanho do estresse que eles passam, hoje eles não ganham nem o piso salarial. Além da cobrança, ela tem estresse financeiro”, expõe.

Na Associação Sul-Mato-Grossense de Psiquiatria, a saúde mental é pauta constante e não limitada somente ao Setembro Amarelo, mês que trata da prevenção do suicídio. A promoção da saúde, nesses casos, feita em diversas ações, não se restringe apenas aos profissionais da saúde, mas aos trabalhadores de forma geral.

Mortes de dentista e de médico em 24h alertam sobre saúde mental de quem cuida
André Afif Elossais morreu na quarta-feira (4). (Foto: Reprodução)

A preocupação com a saúde emocional do trabalhador também ganhou espaço no Governo Federal que, neste ano, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego, instituiu uma nova norma reguladora com diretrizes específicas. A NR-1 passa a exigir a avaliação dos chamados riscos psicossociais, ou seja, sobrecarga psicológica, estresse e assédios passam a ser vistos sob essa ótica, exigindo medidas preventivas por parte das empresas.

Violência – A violência, manifestada de forma física, mental e até no formato digital, é mais um agravante que profissionais da saúde enfrentam.

A advogada Stephanie Canale é quem trata sobre esse tema, chamando atenção que o problema vai além do ambiente profissional. “Os médicos são expostos em rede social, vemos muitos relatos de pacientes verbalizando situações que às vezes nem são reais e que expõem o médico”, conta.

Mortes de dentista e de médico em 24h alertam sobre saúde mental de quem cuida
Bombeiros retirando o corpo do cirurgião dentista, do primeiro andar da Santa Casa. (Foto: Direto das Ruas)

Levantamento do CFM (Conselho Federal de Medicina) revela que, em média, 12 médicos foram vítimas diariamente de algum tipo de violência em um estabelecimento de saúde no Brasil no último ano. Em Mato Grosso do Sul, foram registrados 995 casos ligados a ameaças, lesão corporal, desacato, difamação, calúnia, constrangimento e outros.

Embora a exposição dos profissionais de saúde nas redes sociais seja uma nova situação trazida pelas redes sociais e pela internet, a advogada reforça que a violência direta, cara a cara, não deixou de existir. “Além da questão de rede social, eles vêm sofrendo muita agressão física em posto de saúde. Inclusive o CFM postou que recentemente um projeto de lei foi aprovado para que aumentem as penas e delitos contra médicos, porque eles estão ali na linha de frente”, esclarece.

Em casos de exposição nas redes sociais, criminalmente, o caso é considerado como difamação e calúnia. Na esfera civil, caso o profissional queira entrar com um processo, é possível pedir até indenização por danos morais. A orientação da advogada para os profissionais da saúde que passaram por alguma situação semelhante a essa é registrar um boletim de ocorrência e sempre reunir provas.

Entenda o caso - Na quarta-feira (5), o cirurgião dentista André Afif Elossais morreu após cair do 6º andar da Santa Casa de Campo Grande e atingir a marquise do 1º andar. Ele era responsável pelo Núcleo de Pesquisa da Escola de Saúde do hospital.

Ele tinha histórico de depressão e no dia do fato havia perguntado sobre uma falha na janela que caiu. Familiares estiveram na delegacia e relataram que André enfrentava um histórico de depressão e já havia tentado tirar a própria vida anteriormente.

Também na quarta-feira, um médico natural de Mato Grosso foi encontrado morto abraçado à uma cama dentro do quarto da casa onde morava, em Campo Grande. Segundo um familiar, o médico tinha ficado por um ano em uma clínica de recuperação em Cuiabá.

Na quarta, por volta das 12h, o médico saiu e voltou para a residência às 17h já agitado. Ele homem entrou no quarto e, horas depois, passou a apagar e acender a luz, fazendo barulho, no entanto, não respondia o familiar que decidiu olhar pela janela e o viu caído no chão se debatendo.

A PM (Polícia Militar) foi acionada, mas após arrombar a porta do cômodo, o médico já estava morto.

Procure ajuda - Em Campo Grande, o GAV (Grupo Amor Vida) presta apoio emocional gratuito a pessoas em crise por meio de atendimento telefônico pelo número 0800 750 5554. Vítimas de depressão e demais transtornos psicológicos podem buscar ajuda no Núcleo de Saúde Mental, CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) ou pelos telefones 141 e 188 CVV (Centro de Valorização da Vida), 190 da PM e 193 dos Bombeiros, que ajudam pacientes a romper o silêncio.

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