Em MS, 67 mil idosos vivem sós e enfrentam dilema entre independência e proteção
A interação social e a manutenção de vínculos são fundamentais para o envelhecimento saudável

Morar sozinho é sinônimo de independência em diversas fases da vida, no entanto, pode ser fonte de preocupação quando se ultrapassa os 60 anos. Com o avanço da idade, é natural que o corpo manifeste algumas limitações, o que gera preocupação, principalmente, com aqueles que vivem sem companhia. O cuidado com a saúde física e emocional, aliado à vida social e em segurança são os fatores fundamentais para quem busca um envelhecimento saudável alicerçado na autonomia.
Em Mato Grosso do Sul, 67 mil pessoas acima de 60 anos vivem sozinhas, segundo dados do IBGE, referentes a 2023. A OMS (Organização Mundial de Saúde) ressalta que a idade cronológica é o menor sintoma do envelhecimento, pois o mais importante é manter a capacidade funcional.
“O ideal é que a pessoa seja independente e tenha o máximo possível de autonomia e atividades prazerosas. Eu tenho muitos pacientes que são autônomos e que gerem suas casas. O problema é quando a família fica receosa sobre o que o idoso pode fazer sozinho e começa a privá-lo de ir a uma padaria ou fazer coisas que ele é capaz. Essa proteção aumenta o risco de ele ficar deprimido ou promove a piora da saúde geral antes a hora”, alerta o médico geriatra Marcos Blini.
Cuidado e proteção
O especialista explica que a saúde da pessoa idosa pode ser avaliada sob duas perspectivas: a reserva cognitiva e a reserva funcional. A primeira está relacionada a atividades cerebrais complexas. “Se tira dele a gestão financeira ou o hábito de dirigir, aumenta o risco de demência”, completa Blini. A reserva funcional está ligada com a parte física, pois se a pessoa deixa de se movimentar, pode perder a musculatura e começa a ter dificuldade para levantar do vaso sanitário ou subir uma escada, por exemplo, o que aumenta o risco de queda.
Neste caso, o melhor caminho é observar se o idoso precisa de mais ou menos ajuda e fazer o monitoramento.
“É importante manter o máximo possível de atividade, desde que com segurança. E a família cuidar do idoso sem acelerar o processo de dependência”, aponta o médico.
Saúde mental
Especialista em Gerontologia, a psicóloga Mariana Falleiros Pires lembra que garantir a longevidade vai além de cuidar do físico, é necessário cuidar também da saúde mental e cultivar hábitos e vínculos saudáveis. A psicóloga esclarece que é importante ter uma rede de apoio emocional e vínculos sociais.
“Ser autônomo não é ser sozinho. O idoso precisa estar junto com outras pessoas. A interação social é um dos principais pilares do envelhecimento saudável e ativo”, afirma Mariana ao ressaltar que, principalmente, os grupos são importantes para estimular o idoso a sair de casa, a se movimentar e a fazer amizades.
Vida ativa
Esta receita é seguida à risca por Creuza de Souza Moraes, de 78 anos. Viúva, ela mora sozinha desde que seu filho caçula se casou há 25 anos. No entanto, sua rotina permanece bem agitada. Há dez anos, ela frequenta as aulas de ginástica e pilates no Centro de Convivência Vovó Zica duas vezes por semana. Em outros dois dias, Creuza participa da ginástica oferecida pela Prefeitura na praça de seu bairro. Além disso, faz caminhadas regulares e é voluntária na igreja católica que frequenta. Ela orgulha-se de ter uma vida ativa e saudável, cuida da alimentação, evita comida gordurosa, não bebe álcool, não fuma e cuida da casa sozinha. “Sou bem ágil, não tomo nenhum medicamento e tenho muita alegria de viver”, comemora.