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"Oito pilha é um real" e a força do roubo de carga no comércio ilegal

Por Carlos Guimar (*) | 27/08/2018 13:02

A cena do vendedor ambulante que entra no metrô para vender gadgets tecnológicos traz muitas situações à tona. Pode-se dizer da opção de trabalho de uma classe com menos oportunidades ou de pessoas economicamente menos abastadas, herdeiros de uma crise monetária assolada no País há pelo menos 04 anos. Essas são algumas conotações vista num primeiro momento.

Mas indo além dos olhos comum da população, o moço que vende "oito pilha a um real" é um filho passivo do roubo de carga, algumas vezes sem saber que faz parte de um esquema fraudulento. O comércio ilegal de produtos é um dos fatores ligados ao oceano de situações originadas pelo roubo de cargas, um crime que permanece sem controle nas principais regiões brasileiras.

Recentemente foi demonstrado em um conceituado fórum sobre o tema que o Rio de Janeiro, reconhecido pelo seu poder bélico, e São Paulo, onde há um caso de roubo de carga por hora, permanecem na liderança deste grave problema, que já afeta modais de todo o País. Alimentos frigorificados, eletroeletrônicos (olha os vendedores ambulantes aí) e bebidas estão no topo das cargas mais furtadas.

O problema é mais embaixo e traz duas constatações para motivar os índices periclitantes do roubo de carga no Brasil. A primeira está ligada ao ambiente sócio econômico. A população desempregada gera um forte mercado paralelo, que está associado à crise moral e ética pela qual o brasileiro passa. As feiras conhecidas como "robautos", os tais mercados a céu aberto, onde produtos roubados são expostos e vendidos, crescem dentro e fora das comunidades, expandindo para o comércio ilegal nos trens, metrôs e ônibus.

A segunda constatação é a segurança pública, que é afetada com o total desinvestimento do Estado, com a falta de investigações e a de prisões dos receptadores. Diante de olhos tapados das autoridades, o crime organizado se estrutura cada vez mais e as cargas roubadas viram uma parte importante da receita das facções.

Não perdendo nada para grandes holdings, a logística dos interceptadores é uma aula de escoamento estratégico a parte. Caminhões são abordados em vias na entrada de comunidades e levados para pontos não alcançados pela polícia. É praticamente uma entrega expressa na porta de casa dos marginais, sem o menor esforço logístico. Para se TER ideia, no mercado bélico ilegal, as armas, e também as drogas, precisam de um esforço maior desde a compra, passando pelo transporte, chegando na estocagem até a venda.

Assim como em empresas, sob a máxima do tudo que é muito bem planejado alcança resultados super satisfatórios, no mercado de roubo de cargas não é diferente. Contas feitas por institutos especializados em segurança pública mostraram que os criminosos lucram com o roubo de cargas em um único dia, só no Rio de Janeiro mais de um milhão de reais, na qual esta mesma quantia seria arrecadada em mais de uma semana vendendo drogas.

É preciso tratar com urgência. As empresas e a população são impactadas demais pelo roubo de carga. Existe uma miopia do governo neste entendimento, que deixa de arrecadar milhões por mês devido a este crime. Atualmente, o que se tem como combate efetivo são ações no campo político, de intenções, capitaneado por políticos diversos, por associações, dentre outras entidades que trafegam com cartas e ofícios de solicitações com macro ideias, porém sem prazos definidos. E só! Nada de concreto.

Neste cenário, resta ter a maturidade para entender, decidir, investir e realizar uma gestão de mudanças, demonstrar inteligência e visão. Resta a proatividade da iniciativa privada. Enquanto não vem, as empresas especializadas em segurança têm se tornado uma opção para as companhias que desejam mitigar o roubo de carga e todos os seus desdobramentos corporativos/sociais.

Seja no uso de tecnologias para gerenciar riscos ou em procedimento para analisar possíveis gargalos ligados à falha humana, o esforço das empresas já um grande passo no âmbito social para evitar a proliferação de mais filhos indiretos do roubo de carga.

(*) Carlos Guimar é sócio-diretor da ICTS Security, consultoria e gerenciamento de operações em segurança, de origem israelense.

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