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Convivendo com pessoas passivo-agressivas: como lidar sem perder sua paz

Por Cristiane Lang (*) | 09/07/2025 08:30

Conviver com alguém passivo-agressivo é, muitas vezes, como tentar decifrar um enigma emocional. Você sente que algo está errado, percebe a hostilidade no ar, mas não consegue apontar exatamente o que houve. São comentários sutilmente críticos disfarçados de elogios, atrasos constantes que parecem acidentais, promessas que não se cumprem, silêncios carregados de mensagem. A comunicação não é clara, e o desgaste emocional é grande.

Esse comportamento, muitas vezes, é confundido com timidez ou dificuldade de expressão. Mas a passivo-agressividade é uma forma indireta de expressar raiva, frustração ou ressentimento. E justamente por ser indireta, ela cria um campo minado nos relacionamentos – profissionais, familiares, amorosos. Saber lidar com esse tipo de comportamento é essencial para preservar a saúde emocional e manter vínculos mais saudáveis.

O que é comportamento passivo-agressivo?

A pessoa passivo-agressiva evita conflitos diretos, mas expressa sua insatisfação de maneira indireta. Em vez de dizer “não gostei”, ela ironiza, ignora, sabota ou procrastina. É o famoso “dizer que está tudo bem, mas não está”. Esse padrão de comportamento pode vir de experiências antigas de invalidação emocional, medo de confrontos ou de crenças aprendidas de que expressar raiva é errado.

Alguns comportamentos comuns incluem:

  • Sarcasmo ou ironia constante;
  • Atrasos frequentes e “esquecimentos”;
  • Resistência passiva a pedidos ou regras;
  • Silêncios prolongados como forma de punição;
  • Concordar verbalmente, mas agir de forma oposta;
  • Críticas disfarçadas de comentários inocentes.

É um comportamento sutilmente manipulador, pois deixa o outro na dúvida sobre a própria percepção. A pessoa se sente desconfortável, mas não consegue provar que está sendo alvo de hostilidade.

O impacto de conviver com alguém passivo-agressivo

Convivências assim geram exaustão emocional. Quem está por perto vive tentando decifrar intenções, andando em ovos, ajustando seu comportamento para evitar novas tensões. Aos poucos, o relacionamento se torna um campo de inseguranças. A dúvida sobre o que foi ou não foi dito, feito ou intencionalmente provocado começa a corroer a confiança.

Em ambientes de trabalho, pode prejudicar a produtividade, causar ressentimentos e criar climas hostis. Em relações afetivas, desgasta o vínculo emocional, pois mina a comunicação e a empatia. Em lares, pode levar a longos períodos de silêncio e ressentimento acumulado.

Como lidar com pessoas passivo-agressivas? 

  1. Não caia no jogo emocional
    O primeiro passo é não se deixar levar pela manipulação indireta. Não entre em disputas sutis ou revide com o mesmo comportamento. Manter-se emocionalmente centrado é essencial. Lembre-se: a provocação passivo-agressiva quer tirar você do eixo sem que a pessoa precise se responsabilizar por isso.

  2. Estabeleça limites claros
    Pessoas passivo-agressivas tendem a testar fronteiras. Portanto, é essencial definir limites firmes, ainda que com gentileza. Se um comportamento estiver te afetando, nomeie-o com clareza: “Percebi que você concordou com o combinado, mas acabou não fazendo. Isso me prejudica e eu preciso que haja mais responsabilidade.” Comunicação direta e assertiva é a melhor resposta ao comportamento indireto.

  3. Não personalize o comportamento
    A passivo-agressividade geralmente não tem a ver com você, e sim com a dificuldade da outra pessoa em lidar com as próprias emoções. Não é seu papel “consertar” ninguém. Reconhecer que o problema é do outro evita que você internalize culpas que não são suas.

  4. Evite confronto direto nos momentos de tensão
    Diferente de uma discussão franca, pessoas passivo-agressivas reagem mal ao confronto direto. Muitas vezes negam, se fazem de vítimas ou distorcem os fatos. Por isso, converse em momentos mais calmos e foque nos efeitos práticos do comportamento, em vez de atacar a pessoa.

  5. Peça clareza com firmeza
    Frases como “Você pode me explicar melhor o que quis dizer com isso?”, ou “Você realmente quis dizer isso dessa forma?” ajudam a trazer a comunicação para o plano consciente. O comportamento passivo-agressivo se sustenta na ambiguidade. Quando você exige clareza, desarma o jogo.

  6. Preserve sua energia
    Nem sempre será possível mudar a dinâmica. Algumas pessoas estão tão presas a esse padrão que não reconhecem seus efeitos. Nesses casos, o mais saudável é limitar o contato ou se proteger emocionalmente. Você não precisa permanecer em ambientes que te adoecem.

Quando procurar ajuda profissional?

Se você convive com alguém assim e sente que está constantemente em dúvida sobre seus sentimentos, se culpa com frequência ou vive em estado de alerta, pode ser importante buscar terapia. O apoio profissional ajuda a recuperar a autoconfiança, fortalecer a assertividade e encontrar caminhos para relações mais saudáveis.

Além disso, se você se reconhece como alguém que evita conflitos, mas guarda mágoas e as expressa de forma indireta, a psicoterapia pode ser uma oportunidade valiosa de amadurecimento emocional. Aprender a lidar com a raiva de forma consciente é um passo importante para relacionamentos mais honestos e livres.

Conviver com pessoas passivo-agressivas exige atenção, clareza e firmeza. É um desafio de comunicação e de cuidado consigo mesmo. A escolha de não revidar, mas também não se calar, de manter a lucidez sem perder a empatia, é um ato de coragem. E, sobretudo, é um exercício de respeito: ao outro, mas principalmente a você.

(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em oncologia

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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