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A eletricidade da cana produz benefícios para além da energia limpa

Por Elizabeth Farina (*) | 15/05/2017 09:40

São muitas as razões que conferem um protagonismo cada vez maior à cana-de-açúcar na cena global da sustentabilidade. Suas contribuições para que o Brasil tenha uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta e seja um destacado ator nas questões ambientais vão muito além do etanol.

A cana, fonte renovável mais utilizada pelos brasileiros, é também sinônimo de alta eficiência na geração de energia elétrica. Aproveitando o bagaço e a palha oriundos da colheita e moagem da planta, a eletricidade fornecida pelas usinas para o setor elétrico gera mais de 180 mil empregos diretos, além de evitar a emissão de gases do efeito estufa.

A safra da cana ocorre exatamente no período seco e crítico para os reservatórios das hidrelétricas, permitindo, assim, grande sinergia e complementariedade entre as duas fontes. A proximidade das indústrias de cana com os centros urbanos é outro fator de importância, já que assim é possível reduzir o nível de perdas no sistema e a necessidade de investimentos em infraestrutura.

Além disso, todas as unidades sucroenergéticas são autossuficientes em energia elétrica durante a época da safra e mais da metade delas exportaram excedentes em 2016. De janeiro a dezembro deste mesmo ano, foram entregues mais de 21 mil GWh para a rede nacional.

Esta economia equivale à energia gerada por 15% da água dos reservatórios hidrelétricos. É também suficiente para abastecer 11 milhões de residências e evitar a emissão de 9 milhões de toneladas de carbono ou o plantio de 64 milhões de árvores nativas.

No entanto, nosso potencial de bioeletricidade sucroenergética não tem sido totalmente utilizado. Em 2016, foi ofertado à rede o equivalente a 4,6% do consumo total de energia elétrica no país. Esse índice poderia chegar a 28%, considerando os excedentes do ano anterior.

No futuro, outros ganhos poderão surgir com amadurecimento de novas tecnologias, como variedades de cana mais fibrosas. Entre os subprodutos, além da vinhaça que é utilizada atualmente como fertilizante nos canaviais, é possível esperar também a produção de biogás da vinhaça nos próximos anos.

Os derivados da cana são parte do compromisso brasileiro de combate ao aquecimento global. O Acordo do Clima, ratificado em 2016 por mais de 190 países, representa um esforço coletivo para limitar o aumento da temperatura terrestre em 1,5 °C até 2100.

O Brasil prevê, até 2030, aumentar a presença dos biocombustíveis em sua matriz energética para 18%. Essa projeção fará que a produção de etanol atinja aproximadamente 50 bilhões de litros, quase o dobro da atual.

Ao mesmo tempo, o uso de outras fontes renováveis deverá chegar a 23% de toda a geração. Nesse cenário, o bagaço e a palha terão ainda mais relevância, pois correspondem 90% da energia de biomassa do Brasil.

Essas matérias-primas representam hoje a terceira maior fonte de eletricidade em termos de capacidade instalada no país, atrás apenas da hídrica e das termelétricas a gás natural. E, por isso, elas serão cada vez mais estratégicas para a segurança energética do Brasil.

(*) Elizabeth Farina é diretora presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar)

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