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Equidade de gênero: um projeto que precisa sair da “prancheta”

Por Bruna Maria de Medeiros Benvenga (*) | 25/03/2025 08:10

A relação da sociedade com o trabalho é complexa e fundamental, não apenas por questões tangíveis, mas também pela dignidade, estima e mobilidade que nos são conferidas. Essa relação tende a acompanhar as mudanças econômicas e culturais de uma civilização e tende a se moldar aos comportamentos sociais em que está inserida.

Traçando um recorte de gênero, as mulheres carregam uma história de desigualdade, submissão e de participação limitada em relação aos homens. O patriarcado é um sistema social que, ao longo dos anos, organizou as sociedades de maneira hierárquica, com os homens ocupando posições de poder e autoridade em diversas esferas, como na política, na religião e no mercado de trabalho, criando inúmeros obstáculos para a presença ativa das mulheres em determinados setores.

Ainda que tenhamos conquistado espaços importantes, precisamos conviver com o machismo, muitas vezes velado, e desafiá-lo em nossas relações de trabalho ou mesmo pessoais. Por experiência própria, posso dizer que alguns setores são mais estigmatizados, estereotipados e “masculinizados” do que outros, como a construção civil, que ainda é majoritariamente ocupada por homens: segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAIM), no mercado formal, há apenas 9,2% de participação feminina nesse setor.

A equidade de gênero não se resume a garantir que as mulheres ocupem o mesmo número de vagas que os homens. Trata-se de criar condições justas para que elas tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento, ascensão profissional e para que questões históricas também sejam reparadas. Mulheres em posições de liderança enfrentam desafios distintos, desde a desvalorização de suas decisões até a pressão para se comportarem de maneira "masculina" para serem levadas a sério. Superar esses obstáculos exige mais do que apenas um acesso igualitário às oportunidades; é preciso também que as estruturas organizacionais ofereçam espaços de respeito e segurança psicológica, ao mesmo tempo que incentivam que as pessoas sejam como são. A verdadeira equidade só será alcançada quando uma mulher puder ser líder sem precisar se adaptar a um molde que não corresponde à sua identidade ou ao seu estilo de liderança.

Quando optei por seguir esse caminho, sabia que encontraria alguns degraus a mais na minha carreira em relação à trajetória de um homem. Sabia que teria que provar meu conhecimento e potencial algumas vezes mais. Entrei no McDonald’s, em 2006, como Estagiária de Engenharia e tive a oportunidade de me desenvolver na área de gestão de projetos e obras com o suporte dos gestores da área e de minha família, uma grande rede de apoio até hoje em minha rotina.

Nessa semana, completo 19 anos de companhia e fazer um balanço é inevitável. Atualmente, sou uma das líderes da área que conta com uma equipe com 60% de participação feminina. O caminho que trilho no mercado de trabalho e dentro da Arcos Dorados é marcado por desafios profissionais e pessoais, por momentos de desenvolvimento acadêmico, pela maternidade e pelo suporte recebido das pessoas com quem convivo.

A minha história, assim como a de diversas colegas com quem tenho o prazer de trabalhar todos os dias, mostra a importância de não só oferecer oportunidades em igualdade para mulheres, como também em criar um ambiente de trabalho de fato colaborativo e diverso, com programas de desenvolvimento, carreira e liderança, com iniciativas que visem o nosso bem-estar e com uma conduta livre de assédio e preconceitos.

É possível que uma empresa seja economicamente sustentável sem renunciar à diversidade e à inclusão. Na Arcos Dorados, operadora da marca McDonald’s na América Latina: 53% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Esses números refletem um real compromisso que baliza a cultura, a conduta e os processos decisórios da companhia. Entretanto, ainda existem muitos desafios a serem superados em um mercado de trabalho que ainda tem uma minoria de mulheres atuando em condições de equidade de gênero. Esse é um projeto que eu gostaria de ver sair da “prancheta” com a mesma agilidade que construímos novos restaurantes.

(*) Bruna Maria de Medeiros Benvenga é graduada e mestre em Arquitetura e Urbanismo e ocupa a posição de Gerente Sênior de Projetos de Engenharia na Divisão Brasil da Arcos Dorados.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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