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Para entender, é necessário interesse: ouvir não é suficiente

Por Cristiane Lang (*) | 26/12/2024 13:19

O ato de ouvir é, em sua essência, simples e acessível. Qualquer pessoa com audição funcional pode captar sons e palavras ditas ao seu redor. Mas ouvir, por si só, não garante compreensão. Para entender verdadeiramente o que alguém está dizendo, é preciso mais do que audição: é necessário interesse, atenção e empatia.

Em um mundo cada vez mais barulhento, onde as conversas frequentemente se perdem em meio a distrações e julgamentos precipitados, o desafio de escutar com o coração, e não apenas com os ouvidos, nunca foi tão urgente.

O ato de ouvir e o processo de entender

Ouvir é um processo fisiológico. Quando alguém fala, as vibrações sonoras chegam aos nossos ouvidos e são processadas pelo cérebro. Entender, por outro lado, vai além do físico; é um ato que envolve interpretação, contexto e, sobretudo, disposição para realmente absorver o que está sendo dito.

Quantas vezes você já percebeu que estava ouvindo alguém, mas sua mente estava longe, presa em preocupações ou distrações? Nesses momentos, mesmo que suas orelhas estejam atentas, sua compreensão está ausente.

Interesse: o ingrediente essencial

O interesse é a ponte entre ouvir e entender. Sem ele, as palavras que ouvimos se tornam apenas ruídos, incapazes de gerar significado ou conexão.

Demonstrar interesse não significa apenas prestar atenção. Envolve:

    1.    Curiosidade genuína: Querer saber mais sobre o que a outra pessoa está compartilhando.

    2.    Suspensão de julgamentos: Evitar interpretar ou criticar enquanto a pessoa ainda está falando.

    3.    Empatia: Colocar-se no lugar do outro para compreender não apenas as palavras, mas também os sentimentos por trás delas.

Quando ouvimos com interesse, mostramos respeito pelo outro e criamos espaço para uma comunicação mais profunda.

As barreiras para entender

Entender não é sempre fácil. Muitas vezes, nossas próprias barreiras internas dificultam o processo. Algumas delas incluem:

    •    Distrações externas: O celular que vibra, as notificações ou o ambiente barulhento.

    •    Pressa em responder: Em vez de realmente ouvir, muitas pessoas ficam pensando no que vão dizer em seguida.

    •    Preconceitos e crenças prévias: Julgar ou interpretar o que alguém diz com base em estereótipos ou experiências passadas pode distorcer a mensagem.

Para superar essas barreiras, é necessário esforço consciente. Entender exige paciência e disposição para realmente estar presente na conversa.

A diferença que faz compreender

Quando ouvimos alguém com interesse e buscamos entender, criamos um espaço de confiança e acolhimento. Isso é especialmente importante em situações de conflito, onde mal-entendidos podem facilmente escalar.

Entender é um ato de generosidade, mas também traz benefícios para quem escuta. Ele nos conecta mais profundamente às pessoas, nos ajuda a aprender com outras perspectivas e nos enriquece emocionalmente.

Ouvir é fácil; entender é um ato de escolha. Para que possamos realmente compreender as pessoas ao nosso redor, precisamos sair do piloto automático e nos envolver ativamente com o que está sendo dito. Isso exige esforço, mas o retorno é inestimável: conexões mais autênticas, diálogos mais significativos e a sensação de que, no meio do barulho do mundo, fomos capazes de ouvir e ser ouvidos de verdade. Afinal, entender é, acima de tudo, um gesto de amor e respeito pela complexidade do outro.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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