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Vacina contra o coronavírus, uma esperança não muito distante

Dimas Tadeu Covas (*) | 20/09/2020 08:05

A pandemia de covid-19, a maior desde a gripe espanhola de 1917-18, já atingiu mais de 29 milhões de pessoas e matou mais 942 mil pessoas no mundo até o dia 18 de setembro. O Brasil registrou no mesmo período 4,4 milhões de infecções e superando a triste marca de 134 mil mortes.O combate a essa terrível epidemia é um desafio enorme e, no momento, dependente das chamadas medidas não farmacológicas, que incluem o afastamento social, o uso de máscaras e as medidas de higiene. Não existe tratamento com remédios que sejam efetivos para curar ou prevenir a infecção.

O triste cenário se completa com a possibilidade cada vez mais próxima de que a epidemia se estenda até o fim do ano e início de 2021. A única esperança que poderá ser efetiva em prazo não tão longo é uma vacina, para a qual estamos mobilizados.

No mundo existem, no momento, 166 vacinas em diferentes fases de desenvolvimento, com 34 delas em etapas de estudos clínicos em pessoas. Seis dessas vacinas já se encontram na fase 3, a última fase de desenvolvimento antes da liberação para uso na população.

Recentemente foi noticiada a suspensão temporária do estudo clínico de fase 3 da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com um laboratório, em razão de reação adversa grave em voluntário que recebeu dose do imunobiológico. Isso não significa, de forma nenhuma, que a vacina tenha fracassado. Trata-se de procedimento padrão, em que é necessária revisão técnica dos dados junto ao órgão regulador para decidir se os testes podem prosseguir.

O Brasil está trabalhando no processo de desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus. Isso porque o Instituto Butantan, ligado ao governo do Estado de São Paulo e maior produtor de vacinas e de soros hiperimunes do Brasil, firmou parceria para o desenvolvimento e produção de uma das mais promissoras vacinas contra o coronavírus do mundo. Hoje o Butantan é responsável pelo fornecimento de 65% das vacinas e 100% dos soros para todo o País.

O acordo, anunciado pelo governador João Doria, foi feito com a companhia privada chinesa Sinovac, detentora da vacina Coronovac, já testada e aprovada em estudos animais e em humanos nas fases 1 e 2 com mais de 25 mil pessoas vacinadas na China. Ela é produzida a partir de um coronavírus atenuado, que é cultivado em laboratório em grandes quantidades e depois inativado, quebrado em pedaços que vão compor a vacina no final do processo. Nos estudos mencionados, a vacina se mostrou segura e eficaz com proteção acima de 90%.

A vacina contra o coronavírus desenvolvida pela Sinovac é uma das mais promissoras porque utiliza tecnologia já conhecida e amplamente aplicada em outras vacinas. Por isso, acreditamos que sua incorporação ao sistema de saúde deva ocorrer mais facilmente.

Agora a vacina está sendo testada pelo Instituto Butantan, que a aplicará em 13 mil voluntários da área de saúde para avaliar se a vacina de fato previne a infecção. O estudo já foi iniciado em 12 centros localizados em seis estados, com sete centros no Estado de São Paulo e cinco centros localizados no Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília. A expectativa é que o acompanhamento periódico dos voluntários permita demonstrar a eficácia da vacina ainda no mês de outubro.

Uma vez demonstrada a eficácia, a vacina poderá ser registrada e disponibilizada para a população brasileira, o que poderá ocorrer até o fim de 2020 de forma que, em janeiro de 2021, já poderá ser usada. As tratativas conduzidas junto à farmacêutica chinesa incluem, além da pesquisa de fase 3, a transferência de tecnologia para que o Instituto Butantan esteja apto a realizar a produção da Coronavac e fornecê-la ao SUS (Sistema Único de Saúde). A Sinovac ainda disponibilizará ao instituto, até dezembro deste ano, 46 milhões de doses da vacina.

A planta industrial da fábrica já existe no instituto e está sendo adaptada para atender em caráter de emergência à produção da vacina contra o novo coronavírus. A capacidade inicial de produção será de 100 milhões de doses por ano, mas a meta é dobrá-la. Para isso, o governo paulista conta com a colaboração da iniciativa privada, que já doou cerca de R$ 100 milhões ao projeto.

O desenvolvimento desta vacina, feito aqui no Brasil, colocará o país em situação privilegiada, visto que poderá ser um dos primeiros países do mundo a vacinar a sua população.

O Instituto Butantan do Estado de São Paulo, junto com a companhia chinesa Sinovac, certamente hoje são depositários da esperança de milhares de pessoas para o enfrentamento eficiente e definitivo desta terrível doença batizada de covid-19.

Tempos melhores se aproximam.


(*) Dimas Tadeu Covas é professor da USP, diretor do Instituto Butantan e membro do Centro de Contingência do Coronavírus do Governo do Estado de São Paulo

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