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Cidades

“Barulho no ar”: gerente temia por Razuk na guerra do bicho que atraiu até PCC

Razuk e seus aliados estavam atentos à possível aliança entre adversários e facção criminosa paulista

Por Ângela Kempfer | 04/12/2025 20:46
“Barulho no ar”: gerente temia por Razuk na guerra do bicho que atraiu até PCC
Da esquerda para a direita: Rafael, Jorge, Roberto Filho e o patriarca, Roberto Razuk, todos investigados (Foto: Reprodução das redes sociais)

“Se cuida! Vamos precisar muito do senhor. Tem barulho no ar”. A frase, preocupada, foi digitada pelo já denunciado por fazer parte de organização criminosa violenta, voltada à exploração de jogos de azar, o major aposentado da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul), Gilberto Luis do Santos. Na conversa interceptada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado), o “Coronel G. Santos” ou “Barba” fala para Roberto Razuk, nome conhecido na fronteira e principal alvo da quarta fase da Operação Successione, que tome cuidado, porque a guerra pelo jogo do bicho em Campo Grande, no vácuo deixado pela derrocada da família Name, envolve até o crime organizado.

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A disputa pelo controle do jogo do bicho em Campo Grande ganhou novos contornos com o envolvimento do PCC (Primeiro Comando da Capital). Mensagens interceptadas pelo Gaeco revelam preocupação do major aposentado Gilberto Luis dos Santos com a segurança de Roberto Razuk, importante figura da fronteira, devido à possível aliança entre rivais e a facção criminosa. A quarta fase da Operação Successione resultou na prisão de Roberto Razuk e dois de seus filhos. A investigação aponta que o grupo MTS, ligado ao PCC e liderado por Henrique "Macaulin" Silva, movimentava cerca de R$ 5 milhões mensais entre 2021 e 2024. A disputa chegou a gerar uma recompensa de R$ 100 mil pela morte do líder do MTS.

No diálogo travado, o gerente do clã Razuk em Campo Grande avisa o chefão que adversários estariam se aliando ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa de origem paulista, para se fortalecerem a manterem o domínio em solo campo-grandenses. O cenário descrito nas mensagens revela o temor também, segundo a investigação, de uma união entre os rivais e o PCC, o que poderia alterar drasticamente o equilíbrio de poder no mercado ilegal da loteria popular.

“Com intento em se manter atualizado, especialmente, sobre concorrência relacionada a exploração do jogo do bicho na Capital, Gilberto dos Santos, nas suas trocas de mensagens com o interlocutor Roberto Razuk, faz demonstrar que o próprio Roberto Razuk teria conhecimento e coordenaria conjuntamente com os investigados o monitoramento das atividades do grupo rival, sabendo-se que haveria uma possibilidade da facção criminosa PCC estar se alinhando com os adversários do grupo deles, para estabelecerem o domínio pleno desta atividade na capital, sendo que a incumbência de trazer respostas referente a esta probabilidade ficaria a cargo de Manoel Ribeiro, o ‘Manelão’ [outro denunciado]”, registra o Gaeco em pedido feito à Justiça para prender 20 pessoas e fazer buscas em 27 endereços.

De acordo com o relatório de informações do Gaeco, a troca de mensagens aconteceu no dia 30 de maio de 2023. O major G. Santos afirma que “está levantando” informações sobre a ofensiva do PCC na Capital e Razuk demonstra saber do que está sendo falado: “Circulou uma mensagem que vão cobrar pau por aí em grandes cidades”.

“Barulho no ar”: gerente temia por Razuk na guerra do bicho que atraiu até PCC
“Barulho no ar”: gerente temia por Razuk na guerra do bicho que atraiu até PCC
Na troca de mensagens, G. Santos é quem fala "em verde" e Razuk diz as frases em azul (Foto: Reprodução dos autos de processo)

Outras fases – Em outras fases da Successione, a chegada do PCC em Campo Grande já havia sido citada. Liderado por Henrique Abraão Gonçalves da Silva, conhecido como “Macaulin” ou “Rico”, o grupo MTS, que estava explorando o jogo do bicho na Capital vinculado à facção paulista, movimentava cerca de R$ 5 milhões por mês entre 2021 e 2024, conforme apurou o Gaeco. Em meio à disputa pelo controle da atividade, chegou-se a oferecer recompensa de R$ 100 mil pela cabeça do líder do MTS, mas a execução não foi concretizada.

Henrique, que está preso em MS, é considerado o “braço” de Marcos William Herbas Camacho, o “Marcola”, e foi denunciado por integrar organização criminosa após a Operação Forasteiros, também conduzida pelo Gaeco.

Successione 4 – Roberto Razuk e dois dos filhos dele, Rafael Godoy Razuk e Jorge Razuk Neto, foram presos pelo Gaeco no dia 25 de novembro. Além das 20 ordens de prisão, os investigadores cumpriram 27 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Corumbá, Dourados, Maracaju e Ponta Porã e nos estados do Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.

O termo italiano “Successione” – que dá nome à operação – faz referência exatamente à disputa pela sucessão do jogo do bicho em Campo Grande.

Outro lado – Em nota, a defesa dos Razuk, formada pelos advogados André Borges e João Arnar, afirmou que as informações divulgadas sobre a nova fase da Successione ainda não lhes foram comunicadas oficialmente e que, quando isso ocorrer, irão se manifestar nos autos. Ressaltou que, pela Constituição, ninguém pode ser considerado culpado antes do fim do processo e negou qualquer envolvimento em crimes. Disse que jamais foi ouvida pelas autoridades sobre os fatos citados e que, se tivesse sido intimada, tudo seria esclarecido sem dificuldade.

Afirmou ainda ser falsa a existência de organização criminosa, de plano para disputar espaço com grupos do jogo do bicho de São Paulo e Goiás e de qualquer ato de violência no Mato Grosso do Sul ou em outros estados, destacando que parte dessas acusações já está em análise judicial com defesa apresentada.

A nota conclui que todos os pontos serão esclarecidos no momento adequado e que a família aguardará uma decisão justa da Justiça, instituição que diz respeitar. Roberto Razuk já está em prisão domiciliar.

A reportagem não encontrou informações sobre as defesas dos demais citados, mas o espaço segue aberto para futuras manifestações.

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