Esquema de empresários, juízes e desembargadores envolveu milhões, aponta PF
Relatório serviu de base para STF prorrogar afastamento de desembargadores do TJMS
Investigação revela que empresários, advogados, magistrados e servidores públicos atuaram para manipular decisões no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Entre os beneficiados, estão parentes de desembargadores e um conselheiro do Tribunal de Contas.
RESUMO
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Relatório da Polícia Federal revela esquema de compra e venda de decisões judiciais no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Empresários teriam pago propina a juízes e desembargadores para obter decisões favoráveis em disputas de terras, movimentando mais de R$ 5 milhões. O esquema envolve familiares de desembargadores, um conselheiro do Tribunal de Contas e advogados que intermediavam os pagamentos. A investigação aponta para a atuação de um núcleo empresarial, liderado por Diego Moya Jeronymo e Percival Henrique de Souza Fernandes, interessados na posse da Fazenda Paulicéia. O núcleo político, representado por Osmar Domingues Jeronymo, conselheiro do TCE-MS, exercia influência institucional. O núcleo operacional, composto por servidores do TJMS e advogados, intermediava as propinas e manipulava informações. Magistrados, incluindo desembargadores, completavam o esquema, proferindo decisões favoráveis ao grupo. Um esquema paralelo de liberação irregular de valores também foi identificado, envolvendo a advogada Emmanuelle Alves Ferreira da Silva, esposa de um juiz estadual.
Relatório da Polícia Federal, divulgado no Superior Tribunal de Justiça, revela a existência de um sofisticado esquema de compra e venda de decisões judiciais no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS).
Segundo a investigação, empresários interessados em manter a posse de terras obtinham decisões favoráveis mediante o pagamento de propina a juízes e desembargadores. Só em parte com robustas provas, o esquema movimentou mais de R$ 5 milhões em pagamentos e liberações judiciais suspeitas. Parte desse valor teria sido repassada a magistrados ou intermediários, disfarçada por escritórios de advocacia e contas de familiares.
A seguir, a divisão dos envolvidos por núcleos e o detalhamento das ações atribuídas a cada um deles.
Núcleo Empresarial: Articulação de interesses econômicos
Diego Moya Jeronymo
Empresário rural.
Sobrinho do conselheiro do TCE-MS, Osmar Domingues Jeronymo.
Concedeu empréstimo de R$ 2,45 milhões à produtora rural Marta Martins de Albuquerque.
Quando Marta tentou pagar a dívida e reaver a Fazenda Paulicéia, articulou, junto a outros, a manutenção irregular da posse.
Agiu para coagir Gerson Pieri, comprador posterior da fazenda, ameaçando-o para desistir de ações judiciais.
Contratou o advogado Félix Jayme Nunes da Cunha para intermediar propinas.
Percival Henrique de Souza Fernandes
Empresário credor de Marta.
Concedeu empréstimo de R$ 1,45 milhão a Marta.
Registrou a posse da Fazenda Paulicéia por escritura considerada falsificada.
Favorecido por decisões judiciais que bloquearam tentativas de Marta de anular a escritura.
Núcleo Político: Apoio e influência institucional
Osmar Domingues Jeronymo
Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS).
Tio de Diego.
Utilizou sua influência política e institucional para favorecer o grupo nas instâncias judiciais.
Facilitava interlocuções com magistrados.
Núcleo Operacional: Execução das fraudes e intermediação
Danillo Moya Jeronymo
Servidor do TJMS.
Primo de Diego.
Extraía informações sigilosas e orientava a atuação do grupo.
Atuava como elo direto entre o núcleo empresarial e o jurídico.
Félix Jayme Nunes da Cunha
Advogado contratado por Diego e Percival.
Responsável pela articulação jurídica e operacional.
Intermediava pagamentos de propina para compra de decisões judiciais.
Representava o grupo em processos, formalizando recursos e peças que subsidiavam a fraude.
Núcleo Jurídico: Magistrados e advogados favorecendo o esquema
Vladimir Abreu da Silva (Desembargador)
Relator do agravo interno que manteve a posse da fazenda em favor de Diego e Percival.
Negou a produção de provas para verificar a falsidade da escritura.
Júlio Roberto Siqueira Cardoso (Desembargador)
Acompanhou o relator no voto.
Posteriormente, liberou mais de R$ 5 milhões para a advogada Emmanuelle Alves Ferreira da Silva, esposa do juiz Aldo Ferreira da Silva Júnior, mesmo com indícios de fraude.
Ignorou alertas sobre a irregularidade de títulos apresentados.
Alexandre Aguiar Bastos (Desembargador)
Proferiu votos alinhados para impedir a reabertura de provas na disputa da fazenda.
Sideni Soncini Pimentel (Desembargador)
Rejeitou recursos especiais de Marta.
Apontado como responsável por barrar tentativas de anulação da escritura.
Esquema milionário paralelo: Liberação irregular de valores
Além da disputa da Fazenda Paulicéia, o relatório aponta outro esquema envolvendo liberação milionária de recursos judiciais.
Emmanuelle Alves Ferreira da Silva
Advogada.
Esposa do juiz Aldo Ferreira da Silva Júnior.
Obteve judicialmente a liberação de R$ 5.065.003,46.
Valores foram desbloqueados com base em documentos considerados falsificados.
Aldo Ferreira da Silva Júnior (Juiz Estadual)
Apontado como interessado direto na liberação dos valores à esposa.
Paulo Afonso de Oliveira (Desembargador)
Atuou junto a Júlio Cardoso para autorizar a liberação milionária.
Familiares de magistrados como beneficiários
Fábio Castro Leandro
Advogado.
Filho do desembargador Paschoal Carmello Leandro.
Recebeu transferências suspeitas relacionadas ao esquema.
Rodrigo Gonçalves Pimentel
Advogado.
Filho do desembargador Sideni Soncini Pimentel.
Também beneficiado com repasses financeiros ligados ao esquema.
Outros envolvidos
Natacha Neves de Jonas Bastos
Ex-assessora do desembargador Júlio Cardoso.
Envolvida em tratativas para venda de decisões judiciais.
Kelly Gaspar Duarte da Rosa
Juíza estadual.
Citada em diálogos sobre favorecimento de sentenças.
A PF concluiu que o esquema no TJMS era estruturado e contínuo, envolvendo compra e venda de decisões judiciais, fraudes patrimoniais, liberação indevida de valores milionários, interferência política e institucional, ocultação de recursos por meio de terceiros.
O relatório recomenda a responsabilização criminal dos envolvidos, uebras de sigilo bancário e adoção de medidas cautelares para impedir a continuidade dos crimes.
O STJ deverá decidir nos próximos meses sobre o aprofundamento da investigação contra os magistrados e empresários citados. Há pedidos de afastamento de funções, bloqueio de bens e abertura de novos inquéritos para apurar os repasses financeiros a terceiros ligados aos desembargadores e juízes.