ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
OUTUBRO, SEGUNDA  27    CAMPO GRANDE 29º

Cidades

Estudo coloca MS entre os estados com mais órfãos da pandemia de covid-19

Estado registra 3,8 crianças sem pais a cada mil, índice superior à média nacional, segundo levantamento

Por Viviane Oliveira | 27/10/2025 09:20
Estudo coloca MS entre os estados com mais órfãos da pandemia de covid-19
Foto do Cemitério Santo Amaro, em Campo Grande, feita no Dia de Finados do ano passado (Foto: arquivo/Osmar Veiga)

Em março de 2021, Raniele Cação morreu vítima da Covid-19 em Campo Grande, enquanto estava grávida do filho do casal, deixando Antônio João, de 39 anos, sozinho com o filho Henrique. Quatro anos depois, o pai transformou a dor em propósito e deu continuidade ao sonho que compartilhava com a esposa. O “Espeto do Quiquinho”, empresa que ainda funciona como legado da família.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Mato Grosso do Sul registrou uma das maiores taxas de orfandade por covid-19 no Brasil, com 3,8 crianças órfãs a cada mil habitantes, ficando atrás apenas de Mato Grosso e Rondônia. O dado faz parte de um estudo realizado por pesquisadores do Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. A pesquisa revelou que 284 mil crianças e adolescentes brasileiros perderam pais ou cuidadores devido à covid-19 entre 2020 e 2021. O impacto foi maior em famílias de trabalhadores da limpeza, transporte e alimentação, setores mais expostos ao vírus e com menor possibilidade de isolamento social.

Esse caso descrito acima reflete um fenômeno nacional: além das mais de 700 mil mortes diretas pela covid-19, a pandemia deixou um rastro silencioso de sofrimento, com 284 mil crianças e adolescentes órfãos ou que perderam cuidadores entre 2020 e 2021. Pesquisa realizada por pesquisadores do Brasil, Inglaterra e Estados Unidos indica que Mato Grosso do Sul teve uma das maiores taxas de orfandade do país, com 3,8 crianças órfãs a cada mil habitantes, atrás apenas de Mato Grosso (4,4) e Rondônia (4,3).

O estudo, divulgado este mês e publicado no site da Agência Brasil, estimou que 1,3 milhão de menores de 0 a 17 anos perderam ao menos um cuidador por diferentes razões durante a pandemia. Desse total, 284 mil ficaram órfãos em decorrência direta da covid-19, sendo 149 mil filhos que perderam pai, mãe ou ambos, e 135 mil que perderam outro familiar responsável pelo cuidado.

“Queríamos olhar para a vulnerabilidade das pessoas que dependiam de quem faleceu”, explica Lorena Barberia, professora da USP e uma das autoras do estudo. “Muitos idosos tinham papel central na estrutura familiar, e muitas crianças e adolescentes dependiam deles. É importante estimar não apenas a perda de pais e mães, mas também desses cuidadores.”

Os dados mostram grandes disparidades regionais: enquanto Santa Catarina (1,6) e Pará (1,4) registraram índices mais baixos, regiões do Centro-Oeste e Norte concentraram os maiores casos proporcionais. A desigualdade também se refletiu no perfil socioeconômico: a maioria dos órfãos era filha de trabalhadores da limpeza, transporte, alimentação e setor informal, mais expostos ao vírus e com menor possibilidade de isolamento.

Segundo a promotora Andréa Santos Souza, coautora do estudo, a dificuldade financeira é o impacto imediato mais comum. “Essas crianças estavam ficando órfãs sem representação legal”, relata. Além da perda, muitas foram expostas a violações de direitos, como separação de irmãos, adoções ilegais, trabalho infantil, casamentos precoces e exploração sexual.

O levantamento também utilizou dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, que apontou que 12,2 mil crianças de até seis anos ficaram órfãs entre março de 2020 e setembro de 2021. O sistema de registro civil brasileiro, que vincula o CPF dos pais ao dos filhos desde 2015, permitiu um retrato mais preciso do impacto.

Mesmo após o fim da pandemia, as pesquisadoras alertam para a necessidade de políticas públicas específicas voltadas a esses órfãos. “Essas crianças não desapareceram quando a pandemia acabou. Elas continuam precisando de apoio social e psicológico”, reforça Barberia. “É um novo grupo vulnerável que o Brasil precisa enxergar.”

Estudo coloca MS entre os estados com mais órfãos da pandemia de covid-19
Antônio se tornou pai solo de Henrique após a morte da esposa, em 2021 (Foto: Juliano Almeida)

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.