Falhas na ortopedia obrigam MS à despesa milionária com cirurgias particulares
Sistema é investigado por gerar pedidos de cirurgias na Justiça e agravar saúde de pacientes

Falhas graves nos serviços de ortopedia da rede pública de Campo Grande e de todo o Estado podem estar forçando pacientes a recorrer à Justiça para realizar cirurgias mais complexas, como as que demandam próteses e bancos de ossos. O resultado são milhões em valores pagos à rede particular com verbas públicas por ordem judicial.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Ministério Público de Mato Grosso do Sul investiga falhas na ortopedia pública que obrigam pacientes a recorrer à Justiça. Dois casos recentes, envolvendo uma idosa com infecção crônica e um jovem que precisa de implante ósseo, somam mais de R$ 1 milhão em custos pagos pelo poder público após decisões judiciais. O órgão apura se há falta de estrutura, materiais, profissionais ou regulamentação nos hospitais, além de filas de espera desproporcionais. A investigação busca identificar as causas do agravamento da saúde dos pacientes e dos altos gastos gerados para o sistema público. Secretarias municipal e estadual de Saúde foram notificadas a informar, em 20 dias, sobre a existência de serviços para os procedimentos judicializados. A Secretaria Municipal de Saúde confirmou que Campo Grande só possui banco de ossos na rede privada e que o encaminhamento para outros estados é feito via programa Tratamento Fora de Domicílio. A Secretaria Estadual de Saúde não se manifestou. O inquérito pode resultar em recomendações, termos de ajustamento de conduta ou ações civis públicas.
Nesta quarta-feira (16), o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) tornou oficial um inquérito civil aberto após chegar na Ouvidoria o caso de uma idosa que há 11 anos sofre de infecção crônica devido a uma negligência médica. Ela levou o caso à Justiça e recebeu R$ 665 mil dos cofres públicos para realizar uma operação e o tratamento.
No mês passado, o Campo Grande News destacou outro bloqueio de verbas para a cirurgia no fêmur de um jovem de 29 anos. O procedimento exigia acesso ao banco de ossos e tecidos para um implante, mas a rede pública não tem. A Justiça autorizou o total de R$ 530 mil para duas fases do tratamento.
Somadas, as duas cirurgias superaram R$ 1 milhão em gastos. Se os procedimentos fossem realizados na rede pública, o valor seria menor.
O Ministério Público detalhou, no site institucional, que são levantadas quais limitações e falhas na organização e na estrutura de atendimento provocam agravamento do estado de saúde dos pacientes e geram altos custos à Saúde.

Promotor de Justiça que chefia a investigação, Marcos Roberto Dietz explicou que ela pretende também mapear se há ausência de regulamentação, estrutura física, materiais ou profissionais habilitados para os procedimentos indicados, além de verificar a eventual existência de fila de espera desproporcional ou desatendimento contínuo nas unidades hospitalares da rede pública.
Secretarias - A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e a SES (Secretaria Estadual de Sáude) foram notificadas a informar oficialmente a existência de serviços habilitados para realizar os procedimentos que vêm sendo judicializados, no prazo de 20 dias.
A reportagem pediu às pastas que se posicionassem sobre inquérito e informassem se existe banco de ossos em alguma unidade de saúde para atender pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).
A Sesau informou que Campo Grande só possui banco de ossos na Unimed, da rede particular. "A instalação desse tipo de serviço não é simples e depende do interesse de alguma entidade em ofertá-lo na rede pública. Caso haja essa intenção, as tratativas ocorrem diretamente com o Ministério da Saúde. No Brasil, ainda são poucos os locais que dispõem dessa estrutura, considerando a complexidade técnica e os altos requisitos exigidos para o funcionamento", acrescentou.
Quanto ao atendimento aos pacientes, esclareceu que os que têm indicação médica para transplante ou enxerto ósseo são avaliados por especialistas. Quando confirmada a necessidade e viabilidade dos procedimentos, a pasta encaminha a pessoa para outro estado, por meio do programa TDF (Tratamento Fora de Domicílio).
Já a SES não respondeu até o fechamento desta matéria.
Se as irregularidades forem confirmadas, o inquérito poderá resultar em recomendações, celebração de TAC (Termos de Ajustamento de Conduta) ou propositura de ações civis públicas para responsabilizar os entes envolvidos.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.