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Cidades

Média de internações por drogas e álcool cresce em hospital com 12 leitos

No HRMS, internados vivem rotina de desintoxicação que é marcada pela ansiedade e o silêncio

Por Jéssica Fernandes | 29/07/2024 11:59
Paciente descansa em leito no setor de psiquiatría do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul. (Foto: Osmar Veiga)
Paciente descansa em leito no setor de psiquiatría do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul. (Foto: Osmar Veiga)

Pelo menos cinco fichas chegam diariamente no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) solicitando encaminhamento de pacientes com vício em álcool ou drogas para a psiquiatria. O setor é responsável por realizar a desintoxicação e acompanhamento das pessoas que têm um ou ambos os vícios. Essa demanda de cinco fichas é interna e o número é maior quando se trata de pedidos externos que vêm de todo o Estado para o hospital que é referência no tratamento.

Balanço do HRMS revela que em 2023 passaram 208 pessoas pelo setor de psiquiatria e a média mensal foi de 17 internações. Neste ano, a média mensal subiu para 25 e até o momento 152 pessoas foram internadas no hospital.

Em relação a faixa etária, 31% dos internados têm entre 21 a 30 anos e os de 31 a 40 anos representam 26%. O grupo de 41 anos a 50 anos equivale a 21%, enquanto 7% representa os de 11 anos a 20 anos. Somente 6% tem mais de 61 anos e os de 51 anos a 60 anos correspondem a 9%.

A enfermeira responsável pelo setor da psiquiatria, Eliane Miranda dos Santos, explica que o tempo mínimo de internação é de 15 dias. O aumento no período de internação ocorre somente mediante decisão judicial onde o juiz pode solicitar que a pessoa fique de 30 até 90 dias. Cada caso, segundo a enfermeira, é um caso.

Em cada leito são colocadas as fichas com nome do paciente e classificação. (Foto: Osmar Veiga)
Em cada leito são colocadas as fichas com nome do paciente e classificação. (Foto: Osmar Veiga)

A internação no setor é compulsória, ou seja, as pessoas em tratamento são enviadas por familiares ou pelo próprio Estado. O HRMS dispõe atualmente de 12 leitos, sendo que dois deles são separados para o público feminino que é minoria no perfil de internações. Independente do recorte de gênero, os internados são atendidos pelo mesmo protocolo, sendo o único fator diferente a medicação que irá variar conforme a necessidade clínica da pessoa.

O tratamento gratuito garantido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), conforme a enfermeira do setor, também garante o serviço de vários profissionais. “Além do atendimento medicamentoso nós temos uma equipe multidisciplinar que tem serviço social, terapia ocupacional, educadora física e psicologia que é muito importante”,fala.

No período em que os pacientes estão no processo de desintoxicação é permitida a visita de familiares. Esse contato, segundo Eliane, ajuda no tratamento já que muitos se sentem solitários no lugar. “No período de desintoxicação eles ficam muito ansiosos. Alguns chegam aqui com o transtorno mental até pelo uso da droga ou comportamental,  então a gente pede muito apoio da família nesse primeiro momento”, afirma.

Em processo de desintoxicação, homem caminha pelo ambiente externo do setor.  (Foto: Osmar Veiga)
Em processo de desintoxicação, homem caminha pelo ambiente externo do setor.  (Foto: Osmar Veiga)

O setor - Da porta principal aos leitos só é preciso dar alguns passos pelo curto corredor. Nesse caminho apenas fichas de identificação revelam quem são as pessoas que por 15 dias ou mais ficarão limpas sem consumir drogas ou álcool.

No dia que a visita visitou o setor, as fichas das mulheres tinham o ano de nascimento das internadas: 2004. As mulheres de 20 anos tem como vizinhos pacientes de 31 anos, 37 anos e 38 anos. O último é o mais velho dos que estão em desintoxicação.

A idade de 20 anos está longe de ser o perfil mais novo de internados. A enfermeira expõe que a psiquiatria já recebeu menores e o mais novo deles tinha 12 anos. O menino foi enviado para o hospital público a pedido do juiz que impôs internação compulsória por mais de 30 dias.

Fitas decorativas são resquícios de festa julina, ao fundo mulher caminha no corredor. (Foto: Osmar Veiga)
Fitas decorativas são resquícios de festa julina, ao fundo mulher caminha no corredor. (Foto: Osmar Veiga)

A criança tinha histórico de álcool e drogas e após o período de internação recebeu alta e foi levado para uma casa de acolhimento. Na mesma madrugada, a enfermeira recebeu uma ligação onde foi avisada que o menino fugiu do lugar e morreu de overdose de drogas.

Outro caso lembrado por ela também é de um menino de 12 anos que veio do interior do Estado. No período que ficou na psiquiatria, ele completou 13 anos e saiu do hospital para uma clínica onde segue em tratamento desde então.

Eliane comenta que o perfil dos menores é sempre o mesmo: Eles vêm de lares desestruturados e a maioria também não está estudando. “Me sensibiliza porque é muita criança para estar com histórico tão pesado de drogas”, diz. Outra situação que ocorre envolve famílias, que em períodos diferentes, são atendidas no lugar devido ao envolvimento com drogas ou vício.

Na parede, calendário com ilustrações marcam os dias de internação. (Foto: Osmar Veiga)
Na parede, calendário com ilustrações marcam os dias de internação. (Foto: Osmar Veiga)

Enquanto a enfermeira conversa com a reportagem alguns dos internados transitam pelas áreas comuns de convivência, assistem televisão na sala, permanecem no ambiente externo que permite um “banho de sol” e outros dormem nas camas. Ao contrário do que se pode imaginar, o ambiente é tranquilo e, por vezes, bem silencioso.

Tem dias que esse silêncio é rompido por alguma comemoração. Quando o paciente completa mais um ano de vida, o setor faz uma pequena festa. As comemorações também acontecem em épocas como o mês de julho marcado pelas festas julinas. O setor ainda está com resquícios de decoração, fitas coloridas nas paredes que, a pedido dos próprios pacientes, não foram retiradas.

A decoração contrasta com um calendário na parede que no dia marca 26 de julho. O objeto é um dos que têm atenção dos internados que contam os dias para ir embora. Dali, eles são encaminhados para o Caps (Centros de Atenção Psicossocial) onde dão continuidade ao tratamento, porém, alguns sequer procuram o atendimento.

No fim, eles retornam ao lugar de partida que a internação compulsória. “Eles saem com encaminhamento para dar continuidade ao tratamento laboratorial, mas eles não vão à consulta. Geralmente dão entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e a UPA solicita retorno para cá. Eles voltam novamente”, explica a enfermeira.

Apesar da reincidência existem dois em 12 casos onde o internado não volta a consumir drogas ou álcool. O número é baixo, porém indica que pelo menos duas pessoas conseguiram ficar limpas sem precisar de qualquer internação compulsória.

Além do HRMS, outros hospitais públicos de Mato Grosso do Sul oferece tratamento gratuito para os pacientes em Costa Rica, Dourados, Paranaíba e Aquidauana.

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