Pantaneiros esperam seca menos drástica com as chuvas de abril
Rio Paraguai sobe lentamente na planície, esperando as águas do Norte

A Embrapa Pantanal ainda não divulgou os prognósticos que faz anualmente sobre o comportamento das águas na bacia do Rio Paraguai, porém quem vive no Pantanal tem a sua própria leitura climática baseada na convivência com o lugar. Para os pantaneiros, tem chovido mais este ano com o acumulado de abril, em relação às estações passadas, e em grande parte do bioma a seca deverá ser menos severa do que em 2024.
RESUMO
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Os pantaneiros esperam uma seca menos severa em 2025 devido às chuvas inesperadas de abril, que têm elevado os níveis dos rios e nutrido o pasto no Pantanal. Em 2024, a região enfrentou uma seca extrema, com grandes incêndios florestais. Este ano, as chuvas dispersas desde o final de 2024 têm trazido esperança de menos incêndios, apesar de inevitáveis. Regiões influenciadas pelos rios Miranda, Negro, Aquidauana e Taquari receberam muita água, o que pode atrasar a seca. O Rio Paraguai, em Cáceres, atingiu 4,54m em fevereiro, acima da máxima de abril de 2024. O Instituto Homem Pantaneiro vê as chuvas como uma oportunidade para preparar melhor a região contra o fogo.
As precipitações, desde o final do ano passado, têm ocorrido de forma dispersa em todo o Pantanal, as chamadas chuvas de manga, elevando os níveis dos rios, nutrindo o pasto e ressurgindo baias e vazantes, que há muito não recebiam água. Este seria o diagnóstico empírico do pantaneiro, para quem, na pior das hipóteses, os focos de incêndios serão inevitáveis, mas com menor intensidade, por conta da chuva imprevisível de abril.
“O ano estava caminhando para mais uma seca braba com a pouca chuva registrada até março”, comenta o pecuarista Gilson de Barros, vice-presidente do Sindicato Rural de Corumbá. “Mas essa chuvarada abençoada e não esperada em abril deve reduzir e atrasar a seca, que não ocorrerá em todo o Pantanal. Muitas regiões, com influências dos rios Miranda, Negro. Aquidauana e Taquari, pegaram muita água, o que vai refletir no Rio Paraguai”, pontua.

Uma “aguinha” - A distribuição das águas não é uniforme no bioma. No Paiaguás, parte alta – ao Norte de Corumbá, entre o Taquari e a divisa com Mato Grosso – tem “caído uma aguinha”, informa o fazendeiro Manoel Martins, que tem propriedade na região. Mais acima, já no estado vizinho, a chuva foi volumosa, com o Rio Paraguai atingindo a cota de 4,54m em fevereiro, em Cáceres, acima da máxima (3,86m) de abril de 2024 e inferior a de 2023 (5,47m, em março).
Em 2024, a bacia do Rio Paraguai registrou o menor volume de chuva da sua série histórica, com uma precipitação média anual de apenas 702 milímetros, semelhante à encontrada em regiões de clima semiárido no país. Foi um ano de seca extrema e grandes incêndios florestais, queimando 2,6 milhões de hectares no Pantanal, segundo dados do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
“Alguns pesquisadores estão esperando chuva até maio. O sistema das águas no Pantanal mudou nos últimos anos, não me lembro de ouvir falar em chuva de abril”, observa Manoel Martins, 80.

Menos fogo - Os temporais na borda do Pantanal, há uma semana, atingindo regiões de influência dos rios Aquidauana e Miranda, devem causar pequenas inundações na planície da Nhecolândia (entorno do Passo da Lontra, em Corumbá, onde o Rio Abobral está seco). Os dois afluentes estão em níveis de alerta, acima de 6m. Em Porto Murtinho, um dos municípios que recebeu a volumosa chuva, o Rio Paraguai subiu 88cm em seis dias e está em 4,20m nesta quarta-feira.
Em Ladário, onde fica a régua usada como parâmetro de cheia/seca, o Rio Paraguai sobe lentamente e está em 2,20m, depois de atingir o pior nível (-0,69cm) já registrado, em outubro de 2024. Nessa região, o comportamento do rio reflete as chuvas que ocorreram nas cabeceiras, em Mato Grosso, e previsões apontam que o pico na régua de Ladário pode chegar a 3m, em junho. Em cinco anos, exceto em 2023, o nível do rio nesse ponto foi inferior a 2,64m.
O presidente do Instituto Homem Pantaneiro, ong que faz a gestão de unidades de conservação na Serra do Amolar, Ângelo Rabelo, tem um prognóstico positivo para o Pantanal. “Estamos sendo surpreendidos com chuvas em abril, já um volume maior em cinco anos, o que evidencia uma resposta diferente do esperado da natureza, nos dando oportunidade de preparar melhor. Podemos ter inundações, o que ajudaria a amenizar os riscos do fogo”, disse.