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Capital

"Ambição levou a tudo isso", diz irmão sobre morte de major da PM

Primeira testemunha ouvida no julgamento, irmão de major disse que ninguém da família apoiava relacionamento

Paula Maciulevicius Brasil e Aletheya Alves | 23/06/2021 12:43
Testemunha ouvida é Valdeci, irmão do major Valdeni Lopes Nogueira, morto em 2016. (Foto: Marcos Maluf)
Testemunha ouvida é Valdeci, irmão do major Valdeni Lopes Nogueira, morto em 2016. (Foto: Marcos Maluf)

"A ambição foi o que levou a tudo isso, a essa tragédia". A fala é do irmão do major morto pela mulher. Valdeci Alves Nogueira foi a primeira testemunha ouvida no tribunal do júri que vai condenar ou absolver a tenente-coronel Itamara Romeiro Nogueira por ter matado a tiros o marido, major Valdeni Lopes Nogueira em julho de 2016.

Questionado se o major alguma vez falou do acordo que existia com a mulher de um casamento de aparências, no qual o foco era promoção na carreira dentro da Polícia Militar, o irmão respondeu que sim, que a família sabia do que ele havia planejado.

"As duas famílias são pobres, os dois construíram carreira, salário pelo esforço deles", disse o irmão. Valdeci também contou que Itamara chegou a dizer que se um dia o casal terminasse, ele sairia só com a roupa do corpo, porque ela não aceitaria ele com mais ninguém.

Sobre ameaças, o irmão do major contou que a família sabia de constantes brigas entre o casal e que a tenente coronel chegou a colocar uma pistola na cabeça do marido. "E isso voltou a acontecer, não sei o motivo, mas sempre houve discussão. Minha mãe falou para ela: 'não faça mal para o meu filho, porque seus olhos dizem que você é capaz de matar'", relata Valdeci.

Itamara participa do júri por vídeo-conferência por enquanto. (Foto: Marcos Maluf)
Itamara participa do júri por vídeo-conferência por enquanto. (Foto: Marcos Maluf)

Ainda segundo o irmão, a mãe deles teria dito à nora que criou filho para nunca brigar com mulher. "Se for fazer isso é melhor separar, deixa meu filho livre se ele quiser separar. Você é uma mulher bonita, nova, tem posição e dinheiro. Mas ela disse para a minha mãe que não", contou.

O último contato entre os irmãos aconteceu uma semana antes do major morrer e foi por telefone. "Ele me ligou pedindo para que falasse com a Itamara, porque algo havia dado errado. Ele estava com medo e assustado", falou Valdeci no tribunal.

Entre os anos de 2014 e 2015, o irmão contou que o casal recebeu a mãe do major para um tratamento médico e que a mãe teria visto o filho dormindo no chão. Ao questionar a neta, ouviu que "aquilo era normal".

"E isso choca a família. Ele desconversou, não se justificou", relembra Valdeci.

A família ainda conta que o Valdeni tinha o sonho de ser cantor e que estava investindo na carreira, inclusive já havia gravado um clipe e um CD. "Ele disse que estava fazendo alguns shows, desde cedo tocava bateria, teclado. E ele falava que ia sair como tenente coronel e se aposentar para se lançar na carreira de cantor, que estava cansado de tudo isso e que ia ajeitar a vida", citou Valdeci.

A surpresa maior da família, segundo o irmão do major, aconteceu quando o casal se separou e depois voltou dentro de um intervalo de dois meses.

Irmão diz que brigas eram constantes e que havia pedido da família para que tenente coronel não matasse o marido major. (Foto: Marcos Maluf)
Irmão diz que brigas eram constantes e que havia pedido da família para que tenente coronel não matasse o marido major. (Foto: Marcos Maluf)

"Quando ele separou, minha mãe me ligou e contou, depois ligou de novo chorando e dizendo que eles tinham voltado. Aí ela disse: 'ela vai matar meu filho'. Minha mãe sentia isso, e quando houve a morte, ela falou que o que mais temia aconteceu", completa Valdeci.

O irmão também reforçou que o major comentava com os familiares sobre separação e que o casal brigava muito. "Foi uma surpresa quando eles voltaram, a filha sempre foi o motivo para voltar e também pela ambição", resume Valdeci.

Dia da morte -  Para o irmão, o crime foi premeditado, porque o casal iria viajar para Maceió e a filha não estava em casa. "Para mim, isso foi planejado, ela levou a filha para a casa da mãe. Ela planejou a morte, foi planejado, ela tem conhecimento da arma, do poder e o que causa nessa parte do corpo. A munição .40 ninguém vai resistir", falou Valdeci.

A família ficou sabendo da morte quando um parente ligou dizendo que tinha visto a notícia. "Vi e falei: 'infelizmente chegou onde não deveria'", recorda.

Depois que ficaram sabendo, os familiares ainda tentaram entrar em contato com a tenente coronel. Ainda em depoimento, Valdeci questiona que se havia histórico de agressão da parte do irmão contra a cunhada, porque não tinha nenhum registro de boletim de ocorrência?

"Ela nunca disse que era agredida, nunca falou para a nossa família", completa Valdeci.

A família também contesta a versão de legítima defesa e diz que se fosse assim, o tiro teria sido na perna. "E ninguém viu a arma dele, no momento ele estava desarmado", falou o irmão.

Com seguro de vida tendo a esposa como beneficiária, casa avaliada em R$ 1 milhão, apartamento e outros imóveis, além de carro, caminhonete e motocicleta, os familiares do major acreditam que foi ambição.

"Estamos honrando a memória dele. Tudo isso foi gerado por ambição e todo benefício está com ela".

Julgamento - O júri começou às 8h33 desta quarta-feira (23) quase cinco anos depois do crime. Itamara Romeiro Nogueira matou o tiros o marido durante uma briga na casa em que moravam, no Bairro Santo Antônio.

O júri deveria ter acontecido em junho do ano passado, mas na ocasião, a pandemia do coronavírus suspendeu atividades presenciais do Poder Judiciário e a data foi reagendada para esta quarta-feira, dia 23 de junho de 2021, com várias medidas de restrição para impedir a contaminação do Covid-19.

Julgamento segue acontecendo no Tribunal do Júri, na Capital. (Foto: Marcos Maluf)
Julgamento segue acontecendo no Tribunal do Júri, na Capital. (Foto: Marcos Maluf)

Advogado desde o início do caso, José Roberto Rodrigues da Rosa adiantou que a defesa vai seguir o proposto desde o primeiro momento, de que a tenente-coronel atirou para se defender das agressões.

Serão ouvidas pelo menos outras quatro testemunhas do lado de Itamara: o delegado da Polícia Civil que atendeu o caso à época, Cláudio Zotto, major da PM Mário Ângelo Ajala, coronel da PM Neidy Nunes Barbosa Centurião, e coronel da PM Jonildo Theodoro de Oliveira.

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