Projeto leva orientação sobre uso do esgoto e melhora indicadores de saúde
Iniciativa em cidade da fronteira reduz extravasamento da rede e casos de dengue e chikungunya
O agente de endemias Anderson Santana começa o dia cedo no bairro São Bernardo, em Ponta Porã, cidade localizada na fronteira de Mato Grosso do Sul. Além das atividades de rotina, ele passou a ter uma nova missão: orientar os moradores sobre o uso correto da rede de esgoto. A tarefa faz parte do projeto Saúde, Saneamento e Meio Ambiente, promovido pela Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul), em parceria com a prefeitura.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Em Ponta Porã (MS), um projeto inovador da Sanesul, em parceria com a prefeitura, está transformando a relação dos moradores com o saneamento básico. Agentes comunitários de saúde e endemias foram capacitados para orientar a população sobre o uso correto da rede de esgoto, impactando positivamente os indicadores de saúde e meio ambiente. A iniciativa, de baixo custo, resultou em queda expressiva nos extravasamentos de esgoto e nas notificações de doenças como dengue e chikungunya. O sucesso do projeto, baseado na educação e prevenção, já lhe rendeu prêmios nacionais e serve de modelo para outros municípios. A simplicidade da abordagem, aliada à confiança construída pelos agentes, demonstra o poder da informação na promoção da saúde pública e na preservação ambiental.
“Informação sempre é bem-vinda. A gente explica que não pode jogar borra de café na pia, nem óleo ou papel higiênico no vaso. Muita gente ligava a calha da chuva no esgoto, o que sobrecarrega a rede. Com orientação, param de fazer isso. E como já temos confiança das pessoas, o diálogo flui”, resume Santana.
Ele não está sozinho nessa missão. Desde junho do ano passado, 220 agentes comunitários de saúde e de endemias passaram por capacitação oferecida pela Sanesul, com apoio da prefeitura. O objetivo: incluir o tema saneamento nas visitas de rotina.
A estratégia deu certo. Dez meses após a implantação, os indicadores mostram queda de 19% no número de extravasamentos de esgoto e de 12% nas ocorrências nas ruas, muitas vezes causadas pelo uso incorreto da rede. O comparativo considera o período de julho de 2023 a abril de 2024 (antes do projeto) com os mesmos meses entre 2024 e 2025 (já com a ação em curso).
Na saúde pública, os resultados são ainda mais expressivos. Houve redução de 97% nas notificações de dengue e chikungunya, considerando as 16 primeiras semanas epidemiológicas de 2024 em relação ao mesmo período de 2025. Casos de outras doenças também caíram 11%, segundo a prefeitura.
Além do contato direto com os agentes, os moradores recebem panfletos e cartilhas com orientações práticas. Maria Luiza Ovedo, moradora do bairro São Bernardo, elogia a iniciativa. “Depois que os agentes passaram a visitar com mais frequência, a gente ficou por dentro do que pode e não pode fazer. Aprende muita coisa”, conta.
Outro agente, Oscar Cuevas, diz que a receptividade nas casas tem sido positiva. “Sou bem recebido, graças a Deus. As pessoas têm muitas dúvidas, principalmente sobre água da chuva e descarte de óleo. Aprendi bastante e passo isso adiante. A missão é prevenir”, afirma. Formado em Direito no Paraguai, ele usa o conhecimento jurídico para enriquecer o trabalho com saúde pública.
O projeto tem custo praticamente zero. Os próprios agentes da rede municipal, já em atividade, são os responsáveis pela orientação — e o único investimento foi em capacitação e material impresso.
“O projeto surgiu da necessidade de educar a população. Unimos esforços da Sanesul, da PPP MS Pantanal e da prefeitura. Cerca de 90% dos extravasamentos de esgoto ocorrem por mau uso da rede. Quando falamos em saneamento, estamos falando em saúde”, explica Célio Poveda Filho, gerente regional da Sanesul.

A iniciativa, que começou como piloto, agora é permanente. Os 220 agentes continuam orientando moradores nas visitas regulares, reforçando a importância do uso correto do esgoto.
“O projeto não vai parar. Informação precisa ser repetida até fazer parte da rotina. É uma parceria de sucesso com o Governo do Estado e a Sanesul. E o impacto na saúde é direto”, afirma o secretário municipal de Saúde, Daniel Lima Kayatt. Segundo ele, a redução do extravasamento nas ruas também diminui os focos do mosquito da dengue, que encontra menos água acumulada em períodos de chuva.
Com bons resultados e baixo custo, o modelo já é considerado referência. “É uma proposta que pode ser replicada em outros municípios. Já discutimos isso com secretários e diretores da Sanesul. É um projeto baseado em conversa, informação e prevenção”, reforça Kayatt.
A experiência já rendeu reconhecimento nacional. O projeto foi premiado em 3º lugar na categoria Meio Ambiente do Prêmio Nacional Universalizar e conquistou o 2º lugar no III Prêmio Ipê Amarelo de Meio Ambiente, do CREA-MS (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso do Sul).
Para as autoridades envolvidas, a principal conquista é fazer o tema do saneamento chegar de forma acessível às famílias. Com confiança e proximidade, os agentes têm papel essencial no fortalecimento da saúde pública e do cuidado com o meio ambiente.