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Capital

Ambulantes que dependem de usuários de ônibus perdem 3 dias de renda

Vendedores apoiam paralisação dos motoristas, mas sentem impacto no orçamento de casa

Por Ana Paula Chuva e Maria Gabriela Arcanjo | 17/12/2025 08:47
Ambulantes que dependem de usuários de ônibus perdem 3 dias de renda
Custódia está usando as "economias" para evitar atrasar contas (Foto: Marcos Maluf)

Com o terceiro dia de greve do transporte coletivo e os terminais fechados, vendedores ambulantes estão precisando recorrer às economias para conseguir manter o orçamento familiar. Na frente do Terminal Bandeirantes, na manhã desta quarta-feira (17), Custódia Palaquias, 62 anos, disse estar triste com toda a situação, mas entende que os motoristas precisam do salário também.

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A greve do transporte coletivo em Campo Grande, em seu terceiro dia, afeta diretamente vendedores ambulantes e comerciantes que dependem do fluxo de passageiros. Nos terminais fechados, trabalhadores informais relatam queda nas vendas e necessidade de recorrer a economias guardadas para as festas de fim de ano. O impacto econômico atinge estabelecimentos do centro da cidade, com prejuízos que chegam a R$ 1,5 mil por dia. Comerciantes registram quedas de até 88% nas vendas e enfrentam custos adicionais com transporte de funcionários por aplicativos, enquanto alguns consideram fechar as portas devido à situação.

Ao Campo Grande News, Custódia, conhecida como “Dona Sol”, relatou que falta honestidade com os motoristas do Consórcio Guaicurus, mas que está revoltada com a situação porque conta com o dinheiro das vendas diárias para sobreviver.

“É triste olhar aqui fechado. A gente tem que trabalhar. Tem que pagar conta. Eu conto com o dinheiro dessas vendas para sobreviver. O motorista trabalha e precisa do pagamento também para colocar comida na mesa. Estou revoltada”, disse a vendedora.

Segundo a idosa, para evitar atrasos com a falta de renda, ela recorreu ao dinheiro que havia guardado para as festas de fim de ano e está economizando no que pode em casa.

“Aquele dinheirinho que a gente guardou para o  Natal já estamos gastando agora. Estamos economizando água e energia também porque não sabemos até quando vai durar, mas os motoristas não têm que voltar a trabalhar se não receber”, afirmou Custódia que fica no terminal todos os dias das 5h às 12h.

Assim como ela, vendedor ambulante de 52 anos que prefere não de identificar, ficou bastante triste e preocupado com a situação. O homem que já trabalhou como cobrador no transporte coletivo por cinco anos  chegou a chorar enquanto conversava com a equipe de reportagem.

Ambulantes que dependem de usuários de ônibus perdem 3 dias de renda
Terminal Bandeirantes fechado e sem movimento nesta quarta-feira (Foto: Marcos Maluf)

“Nunca vi um negócio desses. Não tem outra explicação a não ser má administração. É o terceiro dia, eu dependo dessas vendas. Estou me virando com o dinheiro que tenho guardado, mas na próxima semana não sei o que vai ser”, desabafou o homem com os olhos cheios de lágrima.

Para ele, Campo Grande já devia ter outra empresa de ônibus e, apesar da queda nas vendas, ele apoia a paralisação dos motoristas. “Eu já fui um deles. Enquanto tiver monopólio, não vai mudar”, finalizou.

Em frente ao Terminal Aero Rancho, o dono da Pitstop Chiparia, Cláudio Luiz, 55 anos, contou que a maioria das vendas é para usuários do transporte coletivo e com a greve o movimento caiu aproximadamente 50% no período da manhã.

“Se continuar, vamos ter que fechar e investir em outra coisa. Eu era vendedor ambulante, vendia dentro e fora dos terminais e ai surgiu a oportunidade e abri a loja tem um mês. Eu tô segurando e vendo até onde dá para ir”, pontuou o comerciante.

Vale lembrar que as cantinas que ficam dentro dos terminais também estão fechadas por conta da greve.

Ambulantes que dependem de usuários de ônibus perdem 3 dias de renda
Claudio era ambulante e abriu chiparia em frente ao terminal há 1 mês (Foto: Marcos Maluf)

Prejuízo – Na região central, quem depende do fluxo do transporte coletivo para vender salgados está procurando alternativas para reduzir o prejuízo que se aproxima dos R$ 1,5 mil por dia, inclusive dispensando funcionários que não tem como chegar ao trabalho.

No Rei do Pastel, localizado Rua 14 de Julho, Frank Willian Balbuena, de 25 anos, contou que em dias normais, só no primeiro horário da manhã, a loja costuma vender cerca de 90 pastéis, além de bebidas, cafés e salgados assados. Nesta quarta-feira, até às 7h, segundo o comerciante, não foram vendidas nem dez unidades. Uma queda de 88%.

Além disso, o empresário disse que o custo operacional aumentou, já que os três funcionários da loja dependem de ônibus para chegar ao trabalho. Para não fechar as portas, Frank passou a pagar corridas por aplicativos.

“A média está dando uns R$ 120 por dia só de Uber”, conta. Ontem, por causa da chuva, os valores ficaram ainda mais altos, chegando a R$ 50 em uma corrida do bairro Caiobá até o Centro. As plataformas mais usadas têm sido Uber, 99 e InDrive, mas a espera também aumentou. “Teve corrida que demorou até 20 minutos para alguém aceitar.”

Na Avenida Afonso Pena, Felipe Eurípedes,  responsável pela produção na Cantão estima que o movimento da manhã caiu cerca de 70%. “Muita gente desce no ponto da Rua 14 de Julho ou da Afonso Pena, passa na Ary Coelho e vem pegar um salgado. Sem ônibus, isso praticamente não acontece”, explica.

Ambulantes que dependem de usuários de ônibus perdem 3 dias de renda
Felipe reduziu produção para evitar prejuízo nos dias da greve (Foto: Marcos Maluf)

Segundo ele, a loja precisou controlar a produção para reduzir o prejuízo e o desperdício. “Ontem sobrou salgado, geralmente não sobra nada”, relatou. Inclusive para manter as vendas, funcionários chegaram a ir para a frente da loja para tentar atrair clientes.

“Tá sendo um desafio, a gente tá chamando quem passa.” Após as 15h, o movimento melhora um pouco, impulsionado pelo horário de almoço, que teve queda menor. “Por ser dezembro, a gente não esperava isso.”

Funcionária de outra loja de salgados na Avenida Afonso Pena, Mabiane de Souza, 29 anos, afirmou que acreditavam que o movimento aumentaria por conta das compras de fim de ano, mas as expectativas foram quebradas com greve dos motoristas.  “Essa semana ia ser mais correria, mas com os ônibus parados complicou”, resume.

Ambulantes que dependem de usuários de ônibus perdem 3 dias de renda
Frank vendia 90 pastéis no primeiro horário e redução foi de 88% com greve (Foto: Marcos Maluf)