Aos 4 anos, Aldeia Paravá sentiu pandemia como quebra de rituais
Cancelada em abril, única comemoração coletiva da comunidade ficou como esperança para 2021
Fotos do último ritual coletivo, que remete às tradições indígenas terena, ficam na memória como ansiedade por um 2021 melhor na Aldeia Paravá, localizada entre o Bosque Santa Mônica e Vila Bordon. Em abril, a única festividade tradicional foi cancelada devido à pandemia do novo coronavírus.
Enquanto o coronavírus segue como realidade, o cacique Silvio Hotencio Fialho Terena, de 43 anos, explica que o dia 19 de abril, em que é celebrado o Dia do Índio, foi frustrado em 2020 e fica como esperança para o próximo ano. Desde 2016, quando a aldeia foi fundada, essa é a única data comemorada de forma tradicional, de acordo com Silvio.
Os rituais de preparação começam a ser iniciados duas semanas antes do dia 19 com treinamentos e estruturação das atividades, que são centradas em danças. Conforme explicado por Silvio, ainda sem matéria-prima disponível por aqui, os elementos que irão compor as roupas são encomendados de aldeias localizadas na região de Aquidauana.
Se você pedir para eu fazer alguma coisa agora não consigo, precisamos pedir de lá. Pedimos material e fazemos, cortamos, pintamos. Dá diferença na festa porque aqui é cidade, Silvio explica.
Enquanto a expectativa para o próximo ano continua firme, Silvio diz que o resgate e inclusão das práticas tradicionais vêm sendo trazidas de pouco a pouco para a aldeia que nasceu há pouco tempo. “Hoje são mais de 70 famílias aqui, quando começamos era difícil. Mas todo ano a gente faz essa comemoração, não é porque a gente tá na cidade que deixamos de ser índio”.
Relembrando de anos atrás, quando vivia na Aldeia Bananal em Aquidauana, o cacique destaca que cada um fazia os rituais semanalmente e que essa prática se torna difícil dividindo a região com outros bairros em Campo Grande. “Aqui o pessoal ficou meio acanhado porque é cidade. O ritmo daqui é bem diferente do ritmo da aldeia”.
Por aqui, todas as atividades são celebradas em um campo aberto e reúnem participantes de idades variadas. Preocupado com o cenário que já se aproxima, Silvio explica que a responsabilidade de manter a simbologia ativa enquanto processo coletivo recai sobre suas mãos.
“Para não acabar depende de mim, se eu deixar acabar, todo mundo vai esquecer. É minha responsabilidade não acabar. Para ser cacique é preciso entender o que é indígena”, diz.