Após repasse milionário, sindicato questiona futuro financeiro da Santa Casa
Médicos avaliam que aporte não garante próximos pagamentos e pede transparência
O Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) reagiu com cautela ao acordo firmado na noite de segunda-feira (29), no Ministério Público, que prevê o repasse de mais de R$ 54 milhões à Santa Casa de Campo Grande. Para o presidente da entidade, Marcelo Santana, a solução anunciada tem caráter apenas emergencial e não enfrenta o problema estrutural da instituição.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul manifestou preocupação com o futuro financeiro da Santa Casa de Campo Grande, mesmo após o anúncio de repasse de R$ 54 milhões à instituição. O presidente do sindicato, Marcelo Santana, considera a medida apenas emergencial e insuficiente para resolver problemas estruturais. A entidade defende fiscalização rigorosa dos recursos públicos e aponta falhas na gestão atual do hospital. Entre as principais pendências estão o pagamento do 13º salário aos funcionários CLT e honorários atrasados de médicos contratados como pessoa jurídica, alguns com débitos de até seis meses.
“Devido ao histórico desta gestão atual da Santa Casa, o Sindicato dos Médicos do Mato Grosso do Sul acompanha a situação com bastante cautela,” disse em texto enviado ao Campo Grande News nesta terça-feira (30). Segundo ele, os reiterados atrasos nos pagamentos expõem, há anos, médicos e demais profissionais a um cenário de insegurança financeira.
- Leia Também
- Santa Casa vai receber R$ 54 milhões em verba pública para pagar salários e 13º
- Médicos CLT da Santa Casa rejeitam proposta e acionam Justiça pelo 13º
Na avaliação do sindicato, o aporte de recursos resolve a crise imediata, mas não garante estabilidade futura. “Sabemos que a solução que foi discutida apenas resolve emergencialmente a atual calamidade pela qual a Santa Casa passa”, disse Santana, ao citar a falta de planejamento para o pagamento do 13º salário e o acúmulo de honorários em atraso de médicos contratados como PJ (Pessoa Jurídica), inclusive de especialidades essenciais para o funcionamento do hospital.
O presidente do Sinmed-MS foi ainda mais direto ao criticar a gestão da instituição. Para ele, a situação atual revela “a carência acentuada de capacidade técnica de administração que cerca a Santa Casa de Campo Grande atualmente”. A principal preocupação, segundo o sindicato, é se a diretoria conseguirá honrar os próximos compromissos.
“A grande preocupação que fica, e a total desconfiança que acompanha, é se esta diretoria será capaz de arcar com seus próximos compromissos de forma responsável”, afirmou.
Diante desse cenário, o sindicato defende fiscalização rigorosa e permanente do uso das verbas públicas repassadas ao hospital. Santana afirmou que esse acompanhamento deve ser institucional e multissetorial, com participação do Ministério Público, do MPT (Ministério Público do Trabalho), das secretarias estadual e municipal de Saúde, do Conselho Municipal de Saúde e das entidades representativas dos trabalhadores.
“Principalmente para que o contribuinte possa entender o que ocorre dentro da instituição de forma transparente, com o uso do recurso público que é repassado”, destacou.
O dirigente também apontou dois caminhos possíveis a partir dessa fiscalização. “Se o fato for o subfinanciamento da instituição, medidas de adequação devem ser tomadas e os recursos ajustados”, disse. “No entanto, caso o evidenciado seja o mau uso dos recursos públicos, os responsáveis devem ser responsabilizados”, completou.
Santana reforçou que o sindicato seguirá acompanhando o desdobramento do acordo com atenção redobrada e não descarta novas medidas judiciais. “O Sinmed-MS tomará todos os recursos legais caso não sejam cumpridos os anúncios da reunião realizada ontem entre a Santa Casa, representantes do Executivo e o Ministério Público”, afirmou.
Segundo ele, a expectativa imediata é a regularização do pagamento do 13º salário e dos honorários de médicos PJ, alguns com quase seis meses de atraso. “Esperamos que a atual situação do atraso do 13º seja resolvida e que os médicos PJ tenham seus honorários acertados de forma justa”, concluiu.
Crise - A declaração ocorre após o anúncio de um pacote de mais de R$ 54 milhões em recursos públicos para a Santa Casa de Campo Grande, envolvendo aportes do governo estadual, da prefeitura e de emendas da bancada federal.
Antes disso, médicos contratados como PJ haviam definido uma contraproposta para quitar salários atrasados, prevendo o pagamento de três competências em janeiro, duas em fevereiro e duas em março. Mesmo com o anúncio do aporte, a falta de detalhamento oficial sobre os valores e o histórico de atrasos mantêm a desconfiança das categorias.
Em paralelo, médicos contratados pelo regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) rejeitaram proposta da direção do hospital para pagamento tardio do 13º salário, e o sindicato informou que acionaria a Justiça para garantir a quitação imediata.


