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Capital

Com corda no pescoço, taxistas auxiliares tentam trazer Uber para MS

Esperança é que aplicativo ajude a melhorar a situação precária em que vive grande parte dos motoristas da capital

Chloé Pinheiro | 31/07/2016 10:23
Ponto de taxi em Campo Grande na manhã de domingo: motoristas buscam alternativas ao sistema imposto pelos donos de alvará. (Foto: Alcides Neto)
Ponto de taxi em Campo Grande na manhã de domingo: motoristas buscam alternativas ao sistema imposto pelos donos de alvará. (Foto: Alcides Neto)

Insatisfeitos com as condições de trabalho atuais, membros da Assotaxi (Associação dos Taxistas Auxiliares de Campo Grande), que reúne os condutores sem alvará próprio, se articulam para trazer o Uber à cidade. "Estamos agora na fase de acionar a diretoria do aplicativo em São Paulo", explica José Carlos Áquila, presidente da entidade.

Segundo ele, mais da metade dos 450 motoristas auxiliares afiliados à entidade está reunida para trazer o serviço, que conecta motoristas autônomos e passageiros e poderia resolver um problema antigo da classe. Há anos, a Assotaxi denuncia a existência de uma máfia de alvarás que, segundo a entidade, deixa o controle dos táxis da cidade na mão de poucas pessoas.

"Os alvarás não deveriam nem ser vendidos, já que se tratam de uma permissão para trabalhar, mas acabam na mão de poucos frotistas, que chegam a ter cinquenta carros em seu controle", relata Áquila. Os auxiliares esperam desde o começo do ano um aumento da frota da cidade prometido por diversos políticos.

"Temos que pagar alugueis que variam entre 170 e 235 reais por dia, dependendo da região, e muitas vezes o que ganhamos não é o suficiente nem para cobrir essa diária. Estou desde às sete da manhã na rua e só agora, oito da noite, consegui arrecadar minha diária, que é de R$ 180", relata um taxista da Associação que não quis se identificar. "De uns tempos para cá, caiu muito a nossa condição de trabalho", confirma o gestor.

O Uber, que exige apenas que o motorista já possua um sedã comprado a partir de 2009 e uma carteira de habilitação em dia, seria uma maneira de escapar das cobranças dos frotistas, como são chamados os donos dos alvarás pelos auxiliares, que iriam além do dinheiro.

José Carlos Áquila, presidente da Assotaxi, reclama das condições de trabalho dos taxistas da capital. (Foto: Chloé Pinheiro)
José Carlos Áquila, presidente da Assotaxi, reclama das condições de trabalho dos taxistas da capital. (Foto: Chloé Pinheiro)

O próprio José Carlos, por exemplo, está com a sua licença para conduzir táxis cassada desde 2014 por fraudes no pagamento das taxas da previdência. Segundo ele, a medida foi uma punição pela movimentação da associação. "Mais de 200 auxiliares estavam irregulares, mas só eu e mais dois dirigentes que denunciaram a máfia dos alvarás foram cassados", diz Áquila.

O dirigente descarta o risco de incidentes como os que ocorreram em São Paulo, quando taxistas vinculados ao sindicato chegaram a agredir motoristas e depredar carros ligados ao Uber. "Os auxiliares, que são mais de setecentos no total, são a maioria e são a favor", completa.

Chega ou não chega?

O gerente do Uber para a América Latina, Andrew MacDonald, afirmou em fevereiro para a Revista Exame que pretendia expandir o serviço somente para cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes -- Campo Grande possui pouco mais de 850 mil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A assessoria de imprensa do Uber disse não ter informações sobre a chegada da empresa à cidade morena. Mesmo assim, a empresa já é alvo de polêmicas. Em outubro de 2015, o vereador Marcos Alex (PT) criou um projeto de lei que proíbe a regulamentação do aplicativo e está atualmente em tramitação na Câmara Municipal de Campo Grande.

O legislativo estadual também tentou, em dezembro do ano passado, aprovar uma lei que proibia o transporte remunerado de passageiros em carros particulares em todo o Mato Grosso do Sul, mas a medida foi vetada pelo Governo do Estado.

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