Ultrapassada e restrita, reativação de radioterapia no HU pode ter pouco impacto
Após retorno com dois pacientes, número de atendimentos deve ser ampliado a partir desta semana
Depois da longa espera de quatro anos, a reativação da radioterapia do HU (Hospital Universitário) de Campo Grande pode ter pouco impacto no drama dos que enfrentam o tratamento de câncer pela rede pública.
Segundo o diretor-geral do hospital, José Carlos Dorsa Vieira Pontes, o aparelho de cobaltoterapia, que data da década de 1970, está ultrapassado e o tratamento é restrito.
“Não é indicado para todo tipo de câncer, depende da localização do tumor. Se for no tórax, não pode. A lesão no pulmão e no coração é maior que o efeito do tratamento”, afirma o diretor. Desta forma, o atendimento é indicado para tumores na cabeça, pescoço e mama.
Conforme José Carlos, a maior incidência entre os homens é de câncer no pulmão, enquanto as mulheres têm maior incidência de tumor na região pélvica, como colo do útero e ovário. Ele afirma que dentro de seis meses será possível dimensionar o impacto da reativação no número de atendimentos.
O setor voltou a funcionar em dezembro de 2011, com apenas dois pacientes. A partir desta semana, com o retorno de uma física que estava de férias, o número de atendimentos deve ser ampliado. O encaminhamento de pacientes é atribuição da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). Por enquanto, somente o Hospital do Câncer e a clínica Neorad, que tem contrato com a prefeitura, recebem os pacientes.
O retorno do atendimento foi uma exigência do MPF (Ministério Público Federal), que, em dezembro de 2010, identificou mais de 170 pessoas aguardando para fazer o procedimento.
Pressão - O diretor do HU relata que explicou as limitações do aparelho, mas foi pressionado pelo órgão federal. “Não houve esse entendimento por parte dessas entidades, o Ministério da Saúde, o Ministério Público”, salienta.
Ele explica que há vários aparelhos semelhantes em operação no Brasil. Enquanto que equipamentos mais modernos utilizam aceleradores lineares, neste caso, a radiação somente é produzida quando o aparelho é ligado a uma fonte de energia elétrica, tornando o procedimento mais seguro.
Conforme João Carlos, a demora de um ano para a reativação foi em virtude dos custos: R$ 300 mil para o equipamento e R$ 600 mil para reformas. O aparelho foi aprovado pelo Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Para 2012, o custo operacional previsto é de R$ 1 milhão.
Conforme auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre a política nacional de atenção oncológica na rede pública de saúde, Mato Grosso do Sul oferece um dos piores tratamentos do Brasil.
São atendidas 33,9% da demanda por radioterapia e 34,4% dos que precisam de cirurgias oncológica. Dentre os 26 Estados e o Distrito Federal, Mato Grosso do Sul fica à frente do Amapá, DF e Roraima. A realidade expressa pelos números é o oposto das orientações médica, de que quando mais rápido o diagnóstico e combate à doença, maiores as chances de cura.