Com Síndrome de Estocolmo, mãe de Sophia espera se livrar de acusação pela morte
Acusada do homicídio da própria filha, ela foi avaliada em 3 entrevistas por equipe de psicólogos de São Paulo
Até que ponto traumas e abusos emocionais podem paralisar as ações racionais de uma pessoa? Se o laudo emitido no último dia 28 de novembro for levado em conta no julgamento de Stephanie de Jesus da Silva, mãe da pequena Sophia de Jesus Ocampo, morta em 26 de janeiro do ano passado, a resposta será “totalmente”.
RESUMO
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Um laudo psicológico apresentado na defesa de Stephanie, acusada de homicídio culposo da filha, indica que ela sofre de Síndrome de Estocolmo, Transtorno de Estresse Pós-Traumático e Transtorno de Ansiedade Generalizada, além da possibilidade de Transtorno Depressivo Maior, decorrentes de um ciclo de violência doméstica perpetrado pelo seu parceiro. Os peritos argumentam que esses transtornos afetaram significativamente suas capacidades cognitivas e emocionais, paralisando-a e a incapacitando de proteger a filha, mesmo diante de sinais de agressão. O laudo sugere que Stephanie é, na verdade, uma vítima, apontando também a omissão do Estado no caso, e recomenda tratamento de saúde mental para ela.
Acusada de ser omissa ao ponto de permitir o assassinato da própria filha, ela foi avaliada em três entrevistas por equipe de psicólogos de São Paulo, que a identificaram com Síndrome de Estocolmo, além de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Transtorno de Ansiedade Generalizada e possibilidade de Transtorno Depressivo Maior, o que podem levá-la de homicida por omissão à vítima.
Pelo entendimento dos profissionais, contratados pela defesa de Stephanie, ela estaria dentro de um ciclo de violência perpetrado pelo então parceiro, Christian Campoçano Leitheim, acusado de ser o agressor das violências físicas que levaram a criança à morte.
Assinado pelo psicólogo Felipe De Martino Pousada Gomez, da Gomez Psi Consultoria, o laudo afirma que “Stephanie demonstra sinais de Síndrome de Estocolmo, levando-a a um vínculo confuso e manipulador com o agressor”.
O documento é apresentado nos autos do processo dias antes do início do julgamento, marcado para 4 de dezembro e pode ser decisivo na análise do caso pelos jurados. “Os adoecimentos mentais identificados, como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e a Ansiedade Generalizada, teriam impactado significativamente as capacidades cognitivas e emocionais de Stephanie”, enfatiza o laudo.
Ao citar a Síndrome de Estocolmo, o parecer assume que o transtorno não é formalmente reconhecido no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) ou no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), mas é caracterizado por sentimentos de simpatia ou apego emocional ao agressor após situações de cativeiro ou abuso prolongado.
O laudo ainda leva em conta a história pregressa de Stephanie, que tem 26 anos de idade. Ela seria oriunda de um ambiente familiar desestruturado, tendo sido abandonada pelos pais e criada pela avó, além de ter sido vítima de abusos do padrasto. Isso teria afetado “profundamente sua autoestima e capacidade de estabelecer limites saudáveis em relacionamentos futuros”.
Stephanie, acusada de omissão por não impedir a morte de sua filha, vivia sob intensa manipulação e coerção emocional, o que comprometeu severamente sua capacidade de agir. A Síndrome de Estocolmo e o controle psicológico exercido por Christian criaram um ambiente onde a resistência e a busca por ajuda eram psicologicamente inibidas. Assim, argumenta-se que Stephanie não tinha condições reais de exercer sua responsabilidade de proteção, estando ela própria em uma situação de vulnerabilidade extrema”, afirma o laudo.
Além de Gomez, ajudou na confecção do laudo e nas entrevistas feitas nos dias 23 de setembro e 18 e 25 de novembro deste ano com a ré, o estudante de psicologia forense, Cristian Jacinto dos Santos. Nelas, eles identificaram que “os adoecimentos mentais identificados (...) teriam impactado significativamente as capacidades cognitivas e emocionais de Stephanie”.
Também ressaltam que “a manipulação emocional e o ambiente coercivo em que vivia comprometeram sua capacidade de entendimento e determinação, limitando sua habilidade de agir de forma autônoma e racional”. Com isso, mesmo diante de sinais evidentes de agressões contra a filha, ela teria ficado paralisada, com medo, e incapacitada de fazer julgamentos sobre a situação.
Se o quadro se confirmar, já que o parecer recomenda mais exames e exames periciais judiciais, isso pode afastar Stephanie da acusação de possível premeditação do crime ou intencionalidade. “A presença de Síndrome de Estocolmo e outros possíveis transtornos emocionais limitaram sua percepção e resposta aos eventos, tornando-a uma vítima das circunstâncias tanto quanto Sophia”, asseveram.
O documento define ainda que a maior omissão foi do Estado, uma vez que, apesar da criança ter sido atendida em posto de saúde meses antes de morrer, já apresentando sinais de violência, nada mais foi feito para evitar o crime. Com isso, o laudo afirma que a acusada é vítima e precisa de um acompanhamento sério em saúde mental.
“Enquanto buscamos justiça, é crucial reconhecer que Stephanie é também uma vítima, necessitando de apoio e tratamento para sua recuperação. A verdadeira justiça será alcançada quando o sistema de proteção social for fortalecido, garantindo que nenhuma outra criança ou mãe passe pelo mesmo sofrimento. O foco deve estar na reabilitação de Stephanie e na implementação de mudanças que protejam efetivamente as crianças vulneráveis no futuro”, termina o laudo.
Outro lado – A defesa de Christian afirma que as alegações dos advogados de Stephanie têm objetivo de “afastar sua responsabilização do crime que figura autora”. “A defesa dela fez juntada de documentos tais como cartas, fotos, entre outros que, francamente, ainda serão analisadas pelos advogados que atuarão no caso – Pablo Gusmão, Renato Franco e Willer Almeida –, no júri próximo. Em depoimento, também perante o Juízo, Christian nega violência ou agressões contra ela”.
“A defesa de Christian, em relação ao processo, esclarece que no dia do julgamento espera que seja alcançado julgamento justo. Ressalta a importância do Tribunal do Júri, local em que se apura crimes dessa natureza e, após tanto tempo, será dado o veredicto ao caso”, completa a nota enviada à reportagem.
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